Após flagrar o noivo com sua melhor amiga às vésperas do casamento, Isabela vê sua vida desmoronar de forma cruel e inesperada. Humilhada, traída e sem rumo, ela decide abandonar tudo e recomeçar numa cidade pequena, onde ninguém conhece sua história. Lá, entre flores e silêncio, ela conhece Rafael, um ex-militar viúvo, marcado por perdas e cercado por muros altos demais para o amor. Ele vive para proteger a filha e manter distância de qualquer emoção que não seja controle. Mas quando seus caminhos se cruzam, entre cactos e cicatrizes, nasce algo que nenhum dos dois esperava: um sentimento terno, perigoso, quase indesejado… mas verdadeiro. Agora, ela terá que aprender a confiar novamente. E ele, a baixar a guarda. Porque às vezes, é no campo de batalha do coração que nascem os amores mais corajosos.
Leer másNa segunda-feira, o cheiro das margaridas frescas foi a primeira coisa que me puxou de volta à realidade. A floricultura parecia mais viva do que o normal, as cores mais vibrantes, os aromas mais intensos. Era como se cada pétala, cada folha, percebesse a quietude nova que eu carregava no peito. Talvez fosse o toque breve, mas carregado, da mão dele no sábado.Ou o silêncio denso, cheio de significados trocados depois que Rita se afastou, deixando um rastro de estranheza no ar.Talvez fosse só eu, finalmente começando a me sentir… inteira novamente, depois de tanto tempo. Ajeitei os buquês na vitrine com um cuidado quase obsessivo, alisando pétalas imaginárias, como se a perfeição das flores pudesse refletir a quietude nova que florescia em mim. Dona Lurdes ainda não tinha chegado, então aproveitei o silêncio e a calma da manhã para reorganizar as gérberas em um arco-íris de cores, alinhar as orquídeas brancas como neve e tentar espantar os pensamentos que insistiam em rondar minha me
Quando a carne ficou no ponto, com aquele cheiro delicioso invadindo o jardim, tomei a liberdade de preparar um prato para Emma, cortando a carne em pedacinhos e colocando um pouco de arroz e salada ao lado. Sem perceber, minha mão já estava montando outro prato, com uma porção generosa para Rafael. Ao entregá-lo, nossos dedos se roçaram de leve, e naquele breve instante, parecia que o mundo ao redor tinha desaparecido. Lógico que já havíamos nos tocado antes, um esbarrão na floricultura, um toque de mãos ao cuidar da suculenta, mas com Rafael tudo era diferente de quando eu estava com Carlos. Não havia aquela frieza, aquela indiferença. Com Rafael, cada olhar, cada roçar de pele, me causava arrepios que eu nunca senti antes.Olhei fixamente para ele, e percebi um leve rubor subir pelas suas bochechas sob o meu olhar. Foi então que a ficha caiu. Eu tinha preparado a comida para ambos, como se fosse a esposa em um almoço de domingo com o marido e a filha. Como tudo tinha se tornado tão
PONTO DE VISTA DE ISABELAA manhã de sábado se arrastava preguiçosa, daquele jeito gostoso de dia de folga. Acordei sem pressa, preparei meu café com calma e me sentei no sofá, ligando a televisão mais por costume do que por real interesse na programação. Me peguei pensando em como a vida tinha dado uma reviravolta desde que cheguei a esta cidade. Ainda não tinha construído aquela rede de amigos que eu tanto desejava, mas as duas pessoas que tinham entrado na minha vida de forma mais significativa eram, sem dúvida, Emma e Rafael. E, para minha paz de espírito, Carlos, o fantasma do meu passado, parecia ter finalmente se silenciado. Isso era o que eu esperava.Enquanto estava ali, meio perdida nos meus pensamentos, o som de batidas na porta me sobressaltou. Abri e me deparei com a dupla dinâmica: Emma, radiante como sempre, e Rafael, com uma expressão um pouco diferente do habitual. Seus olhos encontraram os meus e percebi um tom mais intenso, um escurecimento sutil que me causou um ar
Naquele dia, o sol da tarde mal tinha sumido por completo quando a porta da floricultura tocou com seu tilintar característico. Eu ainda ajeitava os vasos da janela, os cabelos presos às pressas e o avental amassado da correria do início do dia. E lá estavam eles. Emma foi a primeira a entrar. Correndo, como quem já se sente em casa. "Boa tarde!" ela disse, com um sorriso escancarado que fazia meu peito se aquecer por inteiro. "Boa tarde, Emma! Pensei que só nos veríamos depois do trabalho, na minha casa?" "Sim! Mas eu não aguentava esperar até você voltar. Então viemos direto para cá assim que eu saí da escola." "Então acho que você quer mais dicas sobre como cuidar dela?" sorri, agachando para falar na altura dela. "Sabe que as plantas sentem, né? Quem cuida delas com carinho, elas reconhecem." Emma assentiu com seriedade. E então Rafael entrou. De novo com aquele ar de quem não pretende ficar muito tempo. De novo com os olhos castanhos que me tiravam do eixo. "Espero que ela não es
PONTO DE VISTA DO RAFAELDepois que finalmente consegui tirar a Emma da casa da Isa – parecia que ela tinha grudado na Isabela como chiclete em sapato novo – a trouxe pra nossa casa. A verdade é que a Isa tinha fisgado a Emma rapidinho. E, por mais que eu tentasse manter uma distância segura, sentia que ela estava entrando na minha vida também, sem pedir licença, de mansinho.Cheguei em casa meio no automático e fui começar a preparar a janta. Sabia que a Emma não ia querer comer de verdade, depois daquele banquete de lanche que a Isa ofereceu. Isa, por sinal, nem pareceu se importar com a presença da minha filha lá, deixou ela super à vontade. Comecei a cortar uma carne na tábua quando a Emma voltou do quarto arrastando um caderno grande e um estojo cheio de canetinhas coloridas."E agora, senhorita artista, o que vai sair dessa cachola?" perguntei, tentando soar divertido, mas ainda meio aéreo por causa da Isa."Vou desenhar a Isa," ela respondeu, com aquela convicção infantil que d
Sábado chegou voando, e eu já estava com todas as minhas caixas prontas para a mudança. A titia fez questão de me ajudar, um amor! Ela carregou um monte de coisa e ainda me deu uma carona até a casa nova.Quando ela parou o carro bem na frente, dei uma olhada e vi o Rafael sentado na varanda dele, lendo um jornal e tomando um café. Naquele exato momento, Emma saiu de casa e falou alguma coisa com ele. Deu pra perceber que ele estava meio que dando um bronca nela por alguma coisa que ela aprontou na escola na sexta. Emma saiu correndo para os fundos da casa, parecendo meio chateada.Fiquei com vontade de ir ver se ela estava bem, mas não queria me meter no jeito que o Rafael educa a filha. Ele se aproximou da gente e cumprimentou a minha tia com um aceno de cabeça."Bom dia, dona Benedita," ele disse, com um sorriso meio sem graça."Bom dia, Rafael," minha tia respondeu, simpática como sempre. "Como você tem lidado com as coisas?"Ele ficou um pouco sem jeito, colocou as mãos nos bolso
PONTO DE VISTA DA ISABELAMais tarde, quando cheguei à pousada, a preocupação começou a apertar meu peito. Como eu ia contar para minha tia sobre a minha decisão de me mudar? Não queria machucá-la, nem parecer mal agradecida por toda a ajuda e carinho que ela me tinha dado desde que cheguei. Parecia que eu não teria muito tempo para planejar essa conversa delicada, já que tinha fechado com a corretora que me mudaria no final de semana. Era tudo muito rápido, mas a oportunidade daquela casa parecia um sinal.Assim que entrei na sala, minha tia veio ao meu encontro com um sorriso acolhedor. "Filha! Que bom que chegou. Vem, a janta está pronta. Sei que você não anda comendo muito bem ultimamente." A preocupação era evidente em sua voz suave."Obrigada, tia," respondi, tentando sorrir, "mas eu queria tomar um banho primeiro. Preciso relaxar um pouco."Subi as escadas devagar, sentindo o cansaço do dia pesar em meus ombros. No quarto, tirei a roupa e entrei no chuveiro. A água quente escor
"Claro, vamos dar uma olhada então," a corretora falou com um sorriso simpático, me chamando para entrar de novo na casa. Emma continuou ali na varanda, olhando tudo com aqueles olhinhos curiosos dela.Enquanto a gente entrava, a corretora começou a me mostrar cada cantinho da casa. "Aqui é a sala principal, bem espaçosa, como você pode ver. E essa porta grande de vidro dá direto para o jardim." Ela apontou para o quintal, que parecia bem grande e cheio de verde. "Imagine as crianças brincando aqui!"Ela me levou para a cozinha, que era moderna e já tinha todos os armários e eletrodomésticos. "Tudo novinho em folha," ela comentou, abrindo e fechando as portas dos armários para eu ver. Depois, subimos as escadas para o segundo andar. "Aqui ficam as suítes. São duas, todas com banheiro privativo e uma varandinha charmosa."Cada quarto era mais bonito que o outro, com bastante luz natural e espaço de sobra. A vista das varandas era mesmo incrível, dava para ver um pedacinho da cidade e a
Depois de usar mais uma vez o carro da minha tia, estacionei em frente à floricultura e entrei. Dona Nilda estava concentrada, arrumando um vaso de flores amarelas vibrantes. "Bom dia, querida!" ela disse, levantando os olhos e me vendo. "Que bom que chegou. Será que você poderia me fazer um favor e levar essa entrega para mim?" Ela apontou para o vaso que estava se ajeitando. "É para a Rua das Acácias, número 125. A cliente pediu para entregar até o meio-dia." "Claro, Dona Nilda, sem problemas nenhum." Concordei na hora. Qualquer coisa para ocupar a mente e sair um pouco da rotina. Peguei o vaso com cuidado, admirando a beleza das flores. "São margaridas?" perguntei, curiosa. "Isso mesmo, minhas preferidas!" ela respondeu com um sorriso. "A cliente de hoje também parece gostar muito. Deixei o endereço anotado aqui." Ela me entregou um pequeno pedaço de papel com as informações. Coloquei o vaso delicadamente no banco de trás do carro da minha tia. "Tudo certo. Já volto." Liguei