Capítulo 3 — O Nome da Serpente

Acordei no seu lençol. No seu cheiro. Com marcas de mordidas nos ombros e pernas, como cicatrizes de prazer.

Você já não estava ali.

Por um segundo, achei que tudo tivesse sido um delírio. Uma febre sexual nascida do cansaço, da solidão e da atração proibida. Mas ao me levantar, notei a xícara de café sobre a mesa e um novo bilhete:

“Fui resolver uma dívida. Volto para cobrar a minha.”

— M.”

Sentei à beira da cama, nua, com os cabelos ainda molhados do banho da noite anterior. E percebi o quanto meu corpo doía — não de cansaço, mas de ter sido tomado com tanta intensidade. Meu quadril ainda vibrava das investidas dele, da forma como me dominou, como se quisesse entalhar sua existência dentro de mim. E conseguiu.

Fiquei mais uma hora ali, imóvel, tentando recuperar o controle de mim mesma. Mas já era tarde. Meu corpo era seu. E o pior: minha vontade também.

Voltei para casa no final da manhã, com as pernas trêmulas, tentando esconder o que havia feito — e o que havia sentido.

Naquela mesma tarde, voltei ao hospital. No plantão, os colegas notaram algo diferente.

— Você tá com cara de quem pecou forte, hein — disse Helena, me cutucando no corredor enquanto eu revisava prontuários.

— Imagina. Só dormi mal.

— Com ou sem companhia?

Não respondi. Ela riu.

— Eu sabia. Te conheço, Isa. Tem homem aí no meio.

Fingi que não ouvi. Mas por dentro, a imagem dele me devorando por trás, com as mãos agarrando meus quadris e o nome dele escapando da minha boca, ainda latejava em mim como um eco profano.

Mais tarde, no refeitório, escutei sem querer dois enfermeiros conversando.

— O chefe de polícia falou que o cara que sumiu da sala 304 é peixe grande.

— Qual o nome dele?

— Mehmet Demir. Dizem que ele comanda parte da rota de armas e drogas pelo Mar Negro. É o tipo de homem que manda matar com um piscar de olhos.

A colher caiu da minha mão.

Meu coração começou a bater mais forte. Já sabia disso, no fundo. Mas ouvir em voz alta foi diferente. Seu nome ecoou nas paredes do hospital, cruzando o limiar do mistério para a realidade.

E com isso, o pavor.

Eu me envolvi com um mafioso turco. E não um qualquer. Um dos mais perigosos.

Tentei racionalizar. Você era só um corpo quente. Uma noite. Um erro que poderia ser esquecido.

Mas ao chegar no meu apartamento, um envelope me aguardava sob a porta.

Dentro, duas passagens de avião.

Destino: Capadócia.

Data: Dois dias depois.

E um novo bilhete.

“Você tem 48 horas para decidir se quer entender quem eu sou de verdade.

Ou fugir.

Se escolher fugir, não vou te seguir.

Mas se vier… não haverá volta.”

— M.”

Senti um frio no estômago. A Capadócia era o símbolo da paz turca. Do amor entre pedras e céu. Um lugar que parecia não combinar com o homem que me fodera como se estivesse em guerra.

Mas talvez, por isso mesmo, fosse o convite mais perigoso que já recebi.

Peguei meu celular. Liguei.

— Mehmet?

Sua voz atendeu no segundo toque.

— Sabia que você ligaria.

— Isso é um jogo?

— Não. É uma escolha. E você sabe disso.

— Por que eu?

Silêncio do outro lado.

— Porque você é a primeira pessoa em muito tempo que me tocou e não sangrou. Porque você me olha como se eu fosse humano, mesmo sendo um monstro. Porque quando você goza na minha boca, parece que o mundo para. E, talvez, porque eu esteja cansado de viver sozinho no inferno.

Respirei fundo. Minhas pernas vacilaram.

— Isso não tem futuro.

— Nada que vale a pena tem garantias. Mas… você me sente, Isabela. Sente o mesmo que eu. E se negar, está mentindo pra si mesma.

Silêncio.

— Vou pensar.

— Você tem até sexta-feira, meio-dia.

Desliguei. E soube, naquele instante, que já havia decidido. Só não queria admitir.

Dois dias depois, embarquei.

Capadócia me recebeu com seus céus cor de mel, com balões subindo ao entardecer, com ventos que traziam promessas e segredos. E lá estava você, me esperando à saída do aeroporto, encostado num carro preto, com óculos escuros e aquele sorriso que me desarma.

— Eu sabia que viria.

— Arrogante.

— Confiante.

Você abriu a porta para mim. E antes que eu entrasse, segurou meu rosto com as duas mãos, e disse baixinho:

— Bem-vinda ao meu mundo, doutora.

E eu soube, com cada célula do meu corpo, que a partir daquele momento, não haveria mais volta.

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