Mundo ficciónIniciar sesiónKaori sempre viveu no limite das próprias emoções, intensa, apaixonada e impulsiva, entregava-se a tudo como se o mundo fosse acabar amanhã. Quando se envolve com um professor da faculdade, acredita ter encontrado um amor verdadeiro. Mas a ilusão se desfaz de forma cruel, e uma tragédia muda tudo: um acidente quase fatal apaga cinco anos de sua memória. Ao despertar do coma, Kaori descobre que nada é como antes, os pais estão divorciados, o pai tem outra mulher, e a mãe, Lisa, vive em uma casa simples, tentando recomeçar do zero. Perdida entre lembranças fragmentadas e um vazio que a consome, ela precisa reaprender quem é. Entre dores, segredos e tentativas de reconstrução, Kaori busca não apenas suas memórias, mas também o sentido de existir em um mundo que insiste em lhe cobrar mais do que ela pode dar. Um drama intenso sobre culpa, amor e renascimento. Uma história sobre o preço de sentir demais e o desafio de se reinventar quando até o passado te abandona.
Leer másKaori sempre foi intensidade pura. Desde criança, tudo nela ardia em exageros: o amor, a raiva, o desejo, a curiosidade. Amava com fúria, chorava com desespero e ria como quem não conhecia limites. Era daquelas pessoas que mergulham fundo demais, sem medir a profundidade, e acabam se afogando nas próprias emoções.
Na juventude, Kaori viveu paixões intensas, algumas inocentes, outras perigosas. Gostava da sensação do novo, do proibido, daquilo que a fazia sentir viva. Seu coração pulsava com o mesmo ritmo das músicas que ouvia mil vezes ao dia. Paixão, para ela, era o combustível da existência, mesmo que a queimasse por dentro. Mas foi na faculdade que ela acreditou ter encontrado algo diferente. Um amor maduro, sereno e, ao mesmo tempo, devastador. Ele era seu professor, charmoso, inteligente, experiente e soube exatamente como atravessar as defesas que ela fingia ter. Kaori se deixou levar, acreditando que, finalmente, havia encontrado a segurança que sempre buscara. No entanto, o encanto logo se mostrou uma ilusão. O homem que prometeu protegê-la usou seus sentimentos como distração, deixando-a despedaçada quando tudo veio à tona. Ele era noivo e nunca teve a intenção de ficar com ela de fato. Tomada por frustração e vergonha, Kaori se isolou. Passou dias sem comer, noites sem dormir. O mundo parecia desabar a cada lembrança. Naquela noite que deveria ser de festa, ela pegou o carro de sua mãe e saiu transtornada tomada por problemas e consequências, bem no dia de seu aniversário, o coração em guerra com a própria mente. Chorava, gritava, acelerava. E foi então que perdeu o controle. O carro capotou várias vezes, parando num barranco em chamas. Os bombeiros a encontraram inconsciente, com ferimentos graves e o rosto coberto de sangue. Durante duas semanas, ela permaneceu em coma, suspensa entre a vida e a morte. O pai, Juliano, e a mãe, Lisa, se revezavam no hospital, devastados, não apenas pelo acidente, mas pela culpa que carregavam. Quando Kaori abriu os olhos, o mundo não era mais o mesmo. O tempo havia se tornado um vazio em sua mente. Ela não lembrava do acidente, nem da faculdade, nem do professor e a noiva dele. E, para seu espanto, descobriu que os pais estavam divorciados. A mãe morava agora em uma casa simples, enquanto o pai havia seguido em frente, com outra mulher. Ela chorou dias inteiros. Tudo parecia estranho, distante, como se estivesse presa em um corpo que não lhe pertencia. Tentava recordar, mas as lembranças escapavam como areia entre os dedos. A dor física se misturava ao vazio da alma. A intensidade que antes a definia agora era apenas uma sombra, ela existia, mas apagada, confusa, perdida. Lisa cuidava dela com paciência e desespero, como quem tenta consertar algo que nunca mais será o mesmo. Juliano a visitava com frequência, embora a presença dele causasse mais incômodo do que conforto. E Kaori, entre remédios e consultas, tentava reconstruir quem era. Com o tempo, voltou para casa da mãe. O quarto estava cheio de fotos, lembranças de uma vida que ela não reconhecia. Os amigos a procuravam, mas ela não queria vê-los. Sentia medo, vergonha, e uma estranha sensação de que nada daquilo realmente lhe pertencia. O psicólogo dizia que o cérebro apaga certas memórias para proteger o coração, mas, em Kaori, o esquecimento parecia punição. A menina intensa, passional e ousada havia sido substituída por alguém que mal sabia quem era. E, mesmo assim, dentro dela, havia uma fagulha. Um desejo mudo de lembrar, de recomeçar, de se reconstruir, ainda que entre os escombros da dor. Kaori não sabia se algum dia voltaria a ser a mesma, mas talvez esse fosse o ponto: algumas quedas não vêm para destruir, e sim para despertar quem sempre esteve adormecido. Porque, no fundo, Kaori era feita disso, de fogo, de falhas e de recomeços, deram um celular novo pra ela, zerado sem nada pessoal, ela não lembrava das senhas e eles optaram por um número novo que ninguém além da família tinha, a intenção deles era que ela não visse mensagens comprometedoras, eles não podiam correr o risco de piorar o estado dela. Todos os dias eles tentavam relembrar dos últimos anos, mostrando fotos das pessoas próximas que ela tinha convívio, no primeiro e segundo dia tudo até correu bem na medida do possível, mas dali em seguida ela começou a ficar muito mal por não saber de nada. Era muito difícil aceitar aquilo tudo, ficar em uma cama dependendo dos outros, ela queria lembrar e não conseguia. Também tinha muitas dores, amanhecia chorando, pedindo ajuda, a cabeça era o que mais incomodava. Quando foram pra casa, o Juliano levou as duas, afinal a Lisa estava sem carro. Na cobertura da garagem colocaram alguns balões vermelhos para recebê-la bem, a geladeira estava cheia de tudo que ela gostava, o quarto estava pronto, com tudo organizado, e tinham muitas fotos dela reveladas em um mural, foi ideia da Bibi, melhor amiga dela. A maioria das fotos eram sozinhas, algumas com familiares e os amigos mais antigos, Bibi e Enzo. Durante todo o trajeto ela não disse nada, viu o Juliano segurando na mão da Lisa enquanto dirigia e ficou incomodada, confusa. Ao entrar na casa perguntou há quanto tempo a Lisa morava lá. Ela começou a reparar na casa e até comentou sobre ser pequena. Ao chegar no quarto, soube que usava há anos o cabelo longo; no hospital foi preciso cortar curtinho, no estilo Chanel. Ela começou a olhar tudo, mexer nas gavetas de forma curiosa. Juliano perguntou se ela queria algo especial, qualquer coisa. Ela disse que queria ver o irmão. Ele respondeu que já havia dito que o Miyuki tinha datas certas para poder sair do quartel. Ela respondeu chateada que daquilo se lembrava, agradeceu e foi deitar porque estava com dor. Juliano precisava ir trabalhar. Disse que queria levar ela conhecer a casa dele assim que possível. Ela disse que ainda não queria ver ninguém. Ele sugeriu que ela tivesse o número da Joyce, a nova madrasta, caso quisesse conversar um dia. Ela até salvou, mas estava convicta de ignorar o novo amor de seu pai. A esperança de todos era de que ela iria se lembrar pouco a pouco, mas não foi o que aconteceu no decorrer dos dias. Lisa já ia voltar a trabalhar e Kaori estava afastada do trabalho pelo INSS. Ela não havia saído nem no quintal nenhum dia desde que teve alta. A convivência das duas estava ótima, o cuidado de mãe deixava Kaori o mais confortável possível, e dia sim, dia não, o pai ia lá pra vê-la. Ficava um pouco com ela, assistia, conversava. Ela estava se recuperando fisicamente, mas era comum dores e choro todos os dias. No primeiro dia que Lisa foi trabalhar foi horrível para mãe e filha. Ela saiu de manhã, perto da hora do almoço, e só voltou à noite. A cada uma hora, ficou verificando pelo celular se estava tudo bem. Kaori falava que sim, mas se sentiu muito sozinha e triste. Nesse período, Lisa recomendou que Kaori fizesse novas redes sociais, já que havia esquecido as senhas. Ela fez e começou só a olhar tudo, sem adicionar ninguém. Primeiro, adicionou a família e depois amigos do trabalho que encontrou nas fotos do perfil antigo. Ela também adicionou a Bibi, a melhor amiga, que imediatamente mandou mensagem perguntando como ela estava. Nem o número dela a Lisa quis dar quando a Bibi foi visitar. As duas conversaram pouco. A Bibi disse que havia se mudado recentemente de cidade, perguntou se ela ainda não estava lembrando de nada daquela noite dos últimos meses. Kaori disse que não, era um branco total, e também comentou que estava evitando a todos com medo de ser manipulada de alguma forma. A Bibi disse que elas estavam do mesmo jeito há cinco anos, brigando, fazendo as pazes, depois brigando de novo. Então Kaori perguntou como estavam as duas antes do acidente. A Bibi respondeu: — Brigadas, por bobeira, como sempre. Não vou mentir pra você, eu te amo, amiga! Sinto muito que você esteja passando por isso. Pode contar comigo sempre, tô longe, mas tô com você da mesma forma. Quero muito te ver! As duas passaram a conversar um pouco, mas a Bibi não estava sendo muito sincera. Falam que não há mentiras do bem, mas nesse caso passou a existir. Ela não disse nada de ruim. Sobre o Daniel, o professor então? Assunto encerrado. Ela só falava de coisas mais antigas e da relação de uma com a outra. Kaori ficou muito na defensiva, mesmo com a melhor amiga. Na quarta-feira, ela tinha consulta com o psicólogo e tinha dito que ia sozinha quando a Lisa foi trabalhar. Combinaram pra ela ir de Uber e o Juliano, seu pai, iria buscá-la. Quando estava próximo do horário, a Lisa começou a ligar. Depois do horário da consulta, ela ligou lá e soube que Kaori não tinha ido. Então entrou em desespero tentando falar com ela, sem retorno algum. Era de tarde, por volta das 17h. Ela ligou para o ex, Juliano, ele estava esperando no consultório. Foi às pressas para a casa delas ver o que estava acontecendo. Quando chegou lá, encontrou Kaori dormindo. Ela acordou até assustada com ele, chegou a chorar frustrada por ter perdido a consulta. Estava reclamando de dor na cabeça. Após falar com a Lisa, o Juliano sugeriu que Kaori fosse pra casa dele jantar, passear, e à noite ele a levaria de volta. Ela perguntou se a Joyce estaria lá, ele disse que só se ela quisesse. Então ela aceitou, levantou e foi tomar banho. Na hora de escolher a roupa, ficou indecisa. Era tudo muito preto. Ela já não era mais a mesma. Até na alimentação estava confusa, pois não sabia ao certo do que realmente gostava, já que ela era de fases e em cinco anos, com certeza, havia mudado suas preferências em tudo.Kaori foi para a cozinha de cabeça baixa, cruzou com a Ivone. A Lisa também saiu, logo a Lisa voltou falando que o Rui podia levar ela pra casa. Ela respondeu de imediato que não precisava, porque ia ver o pai. Ficou muito chateada, e ele também, mas ninguém viu nada. Logo o Juliano passou lá para pegar ela, e foram pra casa dele. Ele queria saber tudo da consulta e promover uma aproximação da Joyce com a Kaori. Foram jantar fora, mas não foi muito legal, Kaori estava envergonhada, incomodada com sua aparência. Ver os dois como casal também era complicado, mas correu tudo bem, na medida do possível.Na cabeça de Kaori, ela já tinha cumprido o que prometeu ao médico, indo ver pessoas e tentando se lembrar das coisas. De nada adiantou: o passeio só lhe causou dor e desconforto. A nova Kaori não tirava fotos, não postava nada nas redes sociais. O que mais chamou a atenção da família não foi isso, mas sim a educação e gentileza dela com todos. Após os 15 anos, ela havia mudado muito ficou
Kaori e Juliano foram para a casa dele, no caminho ela se queixou da música no carro, estava incomodando ela. O neurologista já havia alertado que as dores de cabeça podiam ainda ser bem presentes por muito tempo. Ela perdeu a consulta no psicólogo e precisava do encaminhamento para ir ao psiquiatra, pra poder tomar remédios diferentes. Reagendaram para sexta-feira de manhã. Ao chegar no prédio, o Juliano perguntou se ela podia levá-los até o andar dele, ela chateada disse que não, que só tinha vontade de apertar o último número porque parecia ser mais interessante. Ele mostrou qual era e pediu para ela anotar no celular o endereço certinho, para se caso algum dia quisesse ir lá sozinha, ter como. Ele comentou que ela tinha amigos lá, já tinham dito aquilo antes e ela não lembrava os nomes. Ele disse que podia chamar a Rafaela pra ir lá. Em desespero ela respondeu:— Ahhh não, pai, por favor, eu não quero ver ninguém ainda, eu nem sei o que estão falando de mim por aí, meu cabelo tá h
Kaori sempre foi intensidade pura. Desde criança, tudo nela ardia em exageros: o amor, a raiva, o desejo, a curiosidade. Amava com fúria, chorava com desespero e ria como quem não conhecia limites. Era daquelas pessoas que mergulham fundo demais, sem medir a profundidade, e acabam se afogando nas próprias emoções.Na juventude, Kaori viveu paixões intensas, algumas inocentes, outras perigosas. Gostava da sensação do novo, do proibido, daquilo que a fazia sentir viva. Seu coração pulsava com o mesmo ritmo das músicas que ouvia mil vezes ao dia. Paixão, para ela, era o combustível da existência, mesmo que a queimasse por dentro.Mas foi na faculdade que ela acreditou ter encontrado algo diferente. Um amor maduro, sereno e, ao mesmo tempo, devastador. Ele era seu professor, charmoso, inteligente, experiente e soube exatamente como atravessar as defesas que ela fingia ter. Kaori se deixou levar, acreditando que, finalmente, havia encontrado a segurança que sempre buscara. No entanto, o en
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