Aquela manhã começou diferente. Você estava inquieto, andando pela casa como um leão enjaulado. Seus olhos varriam as janelas com paranoia, e a arma — que antes ficava guardada na gaveta do criado-mudo — agora dormia sobre a bancada da cozinha.
— Alguma coisa está errada — você disse, enquanto observava os telhados vizinhos pela janela entreaberta.
— Isso já é paranoia ou instinto?
Você virou o rosto devagar, seus olhos encontrando os meus. Havia algo neles — medo, talvez — mas também uma decisão brutal. Você se aproximou com passos silenciosos, como se o próprio chão pudesse denunciá-lo.
— Instinto. E quando o instinto fala, eu escuto. Sempre.
Sentada no sofá com uma xícara de café nas mãos, eu tentava fingir que aquilo era uma manhã qualquer. Mas não era. Não depois do jantar com Barış, não depois do recado deixado. Você voltou naquela noite com sangue nos olhos e um silêncio que pesava mais que um corpo morto.
— O que ele disse?
— Que eu virei fraco.
— Por minha causa?
— Por sua ca