"Os olhos de Ivy se estreitaram, cheios de incredulidade e nojo. — Você quer me usar para... ter um filho? — É isso ou sua morte. — Lucian se inclinou, a voz afiada como uma faca. — Mas, se aceitar o acordo, depois que o nosso filho nascer, você terá minha palavra: poderá ir embora. Para onde quiser. Livre. Ivy ficou em silêncio, cada músculo de seu corpo tenso, processando as palavras dele. — E como posso acreditar em você? — ela disparou, com os olhos cheios de lágrimas." Ivy é uma escrava do Alfa Lucian desde que ele matou os seus pais há dois anos e a aprisionou junto com o seu irmão. No dia de sua execução, para a sua surpresa, o Alfa Lucian segura o machado que a mataria e revela que ela é sua companheira destinada. Seu destino estava ligado ao lobo que matou quase toda a sua família, mas Ivy prefere morrer do que se tornar sua Luna. Lucian não querendo ir contra os desígnios da deusa Selene, que pune aqueles que machucam seus companheiros destinados, oferece um acordo a Ivy; se ela aceitasse ser sua Luna, ele libertaria o seu irmão e após ela conceber um filho homem, estaria livre para deixar a alcateia. Ivy aceita, mas será que ela pode confiar na palavra de Lucian, o alfa cruel e impiedoso que matou seus pais friamente? Ou isso era uma oportunidade dela vingar seus pais? Mas como ela poderia ignorar o profundo desejo entre os dois e manter seu coração afastado?
Ler mais— Não importa o que aconteça, Ivy, eles já nos condenaram. O único consolo que me resta é que, ao menos, estaremos juntos até o fim.
Os corredores escuros da masmorra vibravam com o eco da voz de Ethan e das gotas d'água que caíam das paredes frias de pedra.
Ivy estava sentada contra a parede, o metal gélido das correntes apertando seus pulsos e tornozelos. Ela havia perdido a noção do tempo ali dentro. Dois anos pareciam uma eternidade, um ciclo interminável de escuridão, fome e silêncio quebrado apenas pelos gemidos baixos de dor de seu irmão preso na cela ao lado.
— Juntos até o fim, sim. — Ivy finalmente responde. — Mas isso não significa que vamos morrer sem lutar.
Ethan não tivera tempo de rebater a resposta coberta de resignação e coragem de sua irmã, porque no mesmo instante, surgiu uma luz no fundo do corredor. A luz fraca das tochas iluminava os passos calculados de Lucian, o alfa. Ele era uma figura intimidante, com ombros largos e olhos que pareciam queimar de raiva eterna.
Ivy o observava de soslaio sempre que ele aparecia, mas nunca o encarava diretamente. Não por medo — ela havia perdido a capacidade de temer após o que ele fizera a seus pais —, mas porque sabia que seus olhos carregavam a mesma chama desafiadora que os de sua mãe, algo que parecia enfurecê-lo ainda mais.
Quando Lucian parou diante de sua cela naquela noite, algo estava diferente. Ele não trouxe as ameaças habituais nem a lembrança cruel de suas derrotas. Em vez disso, suas palavras eram curtas, mas carregadas de um peso que fazia o ar na masmorra parecer mais denso.
— Amanhã, os anciãos decidirão o destino de vocês.
E simples assim, ele se foi, deixando apenas o som de suas botas ecoando no corredor. Ivy sentiu um aperto no peito, mas não disse nada. Sabia que aquele dia, mais cedo ou mais tarde, chegaria.
Ethan, porém, murmurou com a voz rouca outra vez:
— Eles não vão nos poupar, Ivy. Você sabe disso.
Ela apertou os punhos, sentindo o metal das correntes cortar sua pele.
— Eu sei. — Confessa, ainda que mentalmente faça planos de como poderia escapar do seu destino inevitável.
***
Na manhã seguinte, a praça da alcateia Lúgubre estava tomada. Os lobos se reuniram, murmurando entre si, os olhares curiosos e famintos por justiça, enquanto aguardavam pela chegada dos criminosos.
Ivy e Ethan foram levados da masmorra sob o olhar vigilante dos guardas. O brilho do sol era quase insuportável depois de tanto tempo no escuro, mas Ivy ergueu a cabeça, recusando-se a demonstrar fraqueza.
Com um único olhar para seu irmão, demonstrou força e nenhum tipo de arrependimento sequer.
Assim que chegaram no centro da praça, os anciãos estavam sentados em um semicírculo elevado, suas expressões eram de pedra, apáticos; como se não estivessem prestes a decidir algo cruel.
O mais velho deles se levantou, e sua voz ecoou pela praça:
— Ivy e Ethan Kaelen, da Alcateia Sanguínea, os declaro culpados pela traição de seus pais. Por suas ações, nossa alcateia perdeu um líder. Justiça será feita; vossas execuções serão no amanhecer.
O veredicto foi rápido. Ivy sentiu o peso da decisão como uma pedra sobre seu peito, mas não vacilou. Antes que os guardas pudessem arrastá-los de volta a masmorra, a praça inteira ficou silenciosa de repente, dominada pela presença recém chegada e esmagadora de Lucian.
Ele entrou com passos firmes, seu olhar implacável varrendo a multidão de lobos reunidos. O alfa não precisava falar; sua aura de poder e autoridade falava por si. Ele caminhou até o centro, onde os anciãos estavam reunidos, suas figuras altas e severas como as pedras que cercavam a praça.
Apenas a leve brisa fazia as folhas das árvores ao redor se moverem. As correntes de Ivy e Ethan faziam um som metálico, um lembrete do destino cruel que os aguardava.
O olhar de Ivy foi direto para Lucian, mas sem emoção. Ela já havia aprendido a se fechar, a não ceder a nada que fosse vulnerabilidade. Mas Ethan, seu irmão, estava ao seu lado, mais tenso que nunca, as mãos tremendo nas correntes.
Lucian, no entanto, permanecia impassível. Ele observou Ivy de longe, como um predador que sentia o aroma da caça no ar. A execução parecia inevitável, mas algo o incomodava. Seus olhos, frios e calculadores, se fixaram na jovem à sua frente.
— Levem-nos de volta para a masmorra. — O ancião anuncia, chamando a atenção dos guardas.
Quando os guardas começaram a arrastar Ivy e Ethan, algo no ar mudou.
A fragrância de Ivy, o cheiro doce e quente de sua pele, invadiu os sentidos do alfa, de Lucian. Um cheiro que ele nunca havia notado antes, mas que agora parecia penetrar em sua alma, uma atração que o puxava como um ímã.
Lucian deu um passo em direção a ela, seu coração batendo mais forte, uma sensação estranha e indomável surgindo dentro de seu peito. Ele fechou os olhos por um momento, tentando controlar o turbilhão de sentimentos que o assolava. Mas o cheiro… aquele cheiro inconfundível… ele sentiu sua respiração mudar, seus sentidos aguçados se alinhando de uma maneira que ele nunca havia experimentado.
Ivy. Era ela. A companheira destinada que ele jamais esperaria encontrar ali, diante de seus olhos, no meio de sua vingança, no sofrimento de sua própria alcateia. O destino, implacável e cruel, o havia colocado diante dela.
A sua prisioneira era a sua companheira destinada; a mulher que ele deveria desprezar, que ele deveria destruir, mas que agora, em sua presença, lhe fazia sentir algo muito mais complexo. Algo que ele não estava preparado para aceitar.
Com um movimento brusco, ele olhou para os guardas, que estavam empurrando Ivy para as escadas da masmorra. O instinto foi mais forte que sua razão. Ele se aproximou deles com passos rápidos, sua presença poderosa, que imediatamente fez com que os guardas parassem e o olhassem, tensos.
— Deixe-a. — Sua voz saiu fria, cortante, mas algo em seu tom carregava uma ordem que não poderia ser ignorada.
Os guardas, apesar do desconforto, obedeceram. Ivy foi solta de suas correntes momentaneamente, e ela olhou para Lucian com uma expressão que não se encaixava em sua dor. Ela não sabia o que ele queria, mas algo no fundo de seu ser sabia que aquela presença significava mais do que parecia.
Ivy tentou afastar o olhar de Lucian quando ele se aproximou, mas algo nela não permitiu. Seus olhos azuis estavam fixos nele, como se fossem puxados por uma força invisível. O cheiro dele atingiu seus sentidos com intensidade — um aroma amadeirado e profundo, com um toque de algo selvagem e indomável, que fez seus pulmões se encherem involuntariamente.
De repente, foi como se algo se rompesse dentro dela. Um calor estranho percorreu seu corpo, aquecendo até os cantos mais frios de sua alma. Ela sentiu um peso no peito, uma pressão inexplicável, como se o ar ao redor tivesse mudado. Seu coração acelerou, batendo contra suas costelas como se quisesse sair dali e encontrá-lo.
— Não… — Ivy sussurrou para si mesma, baixinho, quase sem som, tentando afastar o que estava acontecendo.
Lucian se aproximou, os olhos fixos nela com intensidade. Ivy tentou não ceder, mas o cheiro dele, a presença esmagadora do alfa, a fazia sentir um turbilhão de emoções que ela mal podia compreender.
— Você… — Lucian começou, sua voz baixa, quase um sussurro. — Você é minha companheira destinada.
O mundo ao redor parecia parar, e Ivy sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela não sabia o que aquilo significava, mas o olhar de Lucian falava por si. O ódio, a vingança, tudo o que ela sentia por ele parecia se desintegrar diante daquela revelação. O destino havia jogado suas cartas, e agora ela estava entrelaçada a ele de uma maneira que não podia ser desfeita.
Um calor repentino subiu pelo corpo de Ivy, a visão escurecendo nas bordas. Sua respiração ficou pesada, e ela cambaleou para trás, as pernas falhando sob o peso de sua exaustão.
— Ivy! — A voz de Ethan foi a última coisa que ela ouviu antes de tudo se apagar.
O vento soprava suavemente pelas colinas, carregando consigo o aroma de terra molhada e folhas recém-floridas. O céu estava tingido por tons dourados e alaranjados, enquanto o sol começava a se despedir no horizonte. Ivy estava parada na varanda da casa, os olhos voltados para a paisagem vasta à sua frente. Aquele lugar, que antes parecia uma prisão, agora era um lar. Ela passou a mão pela barriga, agora plana, sentindo a lembrança do peso que carregara por meses. Um sorriso suave surgiu em seus lábios quando ouviu um pequeno resmungo atrás de si. — Se você continuar aí fora por muito tempo, ele vai acordar e perceber que você sumiu — Lucian murmurou, encostando-se ao batente da porta. Ivy se virou para encará-lo. Ele parecia exausto, os cabelos bagunçados e a camisa aberta no peito, mas havia um brilho nos olhos dele que a fazia se sentir aquecida por dentro. — Eu só queria respirar um pouco — ela respondeu suavemente. Lucian caminhou até ela, e antes que pudesse reagir, e
Ivy piscou, processando as palavras do curandeiro, como se o tempo tivesse desacelerado ao seu redor. O peso daquela revelação atingiu-a como um choque elétrico. Seu coração disparou, sua respiração ficou rasa, e um frio percorreu sua espinha.— O… o quê? — sua voz saiu fraca, quase um sussurro.Lucian também não reagiu imediatamente. Seus olhos escuros estavam fixos no curandeiro, o corpo rígido como se tivesse acabado de ouvir algo impossível.O curandeiro manteve-se impassível, seu olhar afiado fixo nela.— Você está grávida — ele repetiu, cada sílaba carregada de uma certeza inquestionável.O mundo de Ivy girou.Ela levou a mão à barriga instintivamente, como se pudesse sentir algo ali, mas tudo parecia igual. Nenhuma mudança visível, nenhum sinal… e, ao mesmo tempo, tudo dentro dela se transformava em um redemoinho de emoções.Grávida.As palavras ecoavam em sua mente.Ela se virou lentamente para Lucian. Ele ainda estava imóvel, os olhos semicerrados, como se estivesse tentando
A escuridão cedia aos poucos.Um sussurro distante, um calor confortável envolvendo seu corpo, um toque familiar em sua pele. Ivy sentia-se flutuando entre o real e o desconhecido, a mente um emaranhado de memórias dispersas, como se estivesse presa em um sonho do qual não conseguia despertar.Mas, então, algo a puxou para a realidade.Seus olhos se abriram lentamente, piscando algumas vezes para se ajustar à luz suave que preenchia o quarto. O teto alto, os detalhes dourados nas molduras, os móveis de madeira escura… reconheceu imediatamente. Estava na mansão de Lucian.Seu corpo ainda parecia pesado, mas percebeu a sensação de lençóis macios contra a pele. O ar tinha um leve cheiro de lareira acesa, misturado ao perfume amadeirado que ela associava apenas a uma pessoa.Lucian.Virando a cabeça, o encontrou ali, sentado ao lado da cama, observando-a com um olhar que misturava alívio e cansaço.— Você acordou — a voz dele era grave, mas carregada de uma ternura que a fez sentir um cal
O que sobrou daquele ambiente mais parecia como uma enorme lápide.O silêncio absoluto. Implacável.Lucian permaneceu imóvel, o olhar vidrado no vazio onde sua mãe estivera segundos antes. Seu peito subia e descia em respirações irregulares, curtas demais, como se o ar simplesmente se recusasse a entrar.Ivy sentiu o mundo se inclinando ao seu redor. Suas pernas falharam, e ela teria caído se Lucian não estivesse ali, sustentando-a. Mas, ironicamente, ele próprio tremia tanto que parecia que seria ele quem desabaria a qualquer instante.Os dedos de Ivy se fecharam com força ao redor da manga da camisa dele, buscando um ponto de ancoragem.— Lucian… — sua voz saiu falha, quase um sussurro.Ele não respondeu.Um soluço tremeu em seus lábios antes de ser sufocado. O peito dele se contraiu de maneira violenta, e então ele finalmente caiu de joelhos.— Ela… se foi. — Sua voz quebrou.Ivy sentiu os olhos arderem.— Eu sei.A dor que pesava sobre ele era tão palpável que parecia um peso real
Tudo ao redor vibrava, como se estivesse prestes a desmoronar. As sombras sussurravam, ansiosas. O ar pulsava com uma energia ancestral, sufocante.Lucian segurava o olhar da mãe, os olhos ardendo com uma súplica muda. Ivy sentia o peito rasgar de dentro para fora, cada fibra do seu ser gritando contra aquilo. Mas então...— Isso não pode acontecer. — A voz de Alaric cortou o espaço, firme, inabalável.As sombras estremeceram. Grace virou a cabeça, surpresa. Lucian fechou os punhos.— Você não entende, Alaric… — Grace começou, mas ele já estava caminhando para frente, a mandíbula travada.— Não é assim que funciona! — ele rugiu, o tom carregado de autoridade. — Vocês não podem interferir dessa maneira!O silêncio que se seguiu foi como a calmaria antes da tempestade. As vozes sussurraram entre si, irritadas. Grace franziu o cenho.— Cale-se, Alaric. — Uma das vozes falou, cortante.Ele não recuou.— Isso não pode ser decidido dessa forma. Vocês sabem disso!As sombras se agitaram, imp
O silêncio daquela vozes, seguida da proposta de Lucian, foi pior do que qualquer grito.Ivy sentiu a garganta fechar, o pavor subindo por sua espinha como garras afiadas. As sombras ao redor deles pulsavam, quase como se estivessem saboreando aquele momento.Ela lutou contra a sensação de estar presa, os olhos fixos em Lucian, que se mantinha de joelhos, inabalável, esperando a resposta das vozes.— Você está louco? — sua voz saiu trêmula, a respiração entrecortada pelo desespero. — Você não pode fazer isso, Lucian!Ele não respondeu.Ele não olhou para ela.Não moveu um músculo sequer.Lucian só aguardava.— Lucian, pelo amor da Deusa Solene. — Ivy insistiu, a voz se tornando um grito sufocado. — Isso é suicídio! Você acha mesmo que vou permitir?Ainda, ele se manteve em silêncio.As sombras se moviam como serpentes ao redor deles, murmurando entre si, contemplando a oferta.Ivy sentiu as lágrimas queimarem seus olhos.— Fale comigo! Me olhe, droga!E então, ele olhou.E o que Ivy v
Último capítulo