Você não dormiu naquela noite. Eu percebi quando virei de lado na cama e vi seu corpo nu sentado à beira da janela, de costas para mim, como uma estátua esculpida pelo desespero. Um cigarro queimava lento entre seus dedos, traçando linhas de fumaça no ar frio da Capadócia. Lá fora, o silêncio da madrugada só era interrompido pelo uivo do vento e o ocasional estalo da madeira da casa, como se ela própria estivesse tentando nos avisar do que viria.Eu também não dormi.Fingir que dormia era mais fácil do que encarar a angústia em seus ombros. Ou o tremor quase imperceptível da sua mão, mesmo você sendo um homem acostumado a matar sem hesitar. E ainda assim, naquela noite, eu vi um traço raro nos seus olhos: incerteza.Quando me movi na cama, o lençol deslizou, revelando minhas costas nuas. Você olhou por cima do ombro, e por um segundo, seu rosto suavizou. Mas apenas por um segundo.— Você acha que ele vai reagir? — perguntei, minha voz saindo baixa, rouca, como se não pertencesse àquel
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