Entre Fardas e Flores
Entre Fardas e Flores
Por: Mia Ivanov
Capítulo 1

PONTO DE VISTA DA ISABELA

Eu trabalhava como recepcionista num hotel fazia uns cinco anos e, na real, eu amava o que fazia. O ambiente era super acolhedor, os hóspedes sempre me contavam cada história maneira, e a rotina, por mais corrida que fosse, nunca me cansava. Sentia que aquele lugar era quase minha casa.

Assim que meu turno acabou, fui pro banheiro tranquila, carregando minha bolsa. Em frente ao espelho, dei um retoque na maquiagem com cuidado. Meu cabelão castanho, que descia em ondas até a altura dos cotovelos, tava solto, brilhando na luz amarela do lugar. Meus olhos castanhos, que sempre foram tão comuns, pareciam brilhar mais forte hoje. E não era à toa, né?

Eu tava quase saindo dali direto pro apartamento do meu noivo.

No fundo da bolsa, bem protegida, eu levava uma garrafa do melhor vinho do hotel, um dos preferidos do Carlos. Além disso, tinha separado uma revista com ideias de festas, toda marcada com post-its nas páginas que tinham detalhes a ver com a gente. Centros de mesa simples, convites elegantes, umas inspirações de cardápio. Tudo pensado com o maior carinho pro nosso dia especial.

Nosso casamento ia ser daqui a um mês, e a contagem regressiva já tinha começado. Ainda tínhamos uns detalhes pra acertar, e eu queria fazer dessa noite algo especial. Ele nem imaginava que eu tava indo. Decidi fazer uma surpresa.

E enquanto ajeitava o batom com um sorrisinho no rosto, meu coração já tava acelerado só de imaginar a cara dele ao me ver ali, de repente, com tudo pronto pra uma noite só nossa.

Mas depois de uns dez minutos dirigindo até o apê dele, ainda com aquele frio bom na barriga, saquei uma coisa estranha assim que estacionei: a porta tava meio aberta. Achei que o Carlos tinha esquecido de trancar, distraído como sempre. Cheguei perto, despreocupada, segurando a garrafa de vinho numa mão e a revista de festas na outra, já imaginando a surpresa na cara dele quando me visse ali.

Só que, antes mesmo de alcançar a maçaneta, uns barulhos abafados de conversa chegaram até mim.

E logo em seguida… gemidos. Que porra tava rolando?

Meu coração bateu mais forte.

Segurei na maçaneta por uns segundos, tentando acreditar que não era o que tava parecendo. Talvez eu tivesse ouvido errado, sei lá, podia ser a TV. Mas uma coisa dentro de mim já sabia. Aquela certeza que te dá um soco no estômago. Respirei fundo, empurrei a porta de leve e entrei sem fazer barulho.

A cena que eu vi fez meu mundo desabar.

O Carlos tava sentado no sofá, sem camisa, com a cabeça jogada pra trás. Em cima dele, a Gisele, minha melhor amiga, montada no colo dele com o vestido levantado até a cintura, se mexendo como se não houvesse amanhã. Nenhum dos dois me notou. Eles tavam ocupados demais... tipo, ocupados demais pra se ligarem em qualquer coisa.

Fiquei ali parada, com o vinho tremendo na minha mão, o mundo girando devagar. Meu estômago embrulhou, fiquei sem ar. Aquele brilho nos olhos de antes virou uma sombra de descrença e raiva. Não tinha mais surpresa, nem planos de casamento, nem noites especiais.

Só traição.

E uma dor que eu nunca vou esquecer.

A garrafa escorregou da minha mão antes que eu conseguisse falar qualquer coisa. Caiu no chão com um estrondo seco e o barulho do vidro quebrando se espalhou como um eco da dor que tava me cortando por dentro. O som fez eles se ligarem.

O Carlos olhou pra trás, assustado. A Gisele virou o rosto por cima do ombro, com o cabelo todo bagunçado e a cara vermelha. O silêncio que veio depois foi sufocante.

"Isabela..." o Carlos começou, levantando correndo, empurrando a Gisele pro lado como se ela não fosse nada. "Isso... isso não é o que você tá pensando."

Eu ri. Uma risada amarga, sem nenhuma graça.

"Não é o que eu tô pensando?" minha voz saiu rouca, baixa, mas firme. "Porque tá parecendo exatamente o que é. Você transando com a minha melhor amiga."

A Gisele tentou se cobrir com o vestido, ajeitando o cabelo com as mãos tremendo.

"Isa, por favor, me escuta... não foi planejado, juro. Foi só... um momento de fraqueza."

"Fraqueza?" repeti, olhando pros dois com raiva. "É assim que vocês chamam isso? Enganar alguém que confiava nos dois cegamente? Que tava, até cinco minutos atrás, escolhendo centros de mesa pra uma cerimônia que nunca vai acontecer?"

O Carlos deu um passo na minha direção.

"Eu errei. Sou um idiota, eu sei... Mas eu te amo, Isa. Aconteceu só uma vez. Eu... eu tava confuso."

"Confuso?" meus olhos ardiam, mas eu não ia derramar uma lágrima por ele ali. "Confuso com ela montada em você? É isso?"

A Gisele começou a choramingar.

"Isa, juro que tô me sentindo péssima. Foi um erro, um momento horrível, não sei o que deu na gente. A gente tava meio bêbado e..."

"Eu trouxe vinho, Gisele" interrompi, apontando pros cacos no chão. "O bom. O que eu ia dividir com vocês dois num jantar de comemoração. Mas vocês preferiram dividir outra coisa, né?"

O Carlos passou a mão no cabelo, nervoso, tentando se controlar. "A gente pode conversar sobre isso. Por favor, Isa. Não j**a tudo fora por causa de uma deslizada"

Eu ri de novo, dessa vez mais alto, mais amarga.

"Quem jogou tudo fora foi você, Carlos. Você jogou fora cada promessa, cada plano, cada segundo que eu investi nisso. Sabe o que eu joguei fora? Meus sonhos... com você."

Dei um passo pra trás, sentindo o estômago revirar. Precisava sair dali antes que eu perdesse a cabeça. Antes que eu gritasse. Antes que eu chorasse.

"Vocês se merecem" sussurrei. "E espero que cada vez que se olharem, lembrem do que destruíram pra ficarem juntos."

E então, virei as costas. Porque eles não mereciam ver minha dor.

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