Mundo de ficçãoIniciar sessãoLyria nunca soube quem realmente era. Criada longe das sombras que cercaram sua família, ela sempre sentiu que havia algo errado… ou incompleto dentro dela. Tudo muda quando o medalhão herdado da mãe começa a pulsar como se tivesse um coração próprio. E cada pulsação parece sussurrar seu nome — como um aviso. Na mesma noite em que a lua cheia surge gigantesca no horizonte, Lyria presencia algo impossível: o retorno de sombras que pertenciam ao passado dos seus pais… e a aparição silenciosa de alguém que parece observá-la desde sempre. Entre o chamado de uma herança proibida e a presença de um amor destinado — e perigoso — Lyria descobre que é muito mais do que filha de um Alfa e de uma mulher silenciada pela magia. Ela é a chave de um pacto ancestral quebrado. O elo entre dois mundos que não deveriam coexistir. E o motivo de uma guerra prestes a despertar. Caçada. Protegida. Desejada. Temida. Todas as forças se movem por causa dela. E Lyria precisará escolher qual parte de si mesma irá salvar… e qual precisará sacrificar.
Ler maisA floresta estava escura demais para uma noite comum. Não havia animais, nem vento, nem som. O silêncio parecia anunciar apenas uma coisa: eles estavam próximos.
Ela corria.
Os pés batiam no chão úmido, o coração disparado, a respiração curta. O medalhão preso em sua mão brilhava em pulsos rápidos — como se alertasse que o tempo estava acabando.
Um estalo ecoou atrás dela.
Ela olhou por cima do ombro e viu as sombras se levantando entre as árvores. Altas, tortas, se moviam como fumaça presa num corpo. O ar ficou gelado.
— Não hoje… — ela murmurou, acelerando.
O caminho estreito levou até uma clareira circular. No centro, o ar tremulava como se estivesse sendo rasgado. Uma luz azulada se espalhava no chão, iluminando as pedras antigas.
O portal.
Ele nunca estivera tão instável.
Ela correu até ele. O medalhão reagiu, brilhando mais forte. A luz dentro do portal aumentou, puxando o vento para dentro da fenda como um redemoinho.
Mas o som atrás dela fez seus cabelos arrepiarem.
Passos.
Ela se virou rápido.
A primeira criatura saiu da escuridão — magra, comprida, sem rosto, apenas dois rasgos prateados onde deveriam ser olhos. Outras surgiram logo atrás.
Ela apertou o medalhão com força.
— Vocês não podem tê-la — ela disse.
A voz da criatura não veio da boca. Veio do ar.
— Ela pertence ao outro lado.
A mulher deu um passo para trás, aproximando-se do portal.
— Não enquanto eu respirar.
As sombras avançaram.
Ela levantou o medalhão. A pedra estourou numa luz prata que cortou o chão como uma lâmina. As criaturas recuaram, gritando agudo, mas não pararam. Elas nunca paravam.
A mulher virou-se para o portal. A luz puxou seu braço para frente, como se pedisse o medalhão. Era agora. Era a última chance.
— Me ajuda… só mais uma vez — ela sussurrou.
A pedra respondeu com outro pulso intenso.
Ela encostou o medalhão na rachadura.
Um estrondo atravessou a clareira. A luz explodiu, empurrando tudo para longe. O portal se abriu completamente por um segundo — um único segundo — revelando a cidade do outro lado: torres escuras, céu manchado, soldados correndo.
E então começou a fechar.
A mulher caiu de joelhos. A energia drenava seu corpo como se arrancasse sua vida pela pele. Ela não soltou o medalhão.
Atrás dela, uma criatura gritou:
— A herdeira precisa cruzar!
— Ela não vai — a mulher respondeu, firme. — Nunca pela mão de vocês.
O portal fechava rápido. A luz diminuía. O tempo acabava.
Ela levou a mão ao ventre — uma barriga pequena, mas suficiente para lembrar a razão de tudo. Lá dentro, a criança se mexeu.
— Você vai viver — ela sussurrou. — Mesmo sem mim. Mesmo longe do seu mundo.
Um galho quebrou perto.
Alguém chegou.
Mas não era criatura.
Eram soldados — guerreiros do próprio reino dela. Armaduras prateadas, lanças de energia, máscaras escuras. Eles cercaram a clareira com passos firmes.
Na frente deles, veio o comandante. Alto, rígido, com olhos frios que brilhavam igual ao medalhão.
— Você desobedeceu o conselho — ele disse. — Abriu o portal sozinha. E tentou salvar a criança.
— Ela é minha filha — a mulher respondeu, sem medo.
— Ela é uma herdeira — o comandante rebateu. — E herdeiros pertencem ao reino.
Ela segurou o medalhão junto ao peito.
— Não enquanto eu viver.
O comandante ergueu a mão. A lâmina de luz se formou ao redor do punho.
— Você não deixa escolha.
A criança chutou dentro dela. A mulher fechou os olhos por um instante — um único segundo de despedida silenciosa.
Quando abriu de novo, olhou não para o comandante, mas para o garoto parado atrás dele.
Um menino de uns onze anos, olhos prateados idênticos aos dela, marca recém-gravada no pulso — símbolo de guardião. A expressão dele era assustada, mas firme.
Ela o reconheceu.
E ele a reconheceu.
— Kael… — ela chamou, com a voz fraca.
O garoto engoliu em seco. O comandante virou-se para ele por instinto, e foi nesse instante que a mulher falou:
— Quando ela despertar… proteja. Mesmo que precise mentir. Mesmo que precise ser duro. Mesmo que precise enfrentá-los. Proteja minha filha.
Kael apertou os punhos, o olhar tremendo.
O comandante avançou.
A mulher fez força. Toda que tinha. Encostou o medalhão no chão, bem no limite onde o portal fechava. A pedra brilhou mais uma vez — uma última vez.
A luz prateada engoliu tudo.
O portal se fechou com um estrondo tão forte que derrubou metade dos soldados.
Quando a poeira baixou, ela estava caída no centro da clareira.
Ainda respirava.
Por dois segundos.
Depois, não mais.
O medalhão sumira.
Os soldados se espalharam, desesperados. O comandante rugiu ordens. A clareira tremia, como se o mundo tivesse sentido a morte.
Kael ficou parado, olhando o corpo dela.
O comandante colocou a mão no ombro do garoto.
— Você viu onde o medalhão foi parar?
Kael fechou os olhos.
— Não — respondeu.
O comandante estreitou os olhos.
Kael manteve a voz firme:
— O portal fechou rápido demais. Não deu para ver nada.
Foi a primeira mentira do garoto.
Mas não seria a última.
Porque naquele instante, ele sabia:
A herdeira havia escapado.
E um dia, ele teria que buscá-la. Viva ou morta.
A presença da Filha Perdida preenchia tudo.Não tinha rosto, mas tinha presença. Não tinha voz, mas cada palavra dela vibrava dentro do peito de Lyria. A capa cinza ondulava, mesmo sem vento.A mãe ficou entre Lyria e a figura, como se quisesse impedir contato.“Você não deveria estar aqui.”A Filha Perdida inclinou a cabeça.“E você não deveria ter mentido.”Lyria sentiu o ar ficar pesado.Mentido?Ela olhou para a mãe.— O que ela quer dizer com isso?A mãe não respondeu.A figura avançou devagar.“Sua mãe te trouxe para a Terra Entre Mundos para te proteger.”“Mas também… para esconder a verdade.”Lyria fechou os punhos.— Que verdade?!A Filha Perdida ergueu a mão.O chão inteiro tremeu.E uma visão se formou — não como memória, mas como janela aberta:A mãe de Lyria parindo duas crianças, gêmeos, luz e sombra.Mas ao fundo, havia TERCEIRA forma.Um pequeno corpo, quase etéreo. Fraco. Frágil.E a mãe — desesperada — segurando aquele bebê que não respirava.Lyria levou a mão à
Os Caçadores do Vazio avançavam.Não corriam. Deslizavam. Como se não tocassem o chão — como se o espaço cedesse para deixá-los passar.Corpos altos e longos demais, pele branca sem textura, bocas abertas em silêncio absoluto.Lyria respirou fundo.As três trilhas brilhavam atrás dela…luzsombravazio… e agora ela sabia que não tinha minutos. Tinha segundos.A mãe falou atrás dela:“Eles só podem existir neste lugar.”“E só atacam aquilo que ameaça a ordem.”Lyria estreitou os olhos.— Então é pessoal.A figura da mãe se dissolveu um pouco com a aproximação dos Caçadores.“Lyria… esses seres já mataram guardiões inteiros. Você precisa decidir agora qual trilha vai usar.”Lyria olhou para os três caminhos.Sentiu o peito se apertar.— E se eu escolher errado?A mãe não respondeu.Os Caçadores chegaram a poucos metros. Não faziam barulho. Não tinham cheiro. Não tinham sombra.Eran diria que eles eram “a ausência do que existe”.Kael diria que eram “uma ameaça”.Elyon diria que
A Terra Entre Mundos era silêncio — não o silêncio vazio, mas o silêncio cheio de coisas que não falavam, apenas observavam.Lyria se aproximou da porta suspensa.Ela estava no ar, sustentada por nada, como se a realidade tivesse decidido que estrutura era opcional ali. Madeira escura, veias douradas pulsando como se fossem vivas, runas antigas gravadas na superfície.A luz da figura da mãe se aproximou atrás dela sem fazer sombra.“Você precisa entrar.”Lyria respirou fundo.— O que tem do outro lado?A silhueta respondeu como vento quente:“Verdade.”Ela não sabia se queria verdade. Não agora. Não assim.Ainda havia terra nos cabelos da queda, sangue seco nos lábios, o peito preso entre três homens e um destino que não pediu.Mas a porta pulsou.Chamando.— E se eu não estiver pronta?“Você está.”“Só não acredita.”Lyria ergueu a mão.A porta reagiu antes de ser tocada — abriu-se sozinha, com um som de madeira respirando.Um ar frio tocou o rosto dela.E a escuridão do interior n
O coração do território estava ruindo como um castelo de areia sendo engolido por maré. As paredes derretiam, o chão se abria em fendas profundas, e o ar vibrava tão forte que doía nos ouvidos.Kael foi o primeiro a recuperar o fôlego.— LYRIA! — ele gritou, mesmo sabendo que ela já não podia ouvir.A fenda tinha se fechado atrás dela. Selada. Irreversível.Ele socou o chão com tanta força que o punho sangrou.— EU DISSE QUE IA PROTEGER VOCÊ, MALDIÇÃO!Eran agarrou o braço dele antes que ele avançasse para o vazio.— Você vai morrer se chegar perto! A abertura desapareceu — não existe mais!Kael berrou, quase sem voz:— ENTÃO EU ABRO DE NOVO!Eran o puxou de volta com força, os olhos cheios de urgência.— Kael, escuta. O coração caiu. A natureza desse lugar mudou. Não tem mais selo para abrir — ela saiu do mapa. Ela está em outro eixo.Kael empurrou Eran com raiva.— VOCÊ NÃO SABE ONDE ELA TÁ!Eran devolveu, firme:— E você também não!Ambos pararam quando sentiram um peso atr
A luz da fenda engoliu Lyria inteira.Não havia peso. Não havia som. Não havia chão.Só um vazio branco, tão silencioso que parecia machucar.Ela tentou respirar — não conseguiu. Tentou falar — nada saiu. Tentou mover o corpo — estava suspensa, flutuando, como se estivesse presa num sonho que não era sonho.Então veio o impacto.Não físico. Emocional.Uma sensação familiar. Uma presença.Não Elyon.Não Kael.Não Eran.A mãe.Lyria abriu os olhos de uma vez.E viu.Um campo negro que parecia céu e chão ao mesmo tempo. Estrelas quebradas flutuando como fragmentos de vidro. Caminhos que se moviam sozinhos. Portas suspensas no ar, sem parede alguma.A Terra Entre Mundos.O lugar proibido.Aonde só um guardião já havia entrado.A mãe dela.Lyria caiu de joelhos, arfando.O chão era firme, mas não sólido. Parecia… memória condensada.O medalhão no peito dela vibrava, respondendo ao ambiente.— Onde… estou?A resposta veio com o vento.Uma voz feminina, suave, profunda — como se es
O mundo explodiu.Não devagar. Não como um tremor. Mas como se o coração do território tivesse sido arrancado pela raiz.O chão se partiu. O teto desabou em blocos enormes. A fissura atrás do Primordial abriu um grito vermelho que parecia cortar o ar.Lyria ainda era luz — a nova luz — mas o poder vibrava tão forte que ela mal conseguia manter o corpo íntegro.Elyon avançou primeiro.— Lyria! Sai daí! O núcleo vai te engolir! — ele gritou, finalmente sem arrogância.Kael estava tentando se levantar, mesmo tonto, sangue escorrendo na testa.— ELYON, NÃO ENCOSTA NELA! — Kael urrou.Eran ergueu a lâmina azul e cortou uma pedra que caía, puxando Kael pelos ombros.— Levanta! Se ela cair no centro, acabou. Ela vira parte do coração!O Primordial rugiu — não de dor, mas de FÚRIA — porque o poder dela agora feria ele.A sombra dele recuou, queimando. Como se a luz dela fosse veneno.Lyria cambaleou, levando a mão ao peito.— Eu não consigo… parar isso…!O território tremia tanto que par
Último capítulo