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CAPÍTULO 3 — A CORRIDA PELO VALE

O vale parecia outro lugar naquela noite. Não era o mesmo caminho por onde Lyria passava todos os dias. O ar estava pesado, o chão vibrava em ondas, e a névoa rastejava tão rápido que parecia viva. Kael não soltou a mão dela nem por um segundo.

Ele corria como se conhecesse cada pedra, cada curva, cada árvore — mas Lyria tropeçava, quase caindo várias vezes.

— Aonde você está me levando?! — ela gritou, tentando puxar o braço.

— Para longe da casa — Kael respondeu, sem olhar para ela. — A barreira está quebrando.

Atrás deles, o rugido se repetiu. Mais alto. Mais perto. As garras arranharam a terra com força.

Lyria sentiu o coração explodir no peito.

— O que são essas coisas?!

— Caçadores — Kael disse. — Criaturas do outro lado. Foram feitas para sentir seu sangue.

— O meu sangue?! — ela quase tropeçou de novo. — Eu nem sei quem eu sou!

— Eu sei — ele respondeu. — E eles também.

A barriga dela gelou.

O vale se iluminou por um segundo com uma luz azulada — como um relâmpago silencioso — e Lyria viu as formas se aproximando. Altas. Deformadas. Como sombras presas em corpos tortos.

Ela quase parou de correr.

Kael puxou.

— Não olha — ele ordenou. — Se olhar muito tempo, eles te veem mais rápido.

— Eles já estão nos vendo rápido demais! — ela gritou.

Kael não negou.

— Por isso precisamos chegar antes deles.

Antes onde?

Ela não conseguiu perguntar. Seus pulmões ardiam.

Chegaram a uma fenda no chão, onde a água corria entre pedras. Kael pulou o riacho sem hesitar e estendeu a mão.

— Vem!

Lyria pulou, quase não alcançando. Ele a segurou pela cintura e a colocou do outro lado.

O toque durou meio segundo — mas foi o bastante para o medalhão vibrar com força. Kael olhou para o pingente, e o olhar dele mudou por um instante.

Algo como… reconhecimento.

Mas ele não teve tempo para falar.

Um uivo estridente cortou o ar.

Lyria se virou a tempo de ver duas criaturas avançando rapidamente, seus corpos retorcidos ganhando forma. A névoa corria atrás delas, puxada como correnteza.

— Kael! — ela gritou.

Ele ergueu o braço e a marca no pulso dele brilhou — um símbolo prateado em forma de meia-lua. Uma onda de luz saiu de sua pele, empurrando a névoa por alguns metros.

Não as criaturas.

Somente a névoa.

— Isso não vai segurá-las muito tempo — Kael disse, a voz tensa. — Anda!

Lyria correu ao lado dele. As criaturas ganhavam terreno. O som dos passos delas era errado — como se os ossos estalassem enquanto corriam.

O medalhão pulsou tão forte que queimou a pele.

— Por que isso está acontecendo comigo?! — ela gritou.

— Porque você despertou — Kael respondeu. — E porque agora todos sentem você.

— O que isso quer dizer?!

— Que você é a herdeira.

Lyria quase parou.

— Herdeira do quê?!

Kael segurou seu braço.

— Depois. Se a gente sobreviver.

Eles viraram por entre duas pedras grandes, onde a mata ficava mais fechada. Galhos arranhavam a pele dela, raízes prendiam seus pés, mas Kael seguia abrindo caminho com o antebraço, como se nada pudesse pará-lo.

O rugido atrás deles sacudiu o chão.

Lyria tropeçou.

As garras tocaram a pedra onde o pé dela estivera um segundo antes.

— KAEL! — ela gritou.

Ele voltou sem pensar. Agarrou a mão dela e a levantou com força.

— Corre, Lyria!

Ela correu. Não sabia se pelas pernas, pelo medo ou pelo instinto de sobrevivência que nunca tinha sentido antes.

A criatura saltou.

Lyria ouviu o ar rasgar atrás dela.

Kael puxou-a para o chão — os dois rolaram por baixo de um tronco caído. A criatura bateu no tronco com tanta força que ele estourou ao meio.

Lyria gritou.

Kael levantou primeiro e já estava puxando-a de novo.

— Chega! — ela gritou, chorando. — Chega! Eu não sei o que está acontecendo, eu não sei quem são eles, eu não sei por que eu—

Kael segurou o rosto dela entre as mãos.

O toque foi firme, urgente.

— Você vai saber tudo — ele disse. — Mas agora, você precisa confiar em mim.

— Confiar em você?! — ela tremia. — Eu nem sei quem você é!

— O único que está tentando te manter viva.

O chão vibrou como se algo enorme estivesse correndo por baixo.

Kael soltou o rosto dela.

— Eles abriram o segundo rastro. Estamos sem tempo.

Lyria sentiu a garganta secar.

— Segundo rastro?

Kael olhou para o medalhão.

— A passagem. A mesma que sua mãe tentou fechar.

A palavra “mãe” atingiu Lyria como um golpe.

— Você… você conhece minha mãe?

Kael desviou o olhar.

— Eu conheci.

O vale estremeceu novamente.

Kael segurou a mão dela com força.

— Estamos quase no ponto seguro. Depois disso, não tem volta.

Lyria mordeu o lábio, o coração batendo tão rápido que doía.

— O que acontece se eu não for?

Kael respondeu sem hesitar:

— Você morre.

A honestidade fria doeu mais que qualquer rugido.

Eles correram mais alguns metros e chegaram a um círculo de pedras pequenas, cobertas por runas apagadas. Era um local comum no vale — um ponto onde a avó dela acendia velas às vezes.

Mas agora, a terra ao redor pulsava com uma luz fraca.

Kael parou.

— É aqui.

Lyria ofegava.

— Aqui… o quê?

— O caminho. — Ele se aproximou das pedras. — Um portal menor. Fraco, mas suficiente para nos esconder até a passagem abrir.

Ele tocou a marca do pulso na pedra central.

As runas acenderam.

A névoa atrás deles se moveu violentamente.

As criaturas estavam chegando.

Lyria olhou para o brilho, para Kael, para a floresta atrás.

— Se eu atravessar isso… — ela sussurrou — …eu não volto mais, né?

Kael nunca tirou os olhos dela.

— Não volta igual.

A criatura rasgou a névoa atrás deles — alta, distorcida, os olhos prateados brilhando.

Kael puxou Lyria pela cintura.

— AGORA!

Ela fechou os olhos.

E os dois saltaram juntos.

A luz os engoliu.

O vale desapareceu.

E o mundo dela acabou.

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