Mundo ficciónIniciar sesiónEla veio do Brasil com um único objetivo: conquistar Nova York e o diploma de Direito com as próprias mãos. Nada, nem ninguém, ia desviá-la do caminho. Até ele aparecer. Antony Capell é pecado em forma de cowboy: chapéu surrado, mãos calejadas e dono do maior império pecuário do Texas. Ele só queria uma noite para esquecer os demônios que o perseguem. Carol foi o erro mais perfeito da vida dele… e o dele na dela. Uma única noite proibida. Um teste de farmácia com duas linhas azuis. E um segredo tão sombrio que pode destruir os dois. Agora ela precisa escolher: o sonho que planejou a vida inteira ou o homem que colocou o seu mundo de cabeça para baixo. Ele precisa decidir: contar a verdade que carrega… antes que o passado dele os mate. Entre poeira de arena, luxo de rancho texano e uma paixão que queima mais que sol do meio-dia, Carol e Antony vão descobrir que alguns desvios não têm volta. E que, às vezes, o maior risco não é cair do touro… é se apaixonar pelo cowboy errado.
Leer másAntony
Meu celular vibra, cortando o silêncio da noite como uma faca. O visor pisca com o nome de Brian. Eu pisco, o sono grudando nos olhos, o relógio na mesa de cabeceira marcando 2:17 da manhã. Resmungo, o cansaço pesando como chumbo nos ossos. Ele não desiste, o zumbido insistente do telefone ecoando no quarto escuro do rancho.
— Antony , me pega no bar — a voz de Brian soa trêmula, diferente, quase engolida pelo barulho de vozes e música ao fundo. — Preciso te contar uma coisa. É sério.
Eu esfrego os olhos, a irritação misturada com preocupação. Brian tem 23 anos, mas às vezes age como se tivesse 16, sempre se metendo em confusão. Provavelmente está bêbado de novo, perdido em algum bar de Raylidan, esperando que o irmão mais velho venha resgatá-lo.
— Brian, não dá, cara. Tenho uma competição amanhã cedo — digo, a voz rouca, tentando esconder a impaciência. — Para de beber e se vira. Pega um táxi.
— Antony , por favor... — ele começa, mas o tom de súplica é abafado pelo som de uma garrafa quebrando ao fundo. Um nó aperta meu estômago, mas ignoro. Ele sempre exagera. Sempre.
— Boa noite, Brian — corto, desligando com um suspiro. O silêncio volta, pesado, e eu me viro na cama, tentando apagar a sensação de que fiz algo errado. Ele vai ficar bem, penso, enquanto o sono me puxa de volta.
Horas depois, estou na estrada. A chuva b**e no capô da minha caminhonete, os limpadores de para-brisa lutando contra a tempestade. Sirenes piscam à frente, vermelhas e azuis, cortando a escuridão como facadas. Meu coração dispara antes mesmo de eu entender o que está acontecendo. Desço do carro, as botas afundando na lama, o ar frio mordendo minha pele.
Gideon, o novo xerife, caminha até mim, o chapéu de cowboy pingando água, a cicatriz em sua bochecha brilhando sob a luz dos faróis. Ele tem 32 anos, mas a expressão dele agora o faz parecer mais velho, carregada de algo que me deixa gelado.
— Antony , você precisa ser forte — ele diz, a voz grave, quase abafada pela chuva.
— Forte? Por quê? — Minha voz sai rouca, o coração batendo tão alto que mal ouço a resposta.
Ele aponta para uma maca ao lado da ambulância, um plástico preto cobrindo um corpo. O mundo para. Eu sei quem é antes mesmo de me aproximar. Minhas pernas fraquejam, e eu caio de joelhos na lama, a chuva encharcando minha camisa.
— Não, não, não — murmuro, as mãos tremendo enquanto agarro a terra.
Então, eu acordo.
Estou na minha cama, no rancho, suando frio. Meu peito sobe e desce, pego o copo d’água na mesa de cabeceira, o copo tremendo na minha mão enquanto bebo. A escuridão do quarto parece sufocante, o teto baixo demais. Não foi só um pesadelo. Brian está morto. A culpa me engole como um buraco negro, tão profundo que sinto ele me rasgar por dentro. Ele ligou pedindo ajuda, e eu não fui. Só porque achei que era mais uma bebedeira.
— Droga, Brian — sussurro, a voz falhando. — A única vez que te deixei na mão, e você...
Soco a parede, a dor no punho um eco fraco da raiva que queima meu peito. O gesso racha sob meus dedos, mas não alivia. Nada alivia. Ouço o choro baixo da minha mãe, vindo do andar de baixo, afiado como uma faca. Ela perdeu meu pai há alguns anos, e agora perdeu Brian. E eu, o irmão mais velho, falhei com os dois. Eu deveria ter ido. Deveria ter ouvido. Deveria ter sido o irmão que ele precisava.
Levanto-me da cama, as tábuas do chão rangendo sob meus pés descalços. O rancho está quieto, mas a dor da casa é quase palpável, como se as paredes guardassem o luto. Desço as escadas, o som do choro de minha mãe ficando mais claro. Ela está na sala, sentada no sofá, um xale preto cobrindo os ombros, os cabelos loiros caindo em mechas desarrumadas. Não digo nada. Não há palavras que consertem isso.
No dia do enterro, a chuva fina molha meu chapéu de cowboy, que trago ao peito. Em todas as vezes que imaginei tirando o chapéu diante de um caixão, nunca imaginei que Brian estaria dentro dele. A ordem das coisas foi invertida. O mais velho nunca deveria enterrar o mais novo. Meus olhos fixam-se no caixão descendo à terra, cada pá de terra jogada pelos coveiros um peso a mais no meu peito. A cidade inteira está aqui, guarda-chuvas pretos espalhados como uma sombra sobre o cemitério de Raylidan.
Minha mãe está ao lado, o rosto pálido contra o vestido preto, os ombros tremendo enquanto chora. Manson, o ex-xerife e avô de Gideon, a segura com firmeza, seus cabelos grisalhos molhados, o olhar gentil tentando oferecer algum conforto. Ele perdeu amigos, viu tragédias, mas mesmo assim parece não saber o que dizer. Ninguém sabe.
Caleb se aproxima, os cabelos negros brilhando sob a chuva, os olhos verdes cheios de um remorso que aperta meu coração. Ele era o melhor amigo de Brian, sempre por perto, sempre com um sorriso fácil. Agora, sua expressão está quebrada, a voz embargada.
— Eu disse pra ele parar de beber, Antony — ele murmura, quase como se estivesse confessando. — Devia ter levado ele pra casa. Me sinto um lixo por falhar como amigo. Não consigo nem olhar pra sua mãe.
Eu coloco a mão no ombro dele, cego pela minha própria culpa. Caleb tentou. Eu não. Brian só me ouvia, e eu o deixei na mão.
— Não havia nada que você pudesse fazer, Caleb — digo, a voz firme, mas oca. — Brian só me ouvia. Ela é forte — continuo, olhando para minha mãe, ainda apoiada em Manson. — Os amigos da família estão com ela. Fica em paz, cara.
Caleb assente, um sorriso triste nos lábios, e se afasta, caminhando até Jackson, outro amigo nosso. Jackson está parado sob um carvalho, segurando um guarda-chuva pequeno, os olhos fixos no caixão. A dor em seu rosto é familiar, um eco do luto que compartilhamos anos atrás, quando sua esposa, Ellen, morreu em um acidente de carro, deixando-o com seu filho. Ele ficou viúvo pouco depois que meu pai morreu, e nos últimos anos nossa pequena cidade parece amaldiçoada, como se Deus tivesse parado de olhar para nós.
— Ele era um moleque incrível — Jackson fala, a voz baixa, quase engolida pela chuva. Ele tira o chapéu, os olhos castanhos carregados de tristeza. — Brian sempre aparecia lá em casa, roubava os cavalos apenas para me irritar e me fazer correr atrás dele, ele amava bagunçar a vida de todos. Vou sentir falta de suas travessuras.
— Ele gostava muito de você — respondo, a garganta apertada.
Jackson se inclina, como se o peso das palavras fosse demais.
— Vai precisar ser forte por sua mãe, Antony . Ela só tem você agora.
Eu balanço a cabeça concordando, mas as palavras dele cortam fundo. Olho para o caixão, a chuva misturando-se às lágrimas que não deixo cair. A culpa é uma corrente, me puxando para baixo. Brian era impulsivo, sim, mas era meu irmão. Ele confiava em mim. E ele pediu ajuda, eu disse não. Fui punido por isso, e a punição é carregar esse vazio pelo resto da vida.
A cerimônia termina, e os guarda-chuvas começam a se dispersar. Minha mãe caminha até o carro, apoiada em Manson, sem olhar para trás. Caleb fica por perto, conversando com outros amigos, sua expressão ainda está carregada. Jackson aperta meu ombro antes de ir embora, prometendo passar no rancho mais tarde com seu filho. Eu fico ali, sozinho, encarando o túmulo de Brian, a terra fresca coberta por flores. A chuva para, mas o peso no meu peito não.
— Nunca mais vou deixar alguém que amo se machucar — juro, a voz firme, como se Brian pudesse me ouvir. É uma promessa para ele, para minha mãe, para mim mesmo. Não sei como vou cumprir, mas sei que vou tentar. Mesmo que isso me custe tudo.
Na arquibancada, o barulho é ensurdecedor — gritos, aplausos, o mugido dos touros. Meu coração acelera enquanto vejo Antony se preparar, o chapéu firme, o corpo tenso. Ele vai montar um touro, e eu nem contei que ele será pai. Se algo acontecer com ele, a culpa vai me engolir viva. Toco a barriga, instintivamente, o segredo pesando como chumbo.— Não precisa se preocupar, ele faz isso desde pequeno — uma voz grave diz ao meu lado. É um homem de cabelos negros e olhos verdes, com um sorriso gentil que parece genuíno. — Me chamo Caleb, trabalho no rancho da família dele. Ele tá muito feliz com sua chegada.— Oi, me chamo Carol — respondo, a voz fraca, o medo ainda me apertando. — Não importa que ele monte desde o berço. Eu... só quero que ele saia vivo.— Ele vai ganhar — Caleb afirma, confiante, e aponta pra arena.Antony monta o touro, tira o chapéu e pisca pra mim, o sorriso torto me acertando como uma flecha. O animal se agita, jogando-o pra frente e pra trás, mas ele parece no co
CarolO banheiro do dormitório está silencioso, um oásis raro no meio do caos de Nova York. O azulejo frio sob meus pés descalços me ancora, mas não é suficiente para segurar o peso do que vejo na pia: um teste de gravidez, o quarto que faço em uma semana, com duas linhas azuis gritando uma verdade que não quero aceitar. Meu coração dispara, o ar preso na garganta, como se eu pudesse sufocar a realidade se parasse de respirar. Não pode ser. Não agora. Não quando estou tão perto de tudo que planejei — a bolsa de estudos, as provas, o sonho de ser advogada. Cada hora roubada do sono, cada linha sublinhada nos livros de Direito Constitucional foi para construir um futuro que agora parece desmoronar como um castelo de cartas.Sento-me no chão, as pernas bambas, os óculos embaçando com lágrimas que engulo com força. Sou Carol Silva, a garota que veio do Brasil aos 18 anos com um plano traçado e a promessa de não falhar. Lembro-me das noites na casa da minha avó, o cheiro de café forte ench
AntonyEntro no escritório do rancho, um quarto bagunçado com pilhas de papéis, fotos antigas na parede e o cheiro de couro velho e café frio. Meu pai sentava aqui, administrando tudo com uma precisão que eu nunca vou ter. Minha mãe montou o próprio escritório do outro lado da casa, dizendo que este seria meu, mas não consigo ficar mais que dois minutos encarando os papéis. O último a mexer nisso foi Brian. Ele disse que nosso pai ia querer o escritório arrumado, mas não durou nem um dia — largou tudo e foi pro bar, voltando com cheiro de uísque e um sorriso torto. Saio do escritório com essa lembrança pesando no peito e dou de cara com minha mãe na varanda, o olhar severo dela me avisando que vem bronca.— Antony , precisamos conversar — ela diz, a voz cortante como uma faca, os braços cruzados, a postura rígida como sempre. O cabelo loiro tá preso num coque impecável, e o vestido verde-escuro parece mais um uniforme de guerra que uma roupa.— Mãe, agora não — retruco, tirando o chap
Antony Meses se passaram desde o enterro de Brian, e a dor ainda me arranca do sono no meio da noite, como se fosse um touro me jogando pro chão. O rancho, com seus campos amplos que meu pai construiu com suor e sonhos, parece um deserto agora, ecoando com a ausência dele. Cada cerca, cada fardo de feno, cada rangido do assoalho carrega o vazio que Brian deixou. Eu me jogo no trabalho — consertar cercas, mover o gado, limpar o estábulo —, qualquer coisa pra manter a mente ocupada, mas a culpa é uma companheira cruel. Ela sussurra que eu poderia ter evitado tudo. Se eu tivesse ido buscá-lo naquela noite, se eu tivesse ouvido quando ele disse que era sério, que precisava de mim... Mas não. Desliguei o telefone, priorizei coisas banais, e agora meu irmão mais novo, o moleque que eu jurei proteger, tá morto. Por minha causa.O sol do Texas queima como se quisesse incendiar o mundo, e eu monto o touro mecânico no curral, o corpo balançando com o movimento violento, o chapéu de cowboy firm
Sigo Antony pra fora, o ar frio de Nova York batendo na minha pele como um tapa. O apartamento dele é pequeno, alugado, com uma mala aberta num canto e uma jaqueta de couro jogada no sofá. O chapéu cai no chão quando ele me puxa pra perto, e o nervosismo me consome, um nó apertado no estômago. Ele me guia até o quarto, a luz fraca de um abajur lançando sombras suaves nas paredes, e eu sinto cada batida do meu coração como um tambor.— Tá tudo bem? — ele pergunta, parando, os olhos cor de mel procurando os meus. A voz é gentil, quase um sussurro, e ele segura minha mão, o toque quente e firme contra meus dedos trêmulos.— Tô... só um pouco nervosa — admito, mordendo o lábio, o rosto quente. — É minha primeira vez.Ele sorri, não com arrogância, mas com uma suavidade que me desarma, como se ele soubesse exatamente o peso que carrego. — A gente vai no seu ritmo, Carol — diz, a voz baixa, rouca, como se fosse uma promessa. — Se quiser parar, é só falar.Assinto, o nervosismo ainda lá, m
CarolO dormitório da NYU é um caos organizado, com vozes ecoando pelos corredores, portas batendo e o som abafado de uma música pop que não identifico. Estou enfiada no meu quarto minúsculo, sentada à escrivaninha que já viu dias melhores, com um marca-texto amarelo na mão e um livro de Direito Constitucional aberto. Meus cabelos negros caem no rosto, atrapalhando a leitura, e eu os prendo com um elástico, suspirando. Nova York é um furacão — buzinas, luzes neon, multidões —, mas é o meu lugar. Aqui, estou construindo meu futuro, o sonho que carrego desde que saí do Brasil aos 18 anos: ser advogada, chegar ao topo, provar que posso. Só que Evelyn, minha melhor amiga, acha que estou vivendo errado.— Carol, pelo amor de Deus, larga esses livros! — Evelyn irrompe no quarto como um tornado, os cabelos ruivos brilhando sob a luz fraca da luminária, os olhos castanhos faiscando de impaciência. Ela é pequena, com a pele pálida salpicada de sardas, mas tem uma energia que faz o ar vibrar. —





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