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Capítulo 3 – A Primeira Bala

Os dias seguintes correram como um rio sujo e silencioso: lentos, cheios de tensão, e prontos para engolir qualquer distração.

Dante redobrou a segurança, alterou rotas de entrada, instalou sensores, e ainda assim…

O medo rondava a mansão como um perfume enjoativo.

Do tipo que anuncia que algo vai morrer.

Eu mantinha a pose.

Andava pelos corredores como se não estivesse sendo seguida.

Mas sabia: olhos demais me observavam.

E nem todos eram aliados dele.

Na manhã de terça, resolvi caminhar pelo jardim interno.

— Não saia da casa sozinha — ele tinha avisado.

Mas eu não obedecia ordens.

Principalmente as dele.

Passei por entre as rosas negras — criadas ali, dizem, em homenagem à primeira mulher que Dante perdeu — e respirei fundo.

Liberdade não existia. Mas o desafio sim.

Me abaixei para tocar uma pétala quando ouvi.

Um estalo.

Um sussurro de pólvora.

E o mundo se partiu.

Uma explosão baixa, abafada.

Um assobio rápido.

— Serena! Abaixaaa! — a voz de Dante ecoou segundos antes do impacto.

Fui puxada com força por um braço.

Caí no chão, o corpo de Dante sobre o meu, protegendo-me com o dele.

Vidros estilhaçaram perto da parede de vidro.

Gritos. Correria.

— Atirador! — alguém gritou ao longe. — Vinha da torre norte!

O peso dele ainda me esmagava contra o chão.

O calor do corpo. O cheiro da pólvora e do medo.

Dante se levantou num salto, os olhos ardendo em fúria.

— Ela vai pro quarto. Ninguém entra. Três seguranças na porta, agora!

Eu ainda tremia.

Ainda assim, levantei com o orgulho intacto.

— Eu tô bem.

Ele se virou para mim, furioso.

— Você podia ter morrido!

— Mas não morri — rebati, a voz mais firme do que eu sentia. — E pelo visto, isso te incomoda.

Ele se aproximou. O suficiente para que eu sentisse o sangue quente pulsando sob sua pele.

— Você tem ideia do que acabou de acontecer?

— Sim. Me tornei uma ameaça real.

E agora, sou oficialmente… uma Morelli.

Naquela noite, trancada no quarto, tentei entender o que mais me deixava inquieta:

A tentativa de assassinato?

Ou o fato de que Dante havia me protegido com o próprio corpo?

Uma parte de mim queria agradecer.

A outra… queria fugir antes que agradecesse demais.

Bati na porta do escritório dele à meia-noite.

— Acha que eu devia te agradecer por quase morrer comigo? — perguntei ao entrar sem ser convidada.

Ele estava de costas, olhando um mapa aberto sobre a mesa.

— Acha que eu vou dormir depois disso? — respondeu.

— Achei que monstros dormissem bem.

— Achei que princesas mimadas não saíssem sem escolta.

Nos encaramos em silêncio.

— Quem você acha que mandou o atirador? — perguntei.

— Poderia ser qualquer um. Mas só alguns sabiam que você estaria no jardim naquele horário.

— Você está dizendo que…?

— Temos um traidor. Aqui. Dentro. — A voz dele era uma lâmina.

Engoli seco.

— Então talvez... não seja apenas eu em perigo.

Ele se aproximou.

Mas dessa vez… não havia fúria.

Só tensão.

— Por que você desobedeceu?

— Porque odeio estar presa.

— Mesmo sabendo que posso te manter viva?

— Eu não quero sobreviver. Eu quero viver.

E com você me vigiando, isso é impossível.

— Serena… — ele sussurrou, e dessa vez não era ameaça. Era… um sussurro quebrado.

— O quê?

Ele passou a mão pelo rosto. Cansado.

Algo estava despedaçando nele. E eu estava vendo.

— Quando eu perdi Giulia… jurei que nunca mais me importaria.

— Então não quebre sua promessa — respondi. — Porque eu não vim aqui pra curar ninguém.

Mas mesmo dizendo isso… eu me sentia quebrando por dentro.

Dante ergueu os olhos para mim. E havia algo ali.

Medo.

— Alguém quer te tirar de mim antes que eu entenda o que fazer com você — ele disse.

— Talvez já seja tarde demais.

No dia seguinte, as investigações estavam em curso. Lorenzo, sempre com expressão debochada, agora estava sério.

Os guardas trocados.

Os horários cruzados.

— Encontramos uma escuta no seu quarto — Lorenzo me disse. — E sinais de acesso aos registros de entrada e saída da casa.

— Alguém nos observa o tempo todo — completei.

Ele assentiu.

— Seja quem for… quer separar vocês. E acabar com ela antes que algo mude.

— Mude o quê? — perguntei.

Ele me olhou, com um meio sorriso.

— O Don.

Porque se você mudar ele… metade do império Morelli desmorona.

À noite, Dante apareceu na minha porta.

Não para ameaçar.

Nem para mandar.

Mas com uma expressão que nunca vi antes: humana.

— Preciso que você durma no meu quarto.

Arqueei a sobrancelha.

— Com você?

— Sim. Segurança reforçada. Só há um lugar 100% monitorado. E é o meu quarto.

— Isso parece conveniente.

— Não estou pedindo.

Me vesti. Peguei o colar de espada. E o encarei.

— Então vamos ver se o Don dorme como um homem... ou como um monstro.

O quarto dele era maior que meu antigo apartamento.

Mas havia frio ali.

Paredes limpas. Cama impecável. Nada pessoal.

Nenhum retrato.

Nenhum passado.

Ele me ofereceu um canto do colchão.

— Sem contato — disse ele.

— Nem em sonhos — respondi.

Nos deitamos. Um abismo entre nossos corpos.

Mas o silêncio era um campo de batalha.

Apaguei a luz.

Ele respirava fundo, tenso.

— Dante — sussurrei.

— Hm?

— Eu não vou morrer aqui.

— Não.

— E sabe por quê?

— Porque agora eu sou sua esposa?

— Não, Serena.

Porque agora… você é a única coisa que me mantém vivo.

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