Capítulo 4 — Terra de Areia e Pecado

A Capadócia tem cheiro de vento seco, de rochas milenares, de histórias enterradas no silêncio das cavernas. E naquela manhã dourada, enquanto os balões subiam como preces silenciosas, eu me perguntava se estava rezando por redenção… ou me jogando no abismo.

Você dirigia com uma mão no volante e a outra pousada sobre a minha coxa, como se me ancorasse ali. Como se dissesse, sem palavras: “Você já é minha, mesmo que ainda tente lutar contra isso.”

— Está nervosa? — você perguntou, sem tirar os olhos da estrada de terra batida.

— Estou em um carro, no meio do nada, com um homem armado, envolvido com o submundo. O que você acha?

— Que você está com tesão e medo na mesma proporção.

Virei o rosto para a janela. Mas não respondi. Porque era verdade. E você sabia.

Seguimos por quase uma hora até uma casa de pedra escavada num dos vales mais isolados que já vi. Ela parecia brotar da rocha, como se fizesse parte da própria Terra. Discreta, ampla, sofisticada sem ostentação. Como você.

Ali não havia seguranças, câmeras, armas visíveis. Só silêncio, vento, e um vinho turco repousando na varanda.

— Onde estamos?

— Um lugar que meu pai construiu para fugir do mundo. Agora é meu. E por dois dias… será nosso.

Fiquei em pé na entrada, olhando a paisagem absurda. Céu limpo, desfiladeiros avermelhados, a solidão da natureza me esmagando. Quando virei para você, vi que me observava como se eu fosse a paisagem.

— Por que eu? — perguntei de novo, sem rodeios.

— Porque você não me pede nada. Não tenta me mudar. Não me teme o suficiente pra fugir. E me desafia sem dizer uma palavra.

— E o que você quer de mim, Mehmet?

Você deu um passo à frente. A distância entre nós sumiu.

— Quero ver até onde vai sua coragem. E sua entrega.

Suas mãos subiram pelas minhas costas, puxando o cabelo com firmeza. E antes que eu pudesse resistir — se é que queria — sua boca estava na minha.

Foi diferente da primeira vez. Naquela noite em Istambul, foi fogo, instinto, invasão. Ali, naquele lugar silencioso, foi mais cru. Mais íntimo. Você me despiu na varanda, sem pudor, com o sol acariciando meu corpo. Me ajoelhei diante de você por impulso, e te provei com a boca, sentindo seu gemido grave vibrar no meu peito.

— Olha pra mim — você ordenou. E quando meus olhos encontraram os seus, vi uma escuridão que me consumia inteira.

Você me puxou pelos cabelos, me virou, e me penetrou ali mesmo, contra a parede de pedra, com a paisagem da Capadócia diante de nós como testemunha silenciosa. A cada estocada, meu corpo se chocava contra a parede áspera, e ainda assim, tudo em mim gritava por mais.

Gozei com um gemido sufocado, as pernas bambas, e você ainda não havia terminado. Me carregou no colo, como uma posse conquistada, e me levou para dentro, para a cama esculpida na rocha.

Lá, me devorou novamente. Mais lento, mais fundo. Como se dissesse: “Você não é apenas minha carne. Você é minha fraqueza.”

Depois, ficamos em silêncio. Suados, nus, entre lençóis brancos e o cheiro do nosso sexo no ar.

Foi você quem quebrou o silêncio.

— Meu pai me ensinou que amor é fraqueza.

— E você acredita nisso?

— Acredito que amar alguém é dar a esse alguém o poder de te destruir.

— E mesmo assim…

— …Estou te dando esse poder, Isabela. Mesmo sabendo que pode me matar por dentro.

Virei o rosto pra você. Seus olhos estavam escuros. Sérios.

— E se eu fugir?

— Eu deixo. Mas não prometo não ir atrás.

— Isso é ameaça?

— É instinto. Eu te quero. E o que eu quero… costumo manter por perto.

Fiquei quieta. Mas por dentro, algo se partia. Porque apesar da intensidade, da luxúria, do calor entre nós, havia uma verdade sussurrando: isso não vai terminar bem.

Mas era tarde demais. Já era sua.

Naquela noite, me contou coisas que ninguém mais sabia.

Sobre o irmão que morreu em seus braços, aos dezessete anos. Sobre a primeira vez que matou um homem. Sobre a mulher que tentou amar, mas que traiu seu nome — e por isso, sumiu.

E depois me olhou com os olhos mais sinceros que já vi num homem.

— Se algum dia eu desaparecer, ou se não voltar… não me procure. Só lembre do que foi aqui. Porque aqui… você viu quem eu realmente sou.

— E quem é você, Mehmet Demir?

Você sorriu. Triste.

— Um homem tentando não afundar no inferno que ele mesmo construiu.

Naquela noite, dormimos enlaçados. E eu soube, com uma certeza incômoda, que aquele homem — o mais perigoso que já cruzou minha vida — também era o único que me fazia sentir viva.

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