O telefone tocou às cinco da manhã. Eu ainda estava nua na cama, enrolada no lençol, tentando entender se aquela marca de sangue no carro era real ou parte de algum pesadelo com cheiro de pólvora.
Você atendeu no viva-voz, com a voz ainda rouca.
— Fala.
Do outro lado, uma voz masculina disparava em turco, acelerada, ofegante. Eu não entendia as palavras, mas conhecia bem aquele tom: medo.
Quando a ligação terminou, você jogou o celular na cadeira e passou as mãos no rosto.
— O que houve?
— Um dos meus homens foi encontrado morto. Enforcado no beco atrás do mercado.
— Deus…
— A língua dele foi cortada.
Fiquei em silêncio. Você andava pelo quarto como um lobo enjaulado.
— Barış está mandando avisos. A palma de sangue foi o primeiro. Agora ele quer que eu saiba que posso perder qualquer um.
— Inclusive a mim.
Você parou. Me encarou como se só naquele momento tivesse lembrado que eu estava ali. Vulnerável. Exposta. E ainda assim… insistindo em permanecer.
— Eu devia te mandar embora agora