— Sr. Walker, sinto muito, mas preciso de sua permissão para sair. — Sophie disse, a voz mais tensa do que eu já tinha ouvido antes. Ela respirou fundo, engolindo em seco. — Minha mãe... Ela está no hospital, e a situação parece grave.
A seriedade em seu tom fez minha postura mudar na hora. O jogo social, a máscara do CEO, tudo caiu.
— Claro, vá. — respondi sem pensar, com uma preocupação sincera. — Espero que tudo fique bem. Me avise se precisar de algo.
Ela assentiu rapidamente, já se preparando para ir, mas então parou, olhando de relance para Olivia. A expressão dela carregava culpa.
— O problema é que eu trouxe Olivia comigo. Não quero deixá-la sem carona, mas...
Antes mesmo que Olivia falasse, eu já me adiantei.
— Não se preocupe com isso. Eu posso levar Olivia para casa.
Olivia tentou aliviar o peso da situação:
— Não tem problema, Sophie! Eu posso pegar um táxi, vá ver como sua mãe está e me mantenha informada.
Mas eu não queria que fosse assim. Não queria que ela fosse embora sozinha, se afastando de mim tão cedo.
Sophie hesitou, alternando o olhar entre nós dois, mas no fim assentiu.
— Tudo bem. Obrigada, Sr. Walker. — Então ela segurou os braços de Olivia por um instante, os olhos marejados. — Me desculpe, amiga. Eu não queria sair assim.
— Está tudo bem, Sophie. — Olivia sorriu de um jeito que, mesmo na tensão, parecia iluminá-la. — Vá cuidar da sua mãe.
Com um último olhar de desculpas, Sophie desapareceu pela multidão, deixando o salão repentinamente mais silencioso do que estava segundos atrás.
E então éramos só nós dois.
Dei um passo mais perto, sem pressa, o sorriso nos lábios agora mais suave, reservado apenas para ela.
— Parece que estamos só nós dois, Olivia.
Ela levantou os olhos para mim, ainda havia cautela ali, mas também algo novo — uma faísca que me puxava mais fundo.
— Parece que sim, Papai Noel. — respondeu, e o apelido na voz dela fez meu peito se aquecer de um jeito inesperado.
Soltei uma risada baixa, rouca, incapaz de esconder o prazer que senti por ouvi-la brincar comigo daquele jeito.
— Você gostaria de tomar uma bebida comigo?
Ela hesitou por um instante — só o suficiente para me deixar curioso — antes de sorrir.
— Claro.
PONTO DE VISTA DE OLIVIA
O salão estava tomado por música animada e conversas altas, mas eu mal registrava o ambiente enquanto seguia Ethan até o bar. Ele caminhava com uma confiança natural, cumprimentando discretamente as pessoas ao redor, como se pertencesse àquele lugar de forma inquestionável. Eu, por outro lado, me sentia perdida — uma peça que não se encaixava no quebra-cabeça festivo dos demais.
Chegando ao balcão, ele se inclinou levemente para perto de mim, a voz grave vencendo a música.
— Só água, por favor. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, mas ele ouviu e logo fez um sinal para o bartender. Pediu uma água para mim e uma cerveja para si.
Quando recebeu os copos, me entregou o meu com um leve aceno de cabeça.
Segurei o copo, murmurando um “obrigada”. Ethan se recostou no balcão, os olhos fixos em mim com uma atenção desconcertante.
Não era uma pergunta, mas uma constatação.
— Olivia. Estamos em uma festa. Se você não está aproveitando, algo está errado.
Mordi o lábio, tentando escolher as palavras. A verdade era simples: eu não gostava do Natal. O peso das lembranças era sufocante. As músicas, as luzes, os enfeites — tudo me fazia lembrar do que perdi. Mas eu não o conhecia o bastante para revelar isso, para confiar tão cedo.
— Só não esperava o tema natalino, acho. — Dei de ombros. — Afinal, ainda falta um mês para o Natal.
Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, mas vi algo mais profundo em seus olhos — uma sombra discreta.
Eu me virei para ele, surpresa com a confissão.
Ele assentiu, encarando o copo de cerveja antes de continuar:
Deu um gole lento na bebida, e então acrescentou em tom mais baixo:
As palavras me atingiram em cheio. A sinceridade, a dor oculta em sua voz... eu a reconheci. Era parecida com a minha.
Ele ergueu os olhos para mim e, apesar da dor, um pequeno sorriso suavizou seus traços.
Um nó apertou minha garganta. Eu entendia. Sabia exatamente o que era tentar manter alguém vivo na memória. Por um instante, nossas perdas se encontraram em silêncio, como se criassem uma ponte invisível entre nós.
Ele quebrou a quietude com a mesma naturalidade de sempre.
Hesitei por um momento, mas assenti. Por mais que Ethan despertasse sentimentos conflitantes em mim, havia algo em sua presença que parecia impossível de ignorar.
O carro parou suavemente em frente à minha casa. Eu havia passado meu endereço para ele. E eu já ia agradecê-lo pela carona quando percebi sua expressão mudar. Ele olhava fixamente para a casa ao lado, onde uma placa de “Vende-se” balançava no portão. O rosto dele, sempre tão confiante, agora trazia surpresa e algo mais — algo que não consegui identificar.
— Está tudo bem? — perguntei, intrigada.
Ele piscou algumas vezes, como se despertasse de um transe, e então virou-se para mim com um sorriso rápido demais.
Mas eu não acreditei. Havia tensão em sua voz, e antes que eu pudesse insistir, ele já estava saindo do carro para abrir minha porta.
— O mesmo digo eu, Papai Noel. — sorri, tentando aliviar o peso repentino.
Ele riu baixo, mas o som pareceu distraído. Assim que me despedi e entrei na varanda, ouvi o motor acelerar pela rua.
Fechei a porta atrás de mim e me recostei, tentando processar tudo. A reação dele àquela casa me deixou inquieta, mas não era só isso. O que mais me perturbava era ele.
Subi para o quarto, troquei de roupa e me deitei, mas o sono não veio. Minha mente girava em torno da noite. A gentileza inesperada de Ethan na sacada, a vulnerabilidade ao falar da avó, aquele sorriso charmoso que eu não queria admitir que me afetava.
E, como uma sombra, a voz de Sophie ecoou em minha cabeça: Ele é um cafajeste, Olivia. Um conquistador nato. Não se compromete com ninguém.
Suspirei, virando-me na cama. Ethan Walker era um mistério. Um homem cheio de camadas que eu não conseguia decifrar. Aproximar-me dele parecia tanto fascinante quanto perigoso.