Mel tem tudo para ser feliz: um casamento marcado com Dário, um empresário bem-sucedido e influente, uma vida confortável e o respeito da sociedade. Mas a perfeição tem um preço — e ela sente que está a pagar com a própria liberdade. Quando conhece Alessandro, um artista de rua apaixonado pela vida e pela arte, o mundo de Mel começa a desmoronar. O que era seguro torna-se sufocante. O que era proibido, torna-se irresistível. Entre o luxo e a liberdade, entre o dever e o desejo, entre dois homens tão diferentes quanto os mundos que representam... Mel terá de escolher. Mas e se o coração dela já tiver escolhido por ela?
Ler maisA casa de Alessandro estava mergulhada numa penumbra suave quando Mel chegou. O sol já se escondia no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados e roxos, como se a natureza, de alguma forma, pressentisse que uma verdade estava prestes a explodir.Ele abriu a porta antes mesmo dela bater. O olhar apreensivo suavizou-se ao vê-la, mas não completamente.— Mel... estás bem?Ela apenas assentiu, entrando com a caixa nos braços. Sem uma palavra, colocou-a sobre a mesa da sala e abriu. Alessandro aproximou-se, vendo os papéis, contratos, extratos bancários e e-mails empilhados como uma bomba prestes a detonar.— O que é isto?— Fragmentos da verdade. E talvez... a chave para desmontar a imagem perfeita de Dário. — Mel olhou para ele com firmeza. — O que está aqui pode levá-lo à justiça. Mas também pode nos pôr em risco.Ele puxou uma das folhas, lendo rapidamente.— Isto é sério, Mel. Se este material for verdadeiro...— É. Falei com Armando. Ele guardou tudo. Está cansado de viver escon
Do lado de fora, o céu carregava tons cinzentos e pesados, como se anunciasse que as revelações viriam como tempestade. Mel não tinha dormido, mas os olhos estavam mais firmes do que nunca. Havia uma decisão em cada gesto. Já não era apenas sobre Dário ou Alessandro — era sobre ela recuperar o controlo da própria vida.Sentada à frente do computador no coworking onde Filipe trabalhava, ela cruzava nomes, datas, e ligava pontos que até então pareciam desconexos. Filipe, sempre meticuloso, acompanhava cada detalhe.— Encontrei este recorte digital de um jornal económico de 2018 — disse ele, apontando para o ecrã. — A empresa chamava-se D&M Holdings. Fundadores: Dário Correia e Armando M. Dinis.Mel leu em silêncio. A matéria falava de um “possível esquema de evasão fiscal” e “lavagem de dinheiro através de empresas fantasma”. Mas o caso nunca foi levado a julgamento. A denúncia desapareceu pouco depois.— Sabes o que aconteceu com o Armando? — perguntou ela, olhando para Filipe.— Depoi
Mel não conseguia tirar os olhos da mensagem anónima. As palavras pareciam vibrar no ecrã, como se tivessem vida própria. “Tens a certeza que queres saber tudo sobre o homem que pensas conhecer?” A frase ecoava na sua mente como um aviso, uma pergunta perigosa que podia abrir portas difíceis de fechar.Naquela noite, enquanto Luna dormia no sofá da casa dela, Mel permaneceu sentada à mesa da cozinha, com uma chávena de chá esquecida nas mãos. Não era só medo — era curiosidade. E essa era a emoção mais perigosa.Pegou no telefone e respondeu:"Quem és e o que queres?"Segundos depois, os três pontinhos a indicar que alguém escrevia apareceram. Mas desapareceram sem resposta.Mel sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha. Como se alguém a estivesse a observar. Resolveu não comentar nada com Luna, pelo menos por enquanto. Precisava de perceber onde estava a pisar.Na manhã seguinte, passou pelo hospital. Dário estava acordado, aparentemente mais calmo, mas com aquele sorriso calculado que
Dário mantinha os olhos fixos no teto branco do quarto de hospital. As luzes estavam desligadas, mas a claridade do dia forçava-se pelas persianas entreabertas. O seu braço direito estava imobilizado, envolto numa ligadura espessa, e havia arranhões pelo rosto. No entanto, não era o corpo que doía mais. Era o silêncio de Mel. O olhar que ela lhe lançara ao visitá-lo horas antes — distante, contido — não lhe saía da mente.A maçaneta girou. Dário esperava por Mel, mas quem entrou foi Luna, com uma expressão sóbria e passos decididos.— Vim ver como estavas — disse ela, sem rodeios.— Pensei que não gostasses de mim — respondeu ele, forçando um sorriso irónico.— Não gosto. Mas estou aqui pela Mel. Porque sei o quanto te esforçaste para parecer o homem certo.Dário arqueou uma sobrancelha. — Parecer?Luna puxou uma cadeira e sentou-se, cruzando os braços.— Sim. Porque tu és tudo menos o que ela precisa. E acho que, lá no fundo, até tu sabes disso.Ele apertou os lábios, sustentando o o
A manhã chegou nublada, como se o céu estivesse a refletir a confusão que reinava dentro de Mel. Desde a noite anterior, tudo parecia girar. O acidente de Dário, a mensagem de Alessandro, o reencontro inesperado. Ela mal tinha conseguido dormir. Mas não era cansaço que lhe pesava nos ombros — era o peso das decisões não tomadas.Mel encontrava-se no jardim do hospital, num banco de cimento coberto pela sombra de uma acácia. O cheiro de desinfetante ainda pairava no ar, mas ali fora, o mundo parecia respirar. Ela apertava as mãos uma contra a outra quando sentiu uma presença familiar aproximar-se.— Achei que estarias aqui — disse Alessandro, com um tom suave. Vestia uma camisa branca simples e calças de linho claras, que contrastavam com a intensidade do olhar. Ele parecia deslocado naquele ambiente, e ainda assim... encaixava.— Como soubeste? — perguntou Mel, levantando os olhos para ele.— Luna. Ela mandou-me mensagem ontem à noite. Disse que estavas a precisar de alguém que te lem
A noite estava pesada. Um céu nublado cobria Maputo como um manto silencioso, e o vento morno arrastava consigo as promessas de mudança. Mel caminhava pela avenida Marginal, os passos incertos, os olhos perdidos na linha onde o mar encontrava o escuro. Deixara tudo para trás — as roupas, os talheres finos, a casa com cheiro a vazio. Tinha apenas a mala e uma alma a descoberto.Parou num banco virado para o oceano. Precisava respirar. Pensar. Sentir que a decisão tomada não era só um impulso, mas o primeiro passo para renascer.O telemóvel vibrava há minutos com chamadas de números desconhecidos. Ignorou. Não queria ouvir mais ninguém a dizer o que devia fazer. Aquela era a sua noite. O seu momento.Mas então, uma mensagem apareceu no ecrã.“Tens de vir ao hospital central. Urgente. É sobre o Dário.”Número de Luna.O coração de Mel parou por um segundo. Um gelo percorreu-lhe a espinha. Estaria a ser manipulada outra vez? Ou era sério? Por mais que tudo tivesse terminado, Dário ainda e
O silêncio do apartamento era ensurdecedor. Desde que Dário saíra no dia anterior, Mel não voltara a vê-lo, nem recebera qualquer mensagem. No passado, isso teria provocado ansiedade, medo até. Agora, era como um espaço onde ela podia finalmente respirar.Mas a liberdade ainda vinha acompanhada de culpa.Na manhã seguinte, Mel sentou-se diante da janela da sala, com uma chávena de chá nas mãos. Observava o movimento da rua como se buscasse respostas nos passos apressados dos desconhecidos. A cidade seguia em frente, indiferente às suas dúvidas. Só ela parecia parada no tempo, suspensa entre o que era e o que desejava ser.O telemóvel vibrou. Uma mensagem de Luna:> “Precisas de falar? Estou por aqui.”Mel sorriu. Luna era o seu farol nos dias escuros.Digitou uma resposta rápida:> “Mais tarde. Preciso de clareza primeiro.”O toque na porta fez com que se sobressaltasse. Quando a abriu, não esperava ver Alessandro. Estava diferente — camisa branca simples, olhos mais sérios, quase vul
O dia amanheceu cinzento, como se o céu partilhasse do peso que Mel carregava no peito. Sentada à beira da cama, observava o anel de noivado. Brilhava como sempre, mas já não lhe dizia o mesmo. Era como uma promessa feita a uma versão antiga de si mesma.Luna apareceu sem avisar. Entrou no apartamento com um saco de pastelarias e dois cafés quentes.— Trouxe reforços — disse, com um sorriso suave. — Hoje é dia de conversarmos sem filtros.Mel suspirou. — Ainda bem que vieste.Sentaram-se no sofá da sala. O cheiro do café preenchia o espaço, e por um momento, tudo pareceu mais simples.— Sonhei com ele outra vez — confessou Mel, quase num sussurro.— Alessandro?Mel assentiu. — Não consigo tirá-lo da cabeça. Não é só o desejo… é algo mais profundo. Quando estou com ele, sinto-me livre. E eu já nem lembrava como isso era.Luna bebeu um gole do café antes de responder.— Mel, eu apoio-te sempre, mas preciso perguntar: estás disposta a enfrentar o caos que isso pode causar?— O caos já es
A noite caía preguiçosamente sobre Maputo, tingindo o céu de tons alaranjados e púrpura. Mel chegou a casa mais cedo do que o habitual. Não conseguia suportar mais o peso do dia — nem o peso do que sentia desde aquele reencontro inesperado com Alessandro. O rosto dele, o sorriso, o olhar... tudo ainda a assombrava.Dário estava sentado no sofá, camisa branca impecável, copo de uísque na mão, o olhar fixo no televisor, onde um noticiário falava sobre a economia. Ao vê-la entrar, não esboçou um sorriso — apenas baixou o volume.— Estavas onde? — perguntou, sem rodeios.Mel largou a mala sobre a poltrona e tirou os sapatos com um suspiro. — Fui ao café do parque. Precisava de ar.— Sozinha?A pergunta, feita de forma tão casual, cortou o ar como uma lâmina. Mel parou por um segundo. Sabia que não podia mentir, mas também sabia que a verdade completa não seria aceita.— Sim… fui dar uma volta. Precisava pensar.Dário pousou o copo na mesa de centro com mais força do que o necessário. — Pe