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Capítulo 5 – O Beijo na Beira do Abismo

A tempestade começou por volta das três da manhã.

Raios riscavam o céu como punhais elétricos, e a mansão tremia a cada trovão. O tipo de noite que os mortos escolhem para voltar — e os vivos, para cometer erros.

Eu andava em círculos no quarto, o coração tão agitado quanto o céu lá fora.

Depois do que vi... depois do que senti…

Ficar trancada sozinha parecia mais perigoso do que qualquer inimigo externo.

Bati na porta dele.

Dessa vez, não para provocar.

Não para desafiar.

Mas porque, pela primeira vez… eu não queria ficar sozinha com meus pensamentos.

Dante abriu quase imediatamente.

Sem camisa.

Pele úmida.

Cabelos bagunçados.

— Serena…

— Não diga nada — murmurei, entrando antes que a coragem me traísse.

Ele fechou a porta atrás de mim.

O quarto estava em meia-luz.

O ar, denso.

— Não vim brigar — acrescentei.

— E veio fazer o quê?

Nos encaramos. Longamente.

Até que respondi, com voz baixa e honesta demais:

— Vim me perder.

Ele deu um passo na minha direção.

E foi quando tudo desabou.

— Por que você me olha assim? — perguntei, a voz embargada.

— Porque você é um incêndio — respondeu ele. — E eu sou o idiota que ficou assistindo, achando que poderia sair ileso.

Me aproximei.

Tão perto que podia sentir a vibração da respiração dele contra a minha pele.

— Então… pare de assistir.

Ele hesitou. Só um segundo.

Mas foi o suficiente para que eu visse: ele ainda lutava contra isso. Contra nós.

E então, o trovão explodiu lá fora.

Como se o céu nos empurrasse.

E ele me beijou.

Não foi suave.

Não foi gentil.

Foi um beijo de quem esperou demais. Sofreu demais.

De quem odiou… e desejou ao mesmo tempo.

Minhas mãos encontraram os ombros dele.

A boca dele encontrou toda a raiva acumulada na minha.

O gosto era o de um juramento sendo quebrado.

O gosto de promessas sendo esmagadas pela pele, pelos dentes, pela urgência.

Ele me empurrou contra a parede, a mão em minha cintura, a respiração descompassada.

Não havia mais lógica.

Nem guerra.

Só nós dois.

Finalmente sem máscara.

— Isso é errado — ele sussurrou entre beijos, os lábios roçando meu pescoço.

— Tudo em nós é errado.

— Você me odeia.

— Odeio mesmo.

— E mesmo assim…

— Me beija de novo — pedi, antes que o orgulho voltasse.

Ele obedeceu.

E o mundo inteiro desapareceu.

Horas depois, estávamos deitados lado a lado, ofegantes, com os corpos ainda em chamas.

Nenhuma palavra foi dita por longos minutos.

Mas algo havia mudado.

Irreversivelmente.

— Isso não pode acontecer de novo — ele disse, enfim.

Virei o rosto.

— Por quê?

— Porque agora eles vão saber.

— Quem?

— Todos.

— Saber o quê?

Ele se sentou na cama, o rosto entre as mãos.

— Que eu me importo com você.

O silêncio ficou pesado.

Como se até as paredes estivessem ouvindo.

— Isso é uma fraqueza? — perguntei.

— É a fraqueza fatal de qualquer Don — respondeu ele, sem me olhar. — Ter algo… ou alguém… que pode ser usado contra ele.

Me levantei, vesti meu robe de seda, amarrei com firmeza.

A raiva voltando, lentamente, misturada com algo que eu ainda não queria nomear.

— Então você vai fingir que nada aconteceu?

— Não posso fingir.

— Mas vai apagar?

Ele ficou em pé também, agora perto demais.

— Serena… você me destruiu esta noite.

— E o que pretende fazer com isso?

Ele se aproximou, tocou meu rosto com os dedos quentes.

Havia dor nos olhos dele.

Havia rendição.

Mas ainda havia resistência.

— Proteger você. Mesmo que seja de mim.

Voltei para meu quarto com os lábios ainda ardendo.

Com o corpo pedindo mais.

E a alma… dividida entre a vingança e a verdade.

O homem que eu devia odiar… acabava de me mostrar um lado que ninguém jamais conheceu.

E esse lado me chamava com mais força do que qualquer motivo para fugir.

Na manhã seguinte, encontrei Lorenzo no corredor.

Ele me lançou um olhar curioso, quase... divertido.

— Dormiu bem?

Ignorei.

— Alguma novidade?

— Só que uma nova carta chegou.

Dessa vez… com seu nome escrito.

Na sala de reuniões, a carta estava sobre a mesa.

Papel grosso. Caligrafia afiada.

Dante me olhou quando entrei.

— Abre — disse ele, tenso.

Abri.

“Don Morelli,

Você se deixou enfraquecer.

E ela vai pagar o preço.

Começa hoje.

Com sangue.”

Meu coração parou.

— Isso é uma ameaça direta — disse eu, tentando manter a calma.

Dante se levantou.

— Não.

É um aviso.

Os olhos dele arderam de novo.

Mas não era o mesmo homem de antes.

Era o Don.

De volta ao controle.

Mas agora… com algo a perder.

— A guerra vai começar, Serena.

E quando ela vier…

Você vai ter que escolher de que lado está.

E pela primeira vez, eu não soube a resposta.

Porque o lado dele…

Era o mesmo que estava começando a invadir o meu coração.

E eu ainda sentia o gosto daquele beijo.

O beijo na beira do abismo.

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