O ar em Maputo parecia mais denso naquela manhã. As nuvens pairavam pesadas, como se o tempo estivesse a suster a respiração, aguardando o que estava por vir. No apartamento de Luna, o ambiente era silencioso, mas não de forma tranquila — era um silêncio tenso, expectante.
Clara percorria a sala com passos curtos, organizando os papéis da entrevista. Mel estava sentada no sofá, as mãos entrelaçadas, os olhos fixos num ponto qualquer da parede. Alessandro, encostado à janela, observava a cidade lá fora, como se tentasse absorver alguma coragem do movimento que acontecia além das quatro paredes.
— Mel — começou Clara com suavidade —, sei que te pedi muito, mas esta oportunidade pode mudar o rumo desta investigação. Mostrar um rosto, dar voz à dor. Isso... pode ser o empurrão que outras vítimas precisam para aparecer.
Mel engoliu em seco. Tinha aceitado o convite da jornalista para uma entrevista exclusiva, mas agora que o momento se aproximava, a ansiedade ameaçava engolir-lhe a razão.