Clara levava uma vida rotineira e previsível em seu trabalho como caixa de supermercado até o dia em que tropeçou – literalmente – nos planos de um perigoso mafioso. Forçada a conviver com o homem que representa tudo o que ela sempre evitou, Clara descobre um mundo de perigo e paixão onde sua ingenuidade se torna tanto uma arma quanto uma fraqueza. Mas será que ela está pronta para enfrentar as consequências de se apaixonar por alguém tão letal?
Ler maisMinha rotina era simples. Acordar cedo, pegar o mesmo ônibus lotado, sorrir para clientes mal-humorados e repetir o processo no dia seguinte. Eu nunca esperei que minha vida mudasse drasticamente em uma noite qualquer, muito menos que uma simples maleta jogada no lugar errado pudesse virar meu mundo de ponta-cabeça.
Era tarde quando saí do supermercado. Meu turno se estendeu por tempo demais, como sempre acontecia quando o gerente resolvia me sobrecarregar. Caminhei para casa com os fones de ouvido e os pensamentos vagando entre o que faria para jantar e o quanto desejava um banho quente. A rua estava deserta, apenas alguns postes piscando intermitentemente iluminavam o caminho. Foi quando tropecei.
Olhei para baixo, confusa. Algo duro havia esbarrado no meu pé. A luz fraca revelou uma maleta preta, aparentemente intacta, de couro reluzente. Não havia ninguém por perto. Ela estava ali, como se tivesse sido esquecida por alguém com muita pressa.
Meu coração disparou com uma mistura de excitação e receio. Eu devia ignorar e seguir em frente. Era o certo a se fazer. Mas alguma coisa me impediu. Curiosidade? Talvez. Ou talvez fosse apenas uma necessidade infantil de quebrar a monotonia da minha existência. Engoli em seco antes de me agachar e puxar o fecho da maleta.
O clique ecoou pelo beco silencioso.
Dentro, pilhas e pilhas de dinheiro estavam organizadas com perfeição. Notas de cem e cinquenta, agrupadas de forma meticulosa, ao lado de envelopes lacrados. Meu olhar se fixou em um celular descartável de modelo antigo, jogado entre os maços de notas, como se estivesse ali para ser usado apenas uma vez. Entre os documentos, pastas grossas com papéis cobertos por anotações codificadas e nomes que eu não reconhecia. Alguns tinham fotos anexadas, homens de terno e olhar severo, e o que parecia ser um relatório detalhado de suas rotinas.
Meus dedos tremeram ao folhear rapidamente o conteúdo. Isso não era normal. Isso não era de uma pessoa comum. Era como se eu tivesse aberto um portal para um mundo que nunca deveria ter conhecido. Um mundo perigoso. Um mundo onde segredos valiam mais do que vidas.
Foi quando percebi.
Eu estava sendo observada.
Um arrepio gelado percorreu minha espinha antes mesmo de ouvir o primeiro som de passos ecoando pelo beco. Levantei a cabeça rápida demais e me vi cercada por três homens. O que estava no centro tinha uma postura tensa, um olhar que imediatamente me disse que eu havia cometido um erro grave.
— A maleta. — A voz do homem era firme, sem pressa, como se já tivesse decidido o que fazer comigo.
Meu estômago revirou. Eu sabia que correr não era uma opção. O suor frio se acumulava na minha testa quando levantei as mãos em um gesto de rendição.
— Eu... Eu só encontrei aqui. Não peguei nada! — Minha voz saiu fraca, mas sincera.
O homem não pareceu convencido. Deu um passo à frente, e eu automaticamente dei um para trás. O metal de uma arma brilhou na luz fraca do poste. Meu coração batia tão rápido que parecia que eu iria desmaiar ali mesmo.
— Você abriu, não foi?
Engoli em seco. Mentir não ia me salvar.
— Eu não vi nada! Só dinheiro... Eu não vou contar para ninguém, eu juro!
O homem trocou um olhar com os outros dois. Algo foi decidido sem palavras, porque antes que eu pudesse piscar, senti as mãos fortes de um deles segurando meu braço e me puxando para longe do beco. Um grito se formou na minha garganta, mas morri de medo de soltá-lo.
Eu não sabia quem eram, mas sabia o suficiente para ter certeza de que minha vida estava em risco.
Me jogaram dentro de um carro preto, e o homem que havia falado comigo entrou no banco do passageiro. O motor roncou, e logo eu estava sendo levada para longe do único mundo que conhecia.
**
Não sei quanto tempo passou antes do carro parar. Meus nervos estavam em frangalhos quando as portas foram abertas e fui puxada para fora. Um prédio discreto, sem placas, mas com uma presença intimidadora, ergueu-se à minha frente. Me arrastaram para dentro sem cerimônia, me jogando em uma sala mal iluminada com uma única poltrona de couro no centro.
E foi então que ele apareceu.
Dante Vasquez.
Ele entrou na sala com a presença de um rei em seu próprio castelo. Alto, com um porte imponente, vestindo um paletó bem ajustado que denunciava poder. Mas não era a roupa que o fazia ameaçador. Era o olhar. Intenso, calculista, letal.
Ele caminhou até a poltrona e sentou-se com calma, como se já estivesse acostumado a decidir o destino de pessoas em sua posição.
— Seu nome.
— C-Clara. — Minha voz falhou, mas consegui responder.
Ele tamborilou os dedos na lateral da poltrona, me analisando com um interesse que não soube decifrar de imediato. Então, um sorriso lento se formou em seus lábios.
— Me disseram que você abriu a minha maleta.
Senti minha garganta secar.
— Não queria causar problemas... Eu só...
— Mas causou. — Ele me interrompeu, ainda sorrindo. — E agora preciso decidir o que fazer com você.
O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. O peso de sua presença me esmagava, mas foi ali, naquele instante, que algo clicou dentro de mim.
Se eu demonstrasse fraqueza, estaria morta.
Então, fiz a única coisa que poderia me salvar: mantive a compostura, ergui o queixo e joguei com a única vantagem que tinha.
Minha ingenuidade.
— Eu posso ser mais útil viva do que morta.
Ele arqueou uma sobrancelha, como se estivesse intrigado.
E assim, sem saber, eu havia acabado de entrar no mundo de Dante Vasquez.
O clarão da explosão ainda queimava em minha mente. O som ensurdecedor ecoava nos meus ouvidos mesmo depois de já estarmos longe do local. Eu sentia a adrenalina pulsando, um misto de choque e excitação que me fazia tremer dos pés à cabeça.O carro cortava a cidade no silêncio sufocante. Dante dirigia com os olhos fixos na estrada, a mandíbula cerrada, os dedos apertados no volante com força suficiente para embranquecer os nós dos dedos.Eu não conseguia desviar o olhar dele.Ele acabara de explodir um depósito inteiro, matar vários homens de Hector e ainda assim parecia completamente no controle da situação. Enquant
O silêncio da casa segura era apenas superficial. A tensão pairava no ar, tão densa que parecia palpável. Eu andava de um lado para o outro no quarto em que Dante havia me deixado, o coração ainda acelerado pela conversa que tivemos.Vamos responder.Aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça.Dante estava pronto para agir contra Hector, mas o que isso realmente significava? Uma emboscada? Mais tiros? Mais sangue?Sentei-me na beira da cama e pressionei os dedos contra as têmporas. Minha vida inteira estava fora de controle.Antes de conhecer Dante, eu passava os dias ensinando crianças, corrigindo provas e planejando atividades escolares. Agora, eu segurava armas, fugia de emboscadas e via pessoas sangrando na minha frente.Pior ainda: eu atirei em alguém.Uma batida na porta me tirou dos meus pensamentos.— Entre.Dante apareceu, encostando-se no batente da porta. Ele me olhou por um momento antes de entrar e fechar a porta atrás de si.— Você não dormiu.— E você dormiu?E
A respiração ainda era irregular quando finalmente entramos no carro. Dante dirigia em alta velocidade pela estrada deserta, os nós dos dedos brancos de tanto apertar o volante. O silêncio entre nós não era apenas causado pelo cansaço, mas pelo peso do que acabara de acontecer.Eu havia atirado em alguém.Meu corpo ainda estava tomado pela adrenalina, mas a verdade se infiltrava devagar, como uma corrente gelada percorrendo minha pele.— Você está bem? — Dante perguntou, sem tirar os olhos da estrada.Assenti, mesmo sabendo que ele não acreditaria.— Clara, olhe para mim.Me forcei a virar o rosto, encont
A madrugada avançava enquanto eu permanecia sentada à mesa do escritório de Dante, absorvendo cada detalhe dos documentos espalhados à minha frente. Meu coração ainda batia acelerado depois de tudo que eu vira na sala subterrânea. A magnitude do império de Dante e as peças ocultas que mantinham a engrenagem do crime organizada eram assustadoras e, ao mesmo tempo, fascinantes.Eu não deveria me sentir assim. Eu deveria temer aquele mundo. Mas, em vez disso, queria entendê-lo.Dante estava encostado no batente da porta, observando-me em silêncio.— Você está processando bem demais tudo isso — ele comentou, cruzando os braços.
O silêncio dentro do carro era pesado. Eu observava Dante pelo canto do olho enquanto ele dirigia, seu olhar fixo na estrada, a mandíbula cerrada em concentração. Desde o encontro com Sofia Rivas, ele não tinha dito muito.— Você está muito calado — comentei, quebrando a quietude sufocante.Ele soltou um suspiro, mas manteve os olhos na estrada.— Estou pensando.— Sobre?— Sobre quantas maneiras essa história pode dar errado.Eu me recostei no banco, cruzando os braços.— Então você acha que ela pod
O salão continuava repleto de vozes e risadas abafadas, um espetáculo de riqueza e poder disfarçado sob sorrisos elegantes. Mas minha atenção estava completamente voltada para Sofia Rivas.A jornalista parecia confortável, mas seus olhos analisavam cada canto do salão como se esperasse que alguém pulasse sobre ela a qualquer momento. Isso só confirmava o que já suspeitávamos: ela sabia demais e sentia o perigo se aproximando.Dante estava relaxado ao meu lado, como se aquilo fosse apenas mais um evento mundano, mas eu sentia a tensão sob sua pele. Ele não gostava de deixar nada ao acaso, e nossa aproximação com Sofia precisava ser calculada.— Ela parece inquieta — murmurei, tomando um gole do champanhe sem tirar os olhos dela.Dante sorriu de canto.— Isso é bom. Quanto mais alguém sente o medo, mais fácil é controlar o jogo.O comentário me deu um arrepio, não porque me assustava, mas porque me lembrava de quem ele era. Dante Vasquez não era um herói, e eu não poderia esquecer isso.
Último capítulo