Na manhã seguinte, o sol invadia minha janela com uma força quase irritante, como se insistisse que aquele seria um novo dia — quer eu quisesse ou não. Fiquei um tempo sentada na beira da cama, respirando fundo, até tomar uma decisão: era hora de seguir em frente.
A padaria sempre foi o meu refúgio. O lugar que Ava amava tanto quanto eu, principalmente quando eu fazia meus bolos de chocolate com cobertura cremosa. Ela dizia que aquilo podia curar qualquer coração partido. Talvez fosse hora de tentar curar o meu.
Depois de um banho rápido e uma roupa confortável, dirigi até lá. Descer para a cozinha foi como reencontrar uma parte de mim mesma. O cheiro de farinha e baunilha me recebeu como um abraço antigo. Liguei a batedeira, misturei os ingredientes e, por alguns minutos, me senti inteira.
Foi então que ouvi.
Antes que pudesse verificar, um som pesado ecoou: patas arranhando o chão. Meu coração disparou. Em segundos, um animal imenso entrou correndo na cozinha.
— Ah, meu Deus! — soltei um grito, dando um pulo para trás e quase deixando o pote de farinha cair.
Era enorme. Pelagem grossa, olhos brilhantes, língua de fora... parecia sorrir para mim. Mas não era só um cachorro. Era grande demais. Um lobo.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei num sussurro nervoso.
Ele apenas abanou o rabo, feliz, como se tivesse acabado de encontrar seu novo parquinho. Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego.
— Ótimo... e onde está o seu dono? — murmurei, olhando a porta da cozinha entreaberta.
Saí apressada para o salão, pronta para reclamar com quem tivesse deixado um animal daquele tamanho solto.
— Olá? — chamei, a voz ecoando no espaço vazio. — Quem é o dono desse...
E então vi.
Ethan Walker.
Ele estava parado no meio do salão, jeans escuro, camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos, cabelo levemente bagunçado. Segurava uma coleira na mão. Seus olhos se arregalaram quando me viu.
— Olivia?
A raiva que eu carregava se dissolveu instantaneamente em surpresa e... vergonha.
— Ethan?
Por um momento, só o som das patas no chão preencheu o silêncio. O “lobo” veio alegre até ele e se posicionou ao seu lado, abanando o rabo como se tudo fosse perfeitamente normal.
— Espera... — ele apontou para a padaria ao redor. — Essa padaria é sua?
Cruzei os braços, ainda desconfiada.
Ethan olhou para o animal, depois para mim, como se tentasse juntar as peças.
— Max? — arqueei as sobrancelhas.
— Husky siberiano. Muita gente confunde com lobo. — Ele coçou a nuca, visivelmente constrangido. — Eu não fazia ideia de que você trabalhava aqui.
— Surpresa. — minha voz saiu carregada de ironia, mas no fundo eu estava tão surpresa quanto ele.
Ele riu sem jeito.
Olhei para o cachorro, depois para Ethan.
O sorriso dele cresceu, e meu coração se atrapalhou um pouco.
— Quer dizer, não faz muito tempo que encontrei o lugar da esquina — Ethan explicou, a voz leve, quase distraída. — Pra falar a verdade, sempre vi este aqui fechado.
Respirei fundo, sentindo um aperto no peito ao ter que admitir:
Olhei para Max, que agora estava sentado no chão, língua de fora, completamente satisfeito consigo mesmo, como se tivesse cumprido uma grande missão.
Tentei ignorar o fato de que Ethan — o mesmo homem que eu não conseguia tirar da cabeça desde a festa — era também dono de um cachorro tão descontrolado quanto... adorável.
— Posso compensar o transtorno que ele causou? — Ethan perguntou, o sorriso surgindo nos cantos dos lábios. — Ou talvez o Max possa... com uma carinha triste e um pedido de desculpas canino.
Balancei a cabeça, respirando fundo, mais para mim mesma do que para ele. O dia mal tinha começado e Ethan já estava bagunçando minha mente e... meu coração.
Antes que ele pudesse responder, o toque do celular quebrou o clima. Ethan olhou a tela, depois para mim, com uma expressão de desculpas, e atendeu.
Enquanto ele ouvia a voz do outro lado, observei sua expressão mudar. O olhar descontraído deu lugar a algo focado, preocupado. Ele lançou um relance para mim e depois para Max, que ainda balançava o rabo, alheio à seriedade do momento.
— Certo, já estou indo — disse ele, antes de desligar.
Com um suspiro contido, Ethan colocou a coleira em Max, que soltou um gemido baixinho de protesto, claramente sem vontade de sair dali.
Assim que a porta se fechou, soltei o ar em um longo suspiro, como se estivesse segurando a respiração desde que ele entrou. Finalmente sozinha.
Ou melhor... por exatamente dez segundos.
A campainha tocou, e meu coração quase parou achando que Ethan havia esquecido alguma coisa. Mas, em vez disso, vi Sophie entrar apressada, o rosto iluminado.
— Bom dia. — Sorri, suavizando a voz. — Como está sua mãe?
— Ainda debilitada, mas estamos levando. — A alegria dela diminuiu por um instante, e meu peito apertou por ela.
— Sinto muito, Sophie. Ela está bem agora?
— Melhor, sim. Mas ainda me preocupo. — Então seus olhos brilharam novamente. — Por isso estou tão feliz que o Ethan me escolheu para concorrer ao cargo de CEO.
Meus lábios se curvaram em um sorriso genuíno.
Ela sempre foi tão dedicada à mãe... saber que também tinha planos tão bonitos para o futuro aqueceu meu coração.
— Obrigada! — disse, animada. Mas logo estreitou os olhos para mim, cruzando os braços.
Senti meu rosto corar imediatamente.
— Eu vi o Ethan Walker saindo daqui... com o Max. — O tom dela era carregado de curiosidade. — O que ele queria aqui?
Suspirei, desviando o olhar, tentando despistar.
— Só isso? — Sophie arqueou a sobrancelha, nada convencida. — Ele simplesmente sentiu vontade de comer um pão doce?