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CAPÍTULO 2 — O QUE ELE VEIO BUSCAR

Kael entrou como se já conhecesse a casa. O capuz escorria água da chuva, os olhos prateados analisavam cada canto com precisão. Ele não parecia cansado, nem assustado. Parecia treinado.

E parecia perigoso.

Lyria deu dois passos para trás.

— Não chegue perto — o pai dela avisou, posicionando-se entre eles.

Kael nem olhou para ele.

— Precisamos ir. Agora.

Lyria apertou o medalhão contra o peito, sentindo a vibração aumentar.

— Eu não vou a lugar nenhum — ela disse. — Você apareceu do nada e entrou na minha casa como se fosse dono do mundo. Explica primeiro.

Kael finalmente a encarou com foco total.

Era como ser atravessada por lâmina.

— Explicar vai demorar tempo que vocês não têm.

A avó cruzou os braços.

— O vale já sentiu, não é?

Kael assentiu.

— A barreira está fina. Eles estão vindo. E quando chegarem, não vão perguntar nada. Vão levar o que vieram buscar.

— E o que seria isso? — Lyria rebateu, irônica, mas a mão tremia.

Kael deu um passo em direção a ela. O pai dela bloqueou de novo.

— Minha filha não vai a lugar nenhum.

Kael respirou fundo.

— Seu pai não pode impedir o que está acontecendo. Ninguém pode. Ela… — ele apontou para Lyria — …foi encontrada. Isso basta para começar a caça.

“Encontrada.”

A palavra grudou no peito de Lyria como um peso.

— Encontrada por quem? — ela perguntou.

Kael respondeu sem hesitar:

— Por todos que a querem morta. E por todos que a querem viva. Ela não pode ficar no meio.

Lyria sentiu o chão girar.

— Eu? — ela perguntou, sem acreditar. — Por quê? Eu sou só… eu sou só uma garota normal!

Kael soltou um riso curto, quase sem humor.

— Não. Você não é.

A avó tocou o ombro de Lyria.

— O medalhão reacendeu, filha. Era questão de tempo.

Lyria balançou a cabeça.

— Ninguém está dizendo o que isso significa. Ninguém está explicando nada. Eu estou cansada disso.

Kael suspirou, tirou o capuz e revelou o rosto.

Ele era jovem. Mais jovem do que ela pensava. Talvez um ano mais velho, no máximo. Mas os olhos… os olhos não tinham idade. Eram frios, calculados, e ao mesmo tempo carregavam um cansaço enorme.

— Eu vou falar claro — ele disse. — Se você ficar aqui, o vale vai virar um campo de batalha. Pessoas vão morrer. Inclusive você. Talvez primeiro você.

— E por que você se importa? — ela cortou. — Eu nem te conheço.

Kael a observou longamente antes de responder.

— Porque eu recebi uma ordem há muitos anos — disse ele. — Encontrar você. E garantir que chegue viva ao outro lado.

Lyria riu, incrédula.

— Outro lado? O que isso quer dizer? Outro país? Outra cidade?

— Outro mundo — Kael respondeu.

Lyria ficou em silêncio.

O pai ficou pálido. A avó não pareceu surpresa.

Kael continuou:

— O medalhão é a chave. Ele abriu e fechou o portal há dezoito anos. E agora despertou de novo. Isso significa que o limite entre os mundos está fraco. E os Sombr… — ele parou, corrigindo — …os caçadores sentiram.

A casa tremeu.

Um copo caiu da prateleira e quebrou no chão.

O pai arregalou os olhos.

— Já estão aqui?

Kael olhou em direção à porta.

— Ainda não. Mas estão perto.

Lyria sentiu o corpo gelar.

— E o que você espera que eu faça?

— Vir comigo — ele respondeu. — Agora.

— Para onde?

— Para onde você pertence.

Ela deu uma risada nervosa.

— Eu pertenço aqui. Nesta casa. Com meu pai. Com a minha avó.

Kael não piscou.

— Não mais.

A avó tocou o braço de Lyria, firme.

— Ele está dizendo a verdade.

— Vocês sabiam? — Lyria perguntou, a voz falhando. — Vocês sabiam de tudo isso e nunca me contaram?

— Tentamos te proteger — o pai disse. — Você era só um bebê. E depois… era fácil fingir que nada disso existia.

A avó completou:

— Mas você sempre soube que era diferente, Lyria. Sempre sentiu. O vale te respondeu a vida toda.

Lyria queria negar. Queria dizer que tudo aquilo era absurdo. Mas o medalhão queimava contra a pele. E ela lembrava da luz. Da figura na ponte. Do nome que ele disse.

Kaelith.

Kael a observava como se soubesse exatamente o que ela estava pensando.

— A decisão precisa ser agora — ele disse. — Ou eu te levo viva. Ou eles levam você do jeito deles.

O pai levantou a voz:

— Você não vai arrancá-la daqui à força!

Kael virou para ele.

— Eu não. Eles.

A casa tremeu de novo. Mais forte. As janelas vibraram.

A avó correu até o altar pequeno no canto da sala e acendeu uma vela, rezando palavras que Lyria não reconhecia.

Kael pegou Lyria pelo braço com firmeza.

Ela puxou de volta.

— Não me toca!

Ele não soltou.

— Se eu soltar agora, você morre.

O chão vibrou. Um som grave ecoou do lado de fora — como um rosnado profundo misturado a vento.

Kael olhou para a porta e falou baixo:

— O tempo acabou.

Lyria respirou rápido, o peito apertado.

— Eu… eu não sei quem você é. Eu não sei o que você quer…

— Eu quero te manter viva — ele disse. — O resto, você descobre do outro lado.

A avó gritou:

— Vai com ele!

As luzes da casa piscaram. Um estalo enorme soou na varanda.

Algo estava tentando entrar.

Lyria fechou os olhos.

Um segundo depois, os abriu — e falou:

— Eu vou.

Kael apertou a mão dela e a puxou em direção à porta dos fundos.

O pai tentou segui-los.

Kael apenas disse:

— Se você sair, eles vão te ver. Fica e protege a casa.

Foi cruel, mas honesto.

O pai parou. Os olhos dele se encheram de lágrimas.

— Volta pra mim, filha — disse.

Lyria quis responder. Mas o som de garras arranhando a parede externa cortou o ar.

Kael puxou-a com mais força.

Eles correram pela cozinha, atravessaram a porta dos fundos e entraram na escuridão do vale.

Atrás deles, algo rugiu.

E a caça começou.

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