Início / Lobisomem / LYRIA — A Filha do Destino / CAPÍTULO 4 — O LUGAR ENTRE OS MUNDOS
CAPÍTULO 4 — O LUGAR ENTRE OS MUNDOS

A luz foi tão forte que Lyria pensou que ia desmaiar. O chão desapareceu, o ar desapareceu, até o próprio corpo parecia ter ficado para trás. Era como atravessar água fervente e gelo ao mesmo tempo.

Quando seus pés finalmente tocaram alguma superfície sólida, ela caiu de joelhos.

Kael puxou-a antes que ela batesse o rosto no chão.

— Respira — ele disse.

Ela tentou, mas o ar parecia grosso demais, pesado demais. Como se o próprio ambiente rejeitasse sua presença.

Lyria olhou em volta.

Nada ali parecia real.

O céu era cinza, sem estrelas, sem lua. Apenas uma massa opaca que não se mexia. O chão parecia pedra, mas respirava em ondas lentas, como se estivesse vivo. Árvores retorcidas cresciam para baixo, não para cima. A luz vinha de lugar nenhum e de todos ao mesmo tempo.

— Onde… onde nós estamos? — ela perguntou, engolindo o pânico.

Kael estendeu a mão e a ajudou a ficar de pé.

— Entre os mundos — ele respondeu. — Não é o portal completo. É um corredor. Uma fenda. Um lugar de passagem.

Lyria engoliu seco.

— Isso aqui é real?

— É o mais real que existe — Kael disse. — Só não deveria existir… tão aberto assim.

O vento soprou, trazendo um cheiro metálico. Lyria se arrepiou inteira.

— Kael… — ela chamou baixo. — Aquele… rugido. Ele veio atrás da gente?

Kael ergueu o rosto, atento.

— Não. Os caçadores não conseguem atravessar esse tipo de fenda tão rápido. Ainda estamos alguns passos à frente.

Ele se aproximou dela, observando o medalhão.

— Mostra.

— Não. Você não é dono de nada meu.

Kael não discutiu. Apenas esperou.

O medalhão tremia como se tentasse escapar do próprio metal.

Lyria suspirou, derrotada. Levantou a corrente.

Kael aproximou os dedos da pedra, mas não tocou.

O brilho aumentou, reagindo à presença dele.

Lyria deu um passo para trás.

— Por que isso sempre acontece quando você está perto?

Kael manteve os olhos fixos nela.

— Porque o medalhão reconhece o meu juramento.

— Juramento? — ela franziu o cenho. — Que juramento?

Kael desviou o olhar pela primeira vez.

— Um que eu fiz quando ainda era criança.

— Para quem?

Kael não respondeu.

O silêncio pesou.

Lyria apertou o medalhão.

— Você disse que conhecia minha mãe — ela insistiu. — Eu quero saber quem ela era. Eu quero saber por que deixaram ela morrer. Eu quero…

Kael interrompeu:

— Você não está pronta para ouvir isso agora.

Lyria deu um passo à frente, furiosa.

— NÃO ESTOU PRONTA?! Meu mundo acabou em meia hora! Minha casa está sendo atacada! Criaturas tentaram me matar! Eu atravessei um negócio que nem deveria existir! E você tem coragem de dizer que eu não estou pronta?!

Kael sustentou o olhar.

— Sim.

Ela ficou sem ar.

Ele continuou:

— Porque se eu te contar agora, você vai querer voltar. E se você voltar… eles te matam em minutos.

Lyria mordeu o lábio até quase doer.

Kael respirou fundo.

— Vamos caminhar. Este lugar não é seguro por muito tempo.

Eles seguiram por um caminho estreito entre pedras pulsantes. A sensação de que algo observava cada passo era sufocante. O ar parecia pesado demais para respirar.

Depois de alguns minutos, Lyria precisou perguntar:

— O que exatamente eu sou?

Kael parou.

Olhou para ela com calma.

— Uma herdeira.

— Eu sei disso — ela rebateu — mas herdeira de quê?!

Kael aproximou-se.

— De um poder que ninguém do seu mundo deveria ter. De um sangue que não deveria existir na Terra. De um legado que sua mãe tentou destruir… e que você reviveu sem querer.

O coração dela acelerou.

— Que poder? — ela sussurrou.

Kael inclinou a cabeça.

— O tipo de poder que faz sombras atravessarem mundos só para te capturar.

Lyria ficou gelada.

— E… e o que eu faço com isso?

— Aprende a controlar — ele disse. — Ou morre. Ou pior.

— Pior que morrer? — ela desafiou.

Kael segurou o antebraço dela, como se quisesse mostrar algo.

— Eles não te matariam rápido. Você é valiosa demais.

Lyria puxou o braço.

— Eu não quero ser valiosa pra ninguém!

Kael respondeu sem hesitar:

— Então lute para não ser.

Ela não soube como responder.

O chão tremeu.

Kael levantou o rosto rapidamente.

— Eles acharam a entrada.

Lyria arregalou os olhos.

— COMO?!

— Porque o medalhão chama por você. Quanto mais você entrar em pânico, mais ele brilha. E quanto mais ele brilha… mais fácil fica de te localizar.

Lyria olhou para a pedra, desesperada.

— Eu não sei desligar isso!

— Eu sei — Kael disse, avançando.

Ele segurou os ombros dela e encostou a testa na dela.

A respiração dele estava quente e firme.

— Respira comigo — ele ordenou.

Lyria tentou recuar, mas ele a segurou.

— Respira.

Ela obedeceu.

Kael fechou os olhos. O medalhão pulsou uma vez… depois outra… depois diminuiu.

Lyria sentiu o corpo inteiro desacelerar.

— Como você fez isso? — ela sussurrou.

Kael abriu os olhos.

— Eu fui treinado para isso.

O tremor aumentou.

Kael se afastou rápido.

— Eles estão perto demais. Precisamos sair desse corredor antes que ele colapse.

— E se colapsar? — Lyria perguntou.

— Nós dois morremos esmagados entre dois mundos — ele disse, simples, direto. — Então anda.

Lyria correu ao lado dele.

O caminho estreito levava até uma abertura maior — uma espécie de arco feito de pedra viva, que se movia como se respirasse.

Kael parou diante dele.

— Do outro lado, tem uma parte do meu mundo. Um lugar seguro o suficiente para você. Não confortável. Mas vivo.

Lyria respirou fundo.

— Eu vou ver… o seu mundo?

Kael assentiu.

— A partir daqui, nada volta a ser como antes.

Ela olhou para trás. O corredor estava se fechando, como se mãos gigantes empurrassem as paredes em direção a eles.

O rugido ecoou.

Lyria deu um passo à frente, mas hesitou.

— Kael… — ela disse baixinho. — Minha família…

Ele respondeu sem hesitar:

— Vão viver. Se você sobreviver.

O rugido ficou mais alto.

A pedra atrás deles trincou.

Kael puxou a mão dela.

— É agora.

Lyria fechou os olhos.

E atravessou o arco.

A luz mudou. O ar mudou. O chão mudou.

E pela primeira vez, ela viu o mundo que sempre pertenceu — mesmo sem saber.

O mundo que agora ia decidir se ela viveria… ou seria caçada para sempre.

E esse foi só o início.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App