Você sumiu naquela noite, mas não de mim.
Mesmo sem estar presente fisicamente, você cravou sua presença na minha pele, na minha mente, como uma agulha invisível sob a epiderme. A tulipa branca que deixou na cama da sala 304 parecia um símbolo de paz — mas paz era tudo que eu não sentia desde então. Passei o dia seguinte em modo automático. O hospital seguia em seu ritmo frenético, pacientes entrando em estado crítico, familiares desesperados nos corredores, café ruim na copa dos médicos. Mas o mundo parecia mais silencioso desde que você cruzou meu caminho. À noite, quando cheguei em casa, encontrei outra surpresa. Havia uma caixa preta sobre meu tapete. Simples, sem nome, sem remetente. O coração acelerou antes mesmo de abri-la. Dentro, um frasco de vidro. Perfume francês. E um bilhete, em letra cursiva, firme: “Nenhum aroma do mundo supera o seu quando está perto de mim. — M” Engoli em seco. Você estava me testando. Eu sabia. Mas o mais assustador… é que estava funcionando. “Não seja idiota, Isabela”, repeti para mim mesma, várias vezes naquela noite. Mas meus dedos não largavam o frasco de perfume. Dormi com ele na mesa de cabeceira. Como se seu cheiro estivesse ali, impregnado. E então, como numa coreografia bem ensaiada, três dias depois, você reapareceu. Eu estava saindo do hospital quando o carro preto surgiu ao meu lado, deslizando pela rua molhada. O vidro abaixou. Aziz, o homem que eu ainda não conhecia bem, me olhou com olhos de lobo: — Ele quer vê-la. — E se eu disser não? — Ele mandou dizer que confia em você. E que confiança, pra ele, é mais rara do que amor. Minhas pernas hesitaram. Mas eu entrei. Sabia que devia correr. Mas… algo em mim já era seu. O trajeto foi silencioso. Aziz dirigia com precisão militar. O carro seguiu por ruas estreitas de Karaköy até chegar a um prédio antigo, reformado por dentro, escondido do mundo. A fachada era banal. O interior, um labirinto de luxo discreto e poder oculto. Você me esperava no terraço. De costas, terno cinza, mãos nos bolsos, olhando o Bósforo como se fosse dono dele. Quando virei, seu rosto se iluminou de um jeito que não combinava com sua fama. — Dra. Diniz. Ou posso te chamar de Isabela, agora? — Depende. Ainda estou aqui como médica? — Não. Agora está aqui como… você. Você se aproximou. Seus olhos buscaram os meus. E pela primeira vez, percebi que por trás daquela casca de aço havia uma dor contida, sufocada. Você não era apenas perigoso. Era ferido. E isso me atraía tanto quanto me assustava. — Por que me chamou? — Porque desde que te vi, não consigo pensar em outra coisa. — E você costuma agir assim com todas as mulheres que te salvam? — Só houve uma. E ela está aqui agora. Silêncio. A cidade respirava lá embaixo. Mas ali em cima, no seu mundo, era só nós dois. — Eu devia ir embora. Você… você é perigoso. — Sim. E mesmo assim, está aqui. — Você está me manipulando. — Estou te mostrando quem sou. Isso te assusta? — Muito. — E mesmo assim, você está tremendo, não de medo… mas de desejo. Foi como se você tivesse colocado fogo na minha pele. Um calor subiu pelas minhas coxas, e eu soube: eu estava cedendo. — Você tem muitas cicatrizes, Mehmet. — E você tem dedos que parecem querer entendê-las. — Isso é insano. — Talvez. Mas é inevitável. Você estendeu a mão. Eu hesitei. Mas meus dedos encontraram os seus. E naquele instante, o toque foi como uma descarga elétrica. Seus olhos desceram para meus lábios. E então… você me beijou. Diferente de tudo que já senti. Beijo de homem que sabe dominar sem sufocar. Beijo de alguém que não pede licença pra entrar na sua alma — simplesmente invade. Você me encostou na parede de pedra do terraço. A mão em minha nuca, a boca em meu pescoço. Meus dedos abriram os botões do seu paletó, querendo sentir sua pele. E você, ao perceber, gemeu baixo: — Você me deixa fora de controle, Isabela. — Talvez eu queira ver até onde você vai. Me levou para dentro. Subimos uma escada de mármore escuro, até um quarto amplo, paredes de concreto bruto, lençóis de linho. O contraste entre o frio da arquitetura e o calor dos nossos corpos. (Conteúdo +18 a seguir) Você me despiu devagar, como se tirasse camadas além das roupas. Cada toque seu era uma promessa não dita. Me empurrou suavemente para a cama, e antes que eu dissesse qualquer coisa, sua boca desceu entre minhas pernas. — Você tem gosto de pecado — sussurrou contra minha pele, fazendo meu corpo arquear. Gemi seu nome. Baixo. Envergonhada. Você penetrou com a língua com precisão, fazendo-me perder o ritmo da respiração. Minhas mãos cravaram nos lençóis, minha pele ardia. Quando me virou de costas, me mordeu o ombro antes de entrar em mim, devagar, mas profundo. Seus gemidos roucos no meu ouvido, seu corpo colado ao meu, seu ritmo entre prazer e dominação. Me senti invadida e adorada ao mesmo tempo. O mundo desapareceu. Quando gozei, foi com um grito abafado entre seus braços. Você ainda estava dentro de mim quando disse, baixinho: — Você não é minha mulher. Mas vai ser. Isso não é um pedido. É um aviso. E pela primeira vez, eu não quis fugir.