— Aí está você!
Ela me gritou, correndo até mim.
— Eu já estava prestes a mobilizar metade do escritório pra te procurar! Onde você estava?
— Na sacada. — respondi, tentando soar tranquila. — Eu precisava de um momento sozinha. Mas… acabei conhecendo alguém.
Os olhos de Sophie se arregalaram de curiosidade.
— Alguém? Quem?
Olhei para o chão por um instante, sentindo minhas bochechas queimarem.
— Um homem. Ele estava vestido de Papai Noel. Foi... gentil, mas misterioso.
Sophie piscou, surpresa, inclinando a cabeça como se tentasse processar a informação.
— Papai Noel? Você tá falando sério?
— Sim. — soltei um suspiro, ainda confusa. — Ele apareceu do nada enquanto eu estava lá fora. Conversou comigo, tentou me animar. Disse coisas que... me fizeram sentir melhor. Foi estranho, mas, ao mesmo tempo... reconfortante.
— Reconfortante? — Sophie repetiu, cruzando os braços. O olhar dela denunciava que um interrogatório estava prestes a começar. — Como assim? O que ele disse? E quem era ele?
— Eu não sei quem ele é. Ele não disse. — dei de ombros, a lembrança ainda me desestabilizando. — Só me deixou a impressão de que sabia exatamente o que eu precisava ouvir. E então foi embora.
Sophie ficou em silêncio por um momento, franzindo os lábios numa mistura de perplexidade e fascínio.
— Então... você teve um encontro com um Papai Noel misterioso, e ele te ajudou a se sentir melhor?
Eu ri baixinho, balançando a cabeça.
— Não foi um encontro. Foi só... uma conversa. Mas, sim, ele me ajudou.
De repente, a música diminuiu. As vozes ao redor cessaram quando uma figura subiu ao palco no centro do salão. Todos os olhares se voltaram para ele — e meu coração disparou ao reconhecê-lo.
Era ele.
O homem da sacada. Ainda de Papai Noel, mas sob o brilho das luzes, parecia ainda mais magnético, com uma confiança que dominava o ambiente. Seus cabelos eram claros e seus olhos num lindo tom de azul agora que eu poderia vê-lo melhor.
— Finalmente. — murmurou Sophie, revirando os olhos. — O chefe resolveu aparecer.
Virei o rosto para ela, o estômago apertando.
— O chefe?
— Sim. — ela gesticulou em direção ao palco. — Ethan Walker. O dono e CEO da Paragon. O homem que vai decidir quem será o próximo a ocupar o posto dele.
Senti o mundo girar. Ethan Walker. O mesmo homem que Sophie descrevera como um cafajeste incorrigível. Mas... era também o mesmo homem que minutos atrás tinha me feito sentir menos sozinha.
Ele ajustou o microfone, retirando o gorro e a barba falsa com um gesto teatral. Seu rosto impecavelmente bonito surgiu, acompanhado de um sorriso cheio de charme e autoridade.
— Boa noite, pessoal! — a voz dele ecoou pelo salão, firme e calorosa. — Espero que estejam aproveitando a festa.
A multidão respondeu com aplausos. Eu, porém, estava paralisada.
— Estamos aqui para celebrar o futuro da Paragon e, claro, anunciar os três finalistas para a posição de CEO.
Ele abriu um envelope com calma deliberada.
— Primeiro candidato: Michael Harper.
Virei para ela, chocada.
— Você está concorrendo?
Sophie parecia atordoada.
— Eu... não fazia ideia. Quer dizer... eu queria, mas não achei que ele fosse me escolher. — ela balançou a cabeça, ainda sem acreditar. Depois me olhou, baixando a voz. — Mas esquece isso agora. O que você estava dizendo da sacada?
Engoli em seco, o rosto em chamas.
— Sim. Era ele. — apontei discretamente para Ethan no palco.
Sophie piscou várias vezes, tentando processar.
— Espera... Ethan? O Ethan Walker?
Assenti, sentindo o coração martelar no peito.
Ela segurou meu braço, séria.
— Escuta, eu gosto dele como chefe, mas preciso te lembrar de uma coisa: ele é um babaca. Um conquistador nato. Não se compromete com ninguém. É o tipo de homem que você deve evitar.
As palavras dela caíram como um balde de água fria. "Babaca". "Conquistador". Nada combinava com o homem que me consolou minutos antes.
Minha mente girava em círculos. Eu devia me afastar. Eu devia ouvir Sophie. Mas não conseguia ignorar a confusão dentro de mim.
PONTO DE VISTA DE ETHAN
Desci do palco com o mesmo ar confiante de sempre, aquele que todos esperavam de mim — o CEO carismático, o homem que parecia ter todas as respostas. Cada passo era medido, cada sorriso calculado. Cumprimentei algumas pessoas pelo caminho, mas, no fundo, só havia uma coisa em minha mente: encontrá-la.
E então a vi.
De pé ao lado de Sophie Carter, ainda surpresa com a própria nomeação. Mas meus olhos mal registraram isso. O que me prendeu foi ela. A mulher da sacada. A estranha de cabelos compridos e loira que já não era estranha. Aquela que carregava no olhar algo que eu não conseguia ignorar.
Meu ritmo acelerou sem que eu percebesse. Ela parecia deslocada na festa, como se todo aquele brilho não fosse feito para ela. Mas, de alguma forma, isso a tornava ainda mais interessante. Havia algo na vulnerabilidade dela que me puxava para perto, algo que me fez querer atravessar a sala inteira.
Quando finalmente cheguei, Sophie foi a primeira a reagir. Endireitou-se e disse, com um leve sorriso profissional:
— Sr. Walker. Esta é Olivia Grace, minha melhor amiga.
Olivia Grace.
O nome ecoou dentro de mim, e eu o repeti em voz baixa, apenas para sentir o peso daquelas sílabas. Soava certo. Soava como algo que eu queria dizer mais vezes.
Estendi a mão. Ela hesitou — apenas por um instante — mas então sua palma encontrou a minha. Foi um toque rápido, firme, mas que deixou uma faísca inegável no ar.
— Prazer em conhecê-la. — falei, mas por dentro eu pensava: finalmente eu sei seu nome.
Antes que eu pudesse puxar qualquer assunto, o celular de Sophie tocou. Vi seu rosto mudar em segundos — da confiança para uma palidez preocupada.
— Sim? — ela disse, e seu tom ficou mais sério a cada resposta que dava. — Entendido. Estou a caminho.
Quando desligou, havia algo urgente em sua expressão, como se tivesse sido arrastada de volta ao mundo real, para um problema maior do que qualquer festa.