Capítulo 7

— Sr. Walker, sinto muito, mas preciso de sua permissão para sair. — Sophie disse, a voz mais tensa do que eu já tinha ouvido antes. Ela respirou fundo, engolindo em seco. — Minha mãe... Ela está no hospital, e a situação parece grave.

A seriedade em seu tom fez minha postura mudar na hora. O jogo social, a máscara do CEO, tudo caiu.

— Claro, vá. — respondi sem pensar, com uma preocupação sincera. — Espero que tudo fique bem. Me avise se precisar de algo.

Ela assentiu rapidamente, já se preparando para ir, mas então parou, olhando de relance para Olivia. A expressão dela carregava culpa.

— O problema é que eu trouxe Olivia comigo. Não quero deixá-la sem carona, mas...

Antes mesmo que Olivia falasse, eu já me adiantei.

— Não se preocupe com isso. Eu posso levar Olivia para casa.

Olivia tentou aliviar o peso da situação:

— Não tem problema, Sophie! Eu posso pegar um táxi, vá ver como sua mãe está e me mantenha informada.

Mas eu não queria que fosse assim. Não queria que ela fosse embora sozinha, se afastando de mim tão cedo.

Sophie hesitou, alternando o olhar entre nós dois, mas no fim assentiu.

— Tudo bem. Obrigada, Sr. Walker. — Então ela segurou os braços de Olivia por um instante, os olhos marejados. — Me desculpe, amiga. Eu não queria sair assim.

— Está tudo bem, Sophie. — Olivia sorriu de um jeito que, mesmo na tensão, parecia iluminá-la. — Vá cuidar da sua mãe.

Com um último olhar de desculpas, Sophie desapareceu pela multidão, deixando o salão repentinamente mais silencioso do que estava segundos atrás.

E então éramos só nós dois.

Dei um passo mais perto, sem pressa, o sorriso nos lábios agora mais suave, reservado apenas para ela.

— Parece que estamos só nós dois, Olivia.

Ela levantou os olhos para mim, ainda havia cautela ali, mas também algo novo — uma faísca que me puxava mais fundo.

— Parece que sim, Papai Noel. — respondeu, e o apelido na voz dela fez meu peito se aquecer de um jeito inesperado.

Soltei uma risada baixa, rouca, incapaz de esconder o prazer que senti por ouvi-la brincar comigo daquele jeito.

— Você gostaria de tomar uma bebida comigo?

Ela hesitou por um instante — só o suficiente para me deixar curioso — antes de sorrir.

— Claro.

PONTO DE VISTA DE OLIVIA

O salão estava tomado por música animada e conversas altas, mas eu mal registrava o ambiente enquanto seguia Ethan até o bar. Ele caminhava com uma confiança natural, cumprimentando discretamente as pessoas ao redor, como se pertencesse àquele lugar de forma inquestionável. Eu, por outro lado, me sentia perdida — uma peça que não se encaixava no quebra-cabeça festivo dos demais.

Chegando ao balcão, ele se inclinou levemente para perto de mim, a voz grave vencendo a música.

— O que vai ser? Vinho, champanhe...?

— Só água, por favor. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, mas ele ouviu e logo fez um sinal para o bartender. Pediu uma água para mim e uma cerveja para si.

Quando recebeu os copos, me entregou o meu com um leve aceno de cabeça.

— Aqui está.

Segurei o copo, murmurando um “obrigada”. Ethan se recostou no balcão, os olhos fixos em mim com uma atenção desconcertante.

— Você está desconfortável.

Não era uma pergunta, mas uma constatação.

— Não é isso... — comecei, mas ele arqueou uma sobrancelha, claramente não convencido.

— Olivia. Estamos em uma festa. Se você não está aproveitando, algo está errado.

Mordi o lábio, tentando escolher as palavras. A verdade era simples: eu não gostava do Natal. O peso das lembranças era sufocante. As músicas, as luzes, os enfeites — tudo me fazia lembrar do que perdi. Mas eu não o conhecia o bastante para revelar isso, para confiar tão cedo.

— Só não esperava o tema natalino, acho. — Dei de ombros. — Afinal, ainda falta um mês para o Natal.

Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, mas vi algo mais profundo em seus olhos — uma sombra discreta.

— Minha avó amava o Natal. — A voz dele saiu suave, quase nostálgica. — Ela organizava todas as festas, decorava a casa inteira... fazia questão de transformar o Natal em algo mágico.

Eu me virei para ele, surpresa com a confissão.

— Parece que ela era importante para você.

Ele assentiu, encarando o copo de cerveja antes de continuar:

— Ela foi quem me ensinou a amar o Natal. Sempre dizia que não era sobre presentes ou festas, mas sobre a família. Sobre fazer os outros se sentirem amados.

Deu um gole lento na bebida, e então acrescentou em tom mais baixo:

— Ela faleceu há um ano.

As palavras me atingiram em cheio. A sinceridade, a dor oculta em sua voz... eu a reconheci. Era parecida com a minha.

— Sinto muito, Ethan. — minha resposta saiu carregada de um peso que vinha da minha própria perda.

Ele ergueu os olhos para mim e, apesar da dor, um pequeno sorriso suavizou seus traços.

— Obrigado. De certa forma, essa festa é uma homenagem a ela. Um jeito de manter vivo o espírito que ela tanto amava.

Um nó apertou minha garganta. Eu entendia. Sabia exatamente o que era tentar manter alguém vivo na memória. Por um instante, nossas perdas se encontraram em silêncio, como se criassem uma ponte invisível entre nós.

Ele quebrou a quietude com a mesma naturalidade de sempre.

— Acho que agora é justo eu te levar para casa. Vamos?

Hesitei por um momento, mas assenti. Por mais que Ethan despertasse sentimentos conflitantes em mim, havia algo em sua presença que parecia impossível de ignorar.

O carro parou suavemente em frente à minha casa. Eu havia passado meu endereço para ele. E eu já ia agradecê-lo pela carona quando percebi sua expressão mudar. Ele olhava fixamente para a casa ao lado, onde uma placa de “Vende-se” balançava no portão. O rosto dele, sempre tão confiante, agora trazia surpresa e algo mais — algo que não consegui identificar.

— Está tudo bem? — perguntei, intrigada.

Ele piscou algumas vezes, como se despertasse de um transe, e então virou-se para mim com um sorriso rápido demais.

— Sim.

Mas eu não acreditei. Havia tensão em sua voz, e antes que eu pudesse insistir, ele já estava saindo do carro para abrir minha porta.

— Obrigado pela companhia esta noite, Olivia. Foi... interessante.

— O mesmo digo eu, Papai Noel. — sorri, tentando aliviar o peso repentino.

Ele riu baixo, mas o som pareceu distraído. Assim que me despedi e entrei na varanda, ouvi o motor acelerar pela rua.

Fechei a porta atrás de mim e me recostei, tentando processar tudo. A reação dele àquela casa me deixou inquieta, mas não era só isso. O que mais me perturbava era ele.

Subi para o quarto, troquei de roupa e me deitei, mas o sono não veio. Minha mente girava em torno da noite. A gentileza inesperada de Ethan na sacada, a vulnerabilidade ao falar da avó, aquele sorriso charmoso que eu não queria admitir que me afetava.

E, como uma sombra, a voz de Sophie ecoou em minha cabeça: Ele é um cafajeste, Olivia. Um conquistador nato. Não se compromete com ninguém.

Suspirei, virando-me na cama. Ethan Walker era um mistério. Um homem cheio de camadas que eu não conseguia decifrar. Aproximar-me dele parecia tanto fascinante quanto perigoso.

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