Após flagrar o noivo com sua melhor amiga às vésperas do casamento, Isabela vê sua vida desmoronar de forma cruel e inesperada. Humilhada, traída e sem rumo, ela decide abandonar tudo e recomeçar numa cidade pequena, onde ninguém conhece sua história. Lá, entre flores e silêncio, ela conhece Rafael, um ex-militar viúvo, marcado por perdas e cercado por muros altos demais para o amor. Ele vive para proteger a filha e manter distância de qualquer emoção que não seja controle. Mas quando seus caminhos se cruzam, entre cactos e cicatrizes, nasce algo que nenhum dos dois esperava: um sentimento terno, perigoso, quase indesejado… mas verdadeiro. Agora, ela terá que aprender a confiar novamente. E ele, a baixar a guarda. Porque às vezes, é no campo de batalha do coração que nascem os amores mais corajosos.
Ler maisPONTO DE VISTA DE RAFAELNa próxima semana, a tranquilidade virou só lembrança. As mensagens ruins começaram na quinta, com umas palavras meio estranhas.Agora, era um ataque direto. Desconhecido: "Ela nunca vai ser a Jeniffer." Desconhecido: "Você traiu o que vocês viveram juntos." Desconhecido: "O que todo mundo dessa pequena cidade diria se soubesse que você esqueceu tão rápido sua falecida esposa e a trocou por uma florista qualquer?"As mensagens apareciam no meu celular sempre de números diferentes. Desativados em seguida. Impossíveis de descobrir quem mandava, mesmo para um cara como eu que vinha do exército.E cada frase... me acertava que nem um soco na boca do estômago. Eu sabia que não era verdade.Que a Isabela não era pra substituir ninguém.Que o amor que eu tive com Jeniffer era pra sempre, do jeito que foi — mas o que eu tô vivendo agora também é para sempre. Mesmo assim...A maldade escorria por trás das palavras, entrando em mim que nem um veneno silencioso.Na manh
PONTO DE VISTA DE RAFAEL Naquela mesma tarde de sol ameno, convidei Isabela para vir para a minha casa. O céu, um azul límpido pontilhado por nuvens esparsas, criava uma atmosfera de tranquilidade, daquelas que inspiram a gestos simples, porém carregados de significado. Emma surgiu da varanda correndo, sua pequena enxada de brinquedo na mão, a animação estampada no rosto. Logo atrás, Isabela caminhava com um sorriso divertido, equilibrando um regador verde e três mudas de lavanda roxa em seus braços. "Se essa energia toda virar crescimento, teremos uma floresta particular em breve," comentou Isabela, entregando-me um dos vasos de cerâmica. "Com você por perto, deixo o quintal virar o que quiser," respondi, meu olhar encontrando o dela por um instante. Isabela desviou os olhos, um rubor suave colorindo suas bochechas, mas o sorriso que persistia em seus lábios falava por si só. O quintal, um espaço modesto nos fundos da casa, sempre foi meu refúgio particular. Ali, gostava de div
PONTO DE VISTA DE RAFAELDois dias depois, acordei antes do sol. A casa quieta, Emma dormindo ainda. Uma tristeza estranha na manhã, não de fora, era de dentro. Parecia que eu sabia que o dia seria diferente. Fui arrumar a estante da sala, onde guardo umas coisas antigas ali. Papéis, fotos, cartas esquecidas em caixas que sobreviveram às mudanças da vida e da casa. E foi ali, no meio de uns documentos e um caderno velho, que achei. A carta. Dobrada com cuidado. O papel ainda estava intacto. Reconheci a letra na hora. Jeniffer. Por um segundo, tudo parou. Inclusive o tempo. Eu fiquei parado. Sentei no sofá com a carta na mão, o coração batendo forte, como se fosse a primeira vez que eu lia algo dela desde... desde o último "te amo" que ouvi. Abri devagar. A mão tremia. O peito apertava. "Rafa, Se você achar essa carta algum dia, é porque a vida nos separou, essa vida que leva a gente quando mais estamos felizes. E eu não quero que você fique preso ao que a gente viveu. Não se sinta
PONTO DE VISTA DE RAFAEL Uns dias depois, percebi algo inédito desde que Jeniffer se foi: olhar para uma mulher e imaginá-la na minha vida. Não só no sexo. Não só na cama. Mas no dia a dia, nos domingos de preguiça, nas conversas durante a janta. Isabela. Ela estava em tudo agora. No cheiro da blusa que ela usou e eu esqueci de lavar. No som da risada de Emma, que ficou mais fácil de acontecer. No jeito que a casa parecia mais viva depois que ela entrou aqui. Mas junto com essa vontade de tê-la perto... veio o receio que eu já tinha pensado antes. Um receio. Como colocar minha filha nisso sem machucar ninguém? Emma é esperta. Observadora. Ela já notou, claro. O brilho nos meus olhos, quantas vezes falo o nome de Isa em casa, a voz diferente quando digo "vou rapidinho na floricultura". Mas falar que ela é especial, alguém que talvez fique, alguém que me fez querer começar de novo... isso ainda não fiz. E eu sei que não posso esperar muito. Ela merece a verdade. A gente almoça
PONTO DE VISTA DE RAFAEL Essa noite, fiquei esperando ela chegar, meio ansioso. Tipo quando a gente planta uma coisa e torce pra dar certo. A casa tava arrumada, luz baixa, um cheiro gostoso no ar. E eu só pensava: "Que ela entre. Que ela fique aqui comigo essa noite." Quando a campainha tocou, respirei fundo antes de abrir. Ela tava demais. Um vestido leve de algodão, a pele brilhando na luz da varanda, o cabelo solto e os olhos... ah, aqueles olhos que falavam tudo. Nem precisou dizer nada. O jeito que ela olhou já era um "hoje vai acontecer". "Oi," ela falou baixinho. "Entra." Ela passou por mim devagar, quase nos esbarramos, mas não aconteceu. Fechei a porta e ficamos nos olhando por um tempão, um silêncio cheio de segundas intenções. Queria falar um monte de coisa que tava na minha cabeça. Mas acho que o silêncio dizia mais. Ela foi pra sala, e eu fui atrás. Parei na frente dela e coloquei a mão na cintura dela. "Você tem certeza?" Ela balançou a cabeça, os olhos brilhando.
PONTO DE VISTA DE ISABELANo dia seguinte, ao cruzar a porta da floricultura, o mundo ao meu redor parecia inalterado. As flores na vitrine exibiam as mesmas cores vibrantes, exalavam o mesmo perfume embriagador. Os transeuntes apressados na rua seguiam seus caminhos habituais. O vento soprava com a mesma brisa suave da manhã.Mas eu... eu não era mais a mesma.A lembrança da noite anterior residia em cada célula do meu corpo, uma sensação boa que irradiava de dentro para fora. O toque suave de seus lábios nos meus, o calor firme de suas mãos em minha cintura, a forma como ele emoldurou meu rosto, como se eu fosse a mais preciosa das flores. E talvez, para ele, eu fosse.Depositei o buquê de tulipas amarelas sobre a bancada de madeira e respirei fundo, o aroma fresco das pétalas invadindo meus pulmões. Pela primeira vez em um longo tempo, não senti a pontada familiar da traição de Carlos e Gisele.Não me sabotei com pensamentos obscuros, com a sombra constante do passado. Eu simplesme
"Infelizmente aconteceu," continuei, a voz embargada pela lembrança da dor. "Aquilo me fez chorar muito, Rafael. Me senti tão... traída, tão tola. Mas depois que eu conheci você e Emma... vocês dois me fizeram superar as coisas aos poucos. A gentileza de vocês, o carinho... me mostraram que ainda existe bondade no mundo."Rafael segurou minhas mãos entre as suas, seus olhos fixos nos meus, transmitindo uma ternura reconfortante. "Não pense mais nisso, Isa. Aqueles dois não merecem que ocupem nem um pedacinho da sua linda cabeça. Você é muito melhor que isso, muito mais forte." Um sorriso tímido brotou em meus lábios diante daquele apoio sincero. "Então... que tal assistirmos a um filme bebendo mais vinho?" ele perguntou, a sugestão em sua voz quebrando a tensão do momento.Eu sorri, concordando com a cabeça. Ele me entregou o controle remoto enquanto eu começava a zapear pelos canais de filme, procurando algo que nos agradasse. Rafael se levantou e foi até a cozinha, retornando em s
PONTO DE VISTA DE ISABELA Naquela noite, enquanto penteava o cabelo com os dedos diante do espelho pequeno do meu quarto, tive a sensação estranha de estar indo a um encontro... e, ao mesmo tempo, sentindo que era algo muito mais profundo que isso. Não era como antes. Não havia a ansiedade dos jantares com Carlos, a preocupação excessiva com o vestido perfeito, o tom de voz adequado, a quantidade exata de riso ensaiado. Com Rafael, a única coisa que eu realmente queria era ser eu mesma. E, por mais assustador que fosse admitir, ser quem eu era parecia ser o bastante para ele. Vesti uma blusa de tecido leve que eu gostava, um jeans escuro que me fazia sentir confortável e um colar pequeno de prata que minha tia me deu quando terminei a faculdade. Um toque de algo antigo para marcar um momento que eu sentia ser o início de algo novo. O caminho até a casa dele era curto, apenas alguns passos pela calçada. Mas meu coração parecia um passarinho preso em uma gaiola, batendo sem parar
Rafael me deixou de carro em frente à floricultura, um silêncio respeitoso pairando entre nós durante o curto trajeto. Eu não podia deixar a loja fechada por muito tempo, agora que minhas responsabilidades tinham aumentado significativamente com a nova sociedade. O dia na floricultura transcorreu em sua normalidade habitual, entre a chegada de novas flores, a montagem de arranjos delicados e o atendimento aos clientes. No entanto, em meio ao aroma doce das rosas e ao verde exuberante das folhagens, a imagem de Emma encolhida naquele armário escuro persistia em minha mente. A fragilidade daquela pequena criatura, a dor silenciosa em seus olhos, me lembravam da força que ela precisaria encontrar para seguir em frente, mesmo com a ausência tão dolorosa da mãe ao seu lado. Eu sinceramente esperava que ela conseguisse, que encontrasse um caminho para lidar com a saudade e reconstruir sua alegria. Quando finalmente fechei a floricultura, o céu já tingia o horizonte com tons alaranjados e