O céu de Maputo tingia-se de laranja e lilás quando Mel, impulsivamente, decidiu descer na Baixa. Precisava respirar, sentir a cidade viva — não aquele ar condicionado das lojas, nem o peso das reuniões ou da constante vigilância de Dário. Tinha dito que iria à costureira, mas desviou o caminho. Algo dentro dela pedia por outro tipo de remendo — não na roupa, mas na alma.
O Parque dos Continuadores estava mais calmo do que o habitual. Algumas crianças corriam entre os bancos, e vendedores ambulantes ofereciam amendoins e cocadas. O coração de Mel batia com força, como se pressentisse algo que sua razão ainda tentava ignorar.
E então, viu-o.
Alessandro estava de cócoras junto a uma das paredes externas do parque, com um pano estendido no chão e vários desenhos espalhados em redor. Usava uma camisa de linho clara, as mangas dobradas, os cabelos desgrenhados pela brisa. Estava concentrado, traçando linhas com carvão, os olhos fixos no papel.
Mel ficou a observá-lo por alguns segundos, im