Um único Natal foi o suficiente para despedaçar o mundo de Olivia. A morte trágica de sua irmã gêmea — a pessoa que mais amava e que vivia para celebrar a magia natalina — deixou nela uma ferida profunda. Desde então, Olivia transformou o Natal em sua maior aversão, evitando qualquer lembrança daquela noite fatídica. Refugiada na solidão, ela jamais imaginou que encontraria apoio no homem mais irritante e provocador que já conheceu: O CEO Ethan Walker, seu vizinho de tirar o fôlego. Eles não se suportam, e fazem questão de deixar isso claro... mas o destino parece ter outros planos. Entre brigas, provocações e momentos inesperadamente ternos, Olivia descobrirá que talvez a cura para suas cicatrizes esteja onde menos esperava. Mas, para abraçar o futuro, ela terá que enfrentar o passado. E, quem sabe, permitir que o Natal volte a brilhar.
Leer másPONTO DE VISTA DE OLIVIA
Era a manhã de Natal, e as ruas de Nova York estavam cobertas por uma neve espessa e traiçoeira. No carro, a caminho da casa da minha melhor amiga, o aquecedor estava no máximo, mas o frio insistia em se infiltrar nos ossos. O céu tinha um tom de cinza profundo, e flocos de neve caíam sem cessar, encobrindo a paisagem.
Minha irmã gêmea, Ava, estava no banco do passageiro. Seus olhos, fixos na janela, pareciam perdidos em pensamentos distantes.
— E as coisas com o Marcelo? — perguntei, rompendo o silêncio pesado.
Ela suspirou, demorando a responder.
— Eu não aguento mais. Ele é... sufocante. Controlador. Às vezes sinto que não sei mais quem eu sou.
Desviei o olhar da estrada por um instante, buscando os olhos dela, mas Ava continuava perdida na neve lá fora.
— Ava, você precisa sair disso. Não é saudável. Você merece muito mais. — insisti.
Ela soltou uma risada curta e amarga, sem humor.
— Você acha que é tão simples? Ele sempre tem uma desculpa. Pede perdão depois... No fim, eu me sinto como se a culpa fosse minha.
Um aperto cresceu no meu peito. Ava e eu crescemos em um orfanato. Fugimos aos dezesseis anos e, desde então, somos apenas nós duas, cuidando uma da outra. Trabalhamos dia e noite para juntar dinheiro e realizar nosso sonho: abrir nossa própria padaria. Mas, por enquanto, tudo não passava de um plano distante.
Queria dizer algo que a confortasse, mas minha atenção foi tomada pela estrada. A neve se acumulava perigosamente. O carro escorregou de leve, e segurei o volante com mais força.
— Uau... Dirigir em Nova York no Natal é tenso. Muitos carros, muita neve... — murmurei, tentando aliviar a tensão. — Ava, é sério. A vida é curta demais para se prender a algo assim.
Ela se virou para mim, os olhos marejados.
— Você não entende, Olivia... Eu não consigo sair. Ele me faz sentir como se eu não fosse nada sem ele.
Antes que eu pudesse responder, o carro deu um solavanco brusco. O som dos pneus deslizando no gelo ecoou, e o volante não obedecia mais.
— Segura! — gritei, tentando retomar o controle.
O mundo girou ao nosso redor. O branco da neve virou um borrão, e o carro derrapou violentamente.
— Olivia! — Ava gritou.
Não tive tempo de reagir. Uma curva surgiu rápido demais. O carro saiu da estrada, deslizou por uma encosta e bateu com força contra uma árvore.
O impacto foi ensurdecedor: vidro estilhaçando, metal se amassando, o ar sendo arrancado dos pulmões.
Silêncio.
Minha cabeça latejava, e um gosto metálico de sangue invadiu minha boca.
— O que... o que aconteceu? — murmurei, ofegante.
Olhei para o lado, o coração disparado. Ava estava caída contra o cinto de segurança, o rosto pálido, respirando com dificuldade.
— Ava! — sussurrei, com a voz falhando. Toquei seu ombro. — Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui.
Seus olhos se abriram lentamente, e ela murmurou algo ininteligível. Lá fora, a neve continuava a cair, cobrindo o carro como um lençol branco.
Tremendo, tentei alcançar meu celular para pedir ajuda, mas meus olhos voltaram para Ava.
Ela não respirava mais.
— Aguenta, Ava! — implorei, o desespero rasgando minha voz. — Você não pode me deixar!
Minha cabeça latejou com mais força. Quando levei a mão à têmpora, a consciência começou a me abandonar.
Eu não podia perder minha irmã. Ela era o meu mundo.
O cheiro de antisséptico e álcool tomou conta de minhas narinas antes mesmo que meus olhos se abrissem. Tudo parecia distante, como se minha mente estivesse submersa em águas profundas. Um bip constante, ritmado, ecoava ao fundo. Uma dor surda se espalhava pelo meu corpo.
Aos poucos, a visão clareou, e reconheci o teto branco e estéril de um hospital. Ao lado da cama, alguns balões coloridos pareciam estranhos naquele ambiente.
"Onde estou?" me perguntei.
Piscaquei algumas vezes, tentando entender. Meu corpo parecia pesado, e algo apertava minha mão direita. Virei a cabeça lentamente e vi Sophie, minha melhor amiga, sentada ao lado da cama. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados. Ela segurava minha mão com medo de soltá-la.
— Sophie? — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro. A garganta estava dolorida.
Ela ergueu a cabeça na hora, o rosto oscilando entre alívio e apreensão.
— Você está acordada... Graças a Deus!
— O que... o que aconteceu? — Tentei me mover, mas uma onda de dor me fez desistir. — Por que estou aqui? Onde está a Ava?
Sophie hesitou. Naquele instante, eu soube que algo estava errado. Seus olhos desceram para nossas mãos entrelaçadas, e ela respirou fundo, como se buscasse coragem.
— É... difícil. Mas eu vou te contar, prometo. Só... tenta ficar calma, ok? — disse, apertando minha mão com mais força.
Eu apenas a encarei, esperando.
— Foi no Natal. Vocês estavam vindo para cá... para minha casa... Lembra? A neve estava muito forte... — Ela parou, os lábios trêmulos. — O carro derrapou.
Fragmentos começaram a voltar. A estrada coberta de neve. Ava no banco do passageiro. Os olhos marejados ao falar de Marcelo. O som do metal se esmagando.
Um nó se formou no meu estômago.
— Onde está a Ava? — perguntei com firmeza, apesar do medo. — Ela está bem? Diga que ela está bem, Sophie!
As lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela. Sophie sacudiu a cabeça, lutando contra as palavras. Então, com a voz baixa e quebrada, ela deixou escapar:
— Ela não resistiu, Olivia... Ava morreu no acidente.
O mundo parou. Minha mente se recusava a processar aquelas palavras. Era impossível. Ava não podia ter morrido. Éramos inseparáveis, duas metades do mesmo coração.
Tentei falar, mas nenhum som saiu. Apenas lágrimas quentes deslizaram pelo meu rosto, enquanto minha respiração acelerava.
— Não... não pode ser verdade. Eu estava lá... Eu devia ter feito alguma coisa!
Sophie se inclinou, me abraçando com cuidado, desviando dos fios e tubos conectados ao meu corpo.
— Não foi sua culpa, Olivia. Foi a neve, o gelo... foi um acidente. Você não podia evitar.
Mas suas palavras não alcançavam o abismo de culpa e vazio que se abria dentro de mim.
Ava estava morta.
Minha irmã gêmea.
Minha outra metade.
E eu estava viva.
Por quê?
Enquanto Sophie segurava meu rosto entre as mãos, tentando me acalmar, apenas uma pergunta ecoava em minha mente:
"Como seguir em frente sem ela?"
Quando Ethan e eu chegamos à padaria, fiquei surpresa ao ver como estava movimentada. O cheiro acolhedor de pão fresco e dos doces típicos de Natal se espalhava pelo ar, misturado ao burburinho alegre das vozes e ao tilintar de xícaras e talheres. Meu coração se aqueceu diante daquela cena: tantas pessoas reunidas em um dia tão especial, prestigiando algo que até pouco tempo atrás parecia apenas um sonho distante. Eu havia contratado uma equipe completa para me ajudar.Mas a verdadeira surpresa veio logo na entrada. Fomos recebidos por Claire e sua mãe, a Sra. Walker, ao lado do Sr. Dalton e de suas filhas, Lily e Emma. Todos sorriam, trazendo consigo uma energia calorosa que parecia iluminar ainda mais a manhã.— Feliz Natal! — Claire exclamou, me abraçando com entusiasmo depois de olhar ao redor. — A padaria ficou incrível, Olivia. Estamos tão felizes por você!— Feliz Natal, querida — completou a Sra. Walker, com a voz doce. — Ethan nos convidou para estarmos aqui hoje, e não poder
Ele abriu um sorriso torto, beijando-me novamente antes de responder, sua voz com um toque de brincadeira:— Agora não é hora de falar sobre Helena.— Só estou curiosa, Ethan.— Conversei com ela. — suspirou, sério. — Ela não vai ser mais um problema em nossas vidas.Houve um momento de silêncio antes que ele acrescentasse, com um suspiro profundo:— Eu sinto muito pela perda do bebê. Foi um choque para nós. Mas... — seus olhos começaram a brilhar suavemente — eu sei que, no futuro, se você quiser, podemos ter um monte deles juntos. E eles serão lindos. Assim como você.A ideia de criar uma vida com ele, de ver nossos traços misturados em pequenos rostos sorridentes, fez meu coração acelerar de uma maneira nova. Talvez, pela primeira vez, eu consegui deixar o passado para trás e olhar para um futuro brilhante com Ethan e tudo o que ele significa para mim.Meus olhos ficaram marejados, e antes que eu pudesse responder, ele me beijou novamente — desta vez com um carinho que parecia sela
Estava te esperando. Conseguiu resolver suas coisas?— Digamos que sim. Mas agora, é minha vez de cuidar de você. Venha, vou te ajudar a ir até a cozinha.Ethan levou sua mão até mim, e com cuidado ele me ajudou a levantar. Quando chegamos à cozinha, ele me guiou até uma cadeira e falou com um tom suave.— Sente-se aí. Hoje, você não vai fazer nada. O jantar é por minha conta.Ethan abriu um sorriso misterioso enquanto pegava algumas panelas e ingredientes.— Uma receita da minha avó. Ela sempre fazia isso na véspera de Natal. É simples, mas tem um sabor de infância.Enquanto Ethan mexia em uma panela, Max entrou pela porta da cozinha abanando o rabo alegremente. Ao vê-lo, meu coração deu um salto por saber que ele parecia bem. Era como se tudo o que tinha acontecido viesse à tona de uma só vez. As imagens de Marcelo atacando Max com aquela faca me invadiram, e por um momento, senti minhas mãos tremerem.— Ei, está tudo bem? Você parece... confusa.Eu olhei para Max, que agora estava
Ao entrar, fiquei sem palavras ao ver Sra. Walker, Sr. Dalton, suas filhas Lily e Emma, Sophie, e até Claire, todos trabalhando juntos para deixar o lugar perfeito. Claire estava ajustando alguns balões nas mesas, enquanto Emma colocava algumas luzes em algumas árvores para decoração. A Sra. Walker estava comandando tudo, como uma verdadeira líder, enquanto Sr. Dalton verificava a disponibilidade das mesas. É, agora eu sabia quem era o Sr. Dalton e sua filhas, Ethan me contou enquanto víamos para cá no carro, eu até fiz um lembrete em minha cabeça para agradecê-lo sobre tudo que ele fez para me resgatar das mãos do Marcelo.— Vocês estão... arrumando tudo? — perguntei, ainda em choque.— Liguei para todos. Achei que você poderia precisar de uma mãozinha — disse a Sra. Walker, com um sorriso orgulhoso.Eu jamais imaginaria que encontraria tanto apoio em pessoas que antes eram praticamente desconhecidas. Talvez o Natal realmente traga milagres. Ver todos aqui, unidos, decorando minha pa
Passei três dias inconsciente, mergulhada em um silêncio escuro e sem fim. Era como estar presa em um lugar onde o tempo não existia. Mas, quando finalmente abri os olhos, uma claridade suave me cegou por alguns segundos. O cheiro esterilizado, o bip ritmado das máquinas e o frio dos lençóis me disseram exatamente onde eu estava: em um hospital.Era véspera de Natal. A única luz intensa vinha da janela, iluminando o quarto de branco. Meus olhos demoraram a se ajustar, mas logo encontrei a cena que fez meu coração disparar. Ethan estava ali, sentado ao lado da minha cama, a cabeça apoiada perto da minha mão, como se tivesse desabado de cansaço enquanto me esperava. Seus cabelos estavam bagunçados, e havia sombras profundas sob seus olhos. Parecia não ter dormido ou comido direito em dias.Antes que eu pudesse chamá-lo, as lembranças voltaram como uma enxurrada: Marcelo, a arma, o som do tiro, o fogo queimando em minhas costas. Meu corpo se retesou e um gemido escapou dos meus lábios. E
Fui empurrada para um dos assentos estreitos e desconfortáveis do pequeno avião, e Marcelo se sentou ao meu lado. Seus olhos nunca se afastaram de mim, como se tivesse certeza de que eu tentaria escapar outra vez. O motor roncava alto, fazendo a cabine vibrar, e a pista começou a desaparecer pela janela conforme ganhávamos velocidade.Meu coração batia forte, não apenas pelo medo, mas também pela esperança de ver Ethan em breve. Será que ele viria sozinho? Ou teria arriscado chamar a polícia? O que Marcelo realmente pretendia?O avião subiu suavemente, e Marcelo recostou-se no assento, tenso, mas com um sorriso satisfeito, como se acreditasse que tudo estava sob controle. Eu, porém, sabia que o pior ainda estava por vir.Depois de cerca de uma hora, senti o avião perder altitude. Pela janela, uma imensidão verde surgiu — árvores sem fim, uma floresta densa que parecia engolir o mundo. Quando pousamos, o sol já despontava no horizonte, e o silêncio só era quebrado pelo canto distante d
Último capítulo