Capítulo 2 — Balas e Cicatrizes

Você sumiu naquela noite, mas não de mim.

Mesmo sem estar presente fisicamente, você cravou sua presença na minha pele, na minha mente, como uma agulha invisível sob a epiderme. A tulipa branca que deixou na cama da sala 304 parecia um símbolo de paz — mas paz era tudo que eu não sentia desde então.

Passei o dia seguinte em modo automático. O hospital seguia em seu ritmo frenético, pacientes entrando em estado crítico, familiares desesperados nos corredores, café ruim na copa dos médicos. Mas o mundo parecia mais silencioso desde que você cruzou meu caminho.

À noite, quando cheguei em casa, encontrei outra surpresa.

Havia uma caixa preta sobre meu tapete. Simples, sem nome, sem remetente. O coração acelerou antes mesmo de abri-la. Dentro, um frasco de vidro. Perfume francês. E um bilhete, em letra cursiva, firme:

“Nenhum aroma do mundo supera o seu quando está perto de mim.

— M”

Engoli em seco.

Você estava me testando. Eu sabia. Mas o mais assustador… é que estava funcionando.

“Não seja idiota, Isabela”, repeti para mim mesma, várias vezes naquela noite. Mas meus dedos não largavam o frasco de perfume. Dormi com ele na mesa de cabeceira. Como se seu cheiro estivesse ali, impregnado.

E então, como numa coreografia bem ensaiada, três dias depois, você reapareceu.

Eu estava saindo do hospital quando o carro preto surgiu ao meu lado, deslizando pela rua molhada. O vidro abaixou. Aziz, o homem que eu ainda não conhecia bem, me olhou com olhos de lobo:

— Ele quer vê-la.

— E se eu disser não?

— Ele mandou dizer que confia em você. E que confiança, pra ele, é mais rara do que amor.

Minhas pernas hesitaram. Mas eu entrei. Sabia que devia correr. Mas… algo em mim já era seu.

O trajeto foi silencioso. Aziz dirigia com precisão militar. O carro seguiu por ruas estreitas de Karaköy até chegar a um prédio antigo, reformado por dentro, escondido do mundo. A fachada era banal. O interior, um labirinto de luxo discreto e poder oculto.

Você me esperava no terraço.

De costas, terno cinza, mãos nos bolsos, olhando o Bósforo como se fosse dono dele. Quando virei, seu rosto se iluminou de um jeito que não combinava com sua fama.

— Dra. Diniz. Ou posso te chamar de Isabela, agora?

— Depende. Ainda estou aqui como médica?

— Não. Agora está aqui como… você.

Você se aproximou. Seus olhos buscaram os meus. E pela primeira vez, percebi que por trás daquela casca de aço havia uma dor contida, sufocada. Você não era apenas perigoso. Era ferido. E isso me atraía tanto quanto me assustava.

— Por que me chamou?

— Porque desde que te vi, não consigo pensar em outra coisa.

— E você costuma agir assim com todas as mulheres que te salvam?

— Só houve uma. E ela está aqui agora.

Silêncio.

A cidade respirava lá embaixo. Mas ali em cima, no seu mundo, era só nós dois.

— Eu devia ir embora. Você… você é perigoso.

— Sim. E mesmo assim, está aqui.

— Você está me manipulando.

— Estou te mostrando quem sou. Isso te assusta?

— Muito.

— E mesmo assim, você está tremendo, não de medo… mas de desejo.

Foi como se você tivesse colocado fogo na minha pele. Um calor subiu pelas minhas coxas, e eu soube: eu estava cedendo.

— Você tem muitas cicatrizes, Mehmet.

— E você tem dedos que parecem querer entendê-las.

— Isso é insano.

— Talvez. Mas é inevitável.

Você estendeu a mão. Eu hesitei. Mas meus dedos encontraram os seus. E naquele instante, o toque foi como uma descarga elétrica. Seus olhos desceram para meus lábios. E então… você me beijou.

Diferente de tudo que já senti. Beijo de homem que sabe dominar sem sufocar. Beijo de alguém que não pede licença pra entrar na sua alma — simplesmente invade.

Você me encostou na parede de pedra do terraço. A mão em minha nuca, a boca em meu pescoço. Meus dedos abriram os botões do seu paletó, querendo sentir sua pele. E você, ao perceber, gemeu baixo:

— Você me deixa fora de controle, Isabela.

— Talvez eu queira ver até onde você vai.

Me levou para dentro. Subimos uma escada de mármore escuro, até um quarto amplo, paredes de concreto bruto, lençóis de linho. O contraste entre o frio da arquitetura e o calor dos nossos corpos.

(Conteúdo +18 a seguir)

Você me despiu devagar, como se tirasse camadas além das roupas. Cada toque seu era uma promessa não dita. Me empurrou suavemente para a cama, e antes que eu dissesse qualquer coisa, sua boca desceu entre minhas pernas.

— Você tem gosto de pecado — sussurrou contra minha pele, fazendo meu corpo arquear.

Gemi seu nome. Baixo. Envergonhada. Você penetrou com a língua com precisão, fazendo-me perder o ritmo da respiração. Minhas mãos cravaram nos lençóis, minha pele ardia. Quando me virou de costas, me mordeu o ombro antes de entrar em mim, devagar, mas profundo.

Seus gemidos roucos no meu ouvido, seu corpo colado ao meu, seu ritmo entre prazer e dominação. Me senti invadida e adorada ao mesmo tempo. O mundo desapareceu.

Quando gozei, foi com um grito abafado entre seus braços.

Você ainda estava dentro de mim quando disse, baixinho:

— Você não é minha mulher. Mas vai ser. Isso não é um pedido. É um aviso.

E pela primeira vez, eu não quis fugir.

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