Criada como a princesa perfeita, Elena Santoro sempre soube que sua vida não lhe pertencia. Desde criança, ela carregava o peso de uma promessa: um casamento arranjado para selar a paz entre sua família e a Cosa Nostra, uma das dinastias mafiosas mais temidas do mundo. Agora, aos vinte e dois anos, Elena está prestes a ser entregue a Luca Grecco, um Don cruel e implacável, cuja reputação é regada a sangue e terror. Ele não é o príncipe encantado que ela sonhava em encontrar, mas uma fera que governa com punhos de ferro, exigindo lealdade absoluta e instilando medo onde quer que vá. Enquanto Elena luta para se ajustar à sua nova vida e sobreviver às intrigas de um mundo perigoso, descobre que há muito mais por trás dos olhos sombrios de Enzo do que ela imaginava. Entre jogos de poder, segredos de família e uma atração avassaladora, Elena será forçada a decidir se o homem que todos temem é também aquele capaz de destruir ou salvar o que resta de seu coração e entregar a ela seus segredos mais sombrios. Em um mundo onde o amor pode ser mais letal que a vingança, ela arriscará tudo... ou se perderá para sempre.
Leer másSeis anos antes...
A catedral estava mergulhada na penumbra, iluminada apenas pelas velas que tremulavam em um ritmo irregular. O som dos meus passos ecoava pelo chão de mármore, cada batida lembrando que, a partir desta noite, minha vida não era mais minha. Era da Cosa Nostra.
Olhei ao redor, permitindo que meus olhos percorressem cada banco. Todos os rostos estavam voltados para mim — aliados, cúmplices, homens e mulheres que deviam suas vidas e fortunas à minha família. Cada um deles estava aqui para testemunhar minha ascensão, para ver o filho de Salvatore De Luca tomar o lugar de seu pai.
Meu olhar parou nos últimos bancos, onde estavam os Santoros. Sempre tão distintos, sempre escondidos sob a fachada impecável de uma família nobre, mas nós dois sabíamos o que eles realmente eram. O patriarca deles me lançou um breve aceno de cabeça, mas meu interesse não estava nele. Estava na garota ao seu lado.
Ela estava parcialmente escondida pela escuridão, o rosto iluminado apenas pela luz fraca das velas, ainda era apenas uma adolescente. Elena Santoro. A prometida. Minha noiva. A moeda de troca que garantiu a paz entre nossas famílias.
Paz. Uma palavra que me soava tão irônica quanto inalcançável.
Ela manteve os olhos baixos, as mãos cruzadas sobre o colo. Não sei se era medo, resignação ou apenas treinamento. As princesas da máfia eram criadas para isso, afinal: submissas, intocáveis, obedientes. Mas havia algo nela que me intrigava. Talvez fosse o contraste entre sua postura delicada e o peso que ela carregava nos ombros. Ou talvez fosse o fato de que, mesmo sem olhar diretamente para mim, eu sabia que ela me sentia ali.
Respirei fundo e continuei até o altar, parando diante do padre. A cruz pendurada atrás dele parecia me observar, um lembrete incômodo de que, neste mundo, não existia redenção.
A catedral parecia viva, mas não com fé — com poder. As paredes de pedra carregavam o peso de décadas de segredos, conspirações e sangue derramado em nome da Cosa Nostra. Cada vela tremulava como se lutasse contra a escuridão que dominava o ambiente, lançando sombras que se moviam como espectros.
Meus passos ecoavam no chão de mármore frio enquanto eu atravessava o corredor central. Todos os olhares estavam sobre mim, mas o silêncio era tão profundo que quase podia ouvir a respiração contida de cada pessoa presente. As famílias mais poderosas estavam ali, os reis e rainhas do submundo, esperando o momento em que eu me tornaria oficialmente Don.
O altar estava à minha frente, um monumento de pedra cinzenta adornado com símbolos de fé que pareciam incongruentes neste cenário. O padre me esperava ali, de pé, com uma expressão séria. Ele não era apenas um homem de Deus. Ele era um servo da nossa causa, tão leal à Cosa Nostra quanto qualquer outro.
Sobre o altar, repousava o punhal de omertà. A lâmina era longa, antiga, marcada com gravuras que remontavam às origens de nossas tradições. Não era apenas uma arma — era um símbolo. Com aquele punhal, eu faria meu juramento de sangue.
O padre começou, sua voz ressoando pela catedral.
— Você jura lealdade eterna à Cosa Nostra, à sua família e às tradições que sustentam este império?
— Juro. — Minha voz soou firme, mas carregada com o peso da responsabilidade que eu estava assumindo.
O padre assentiu e me indicou que me aproximasse. Estendi a mão, sem hesitar, enquanto ele segurava o punhal e a virava para mim. A lâmina brilhou fracamente sob a luz das velas.
— Com este juramento, você se torna mais do que um homem. Você se torna o guardião das nossas leis, o protetor do sangue que une esta família.
Acertei o punhal contra a palma da minha mão, a lâmina cortando minha pele sem piedade. O sangue escorreu, quente, pingando sobre o altar enquanto o padre pronunciava palavras que eu conhecia desde a infância. Ele estendeu uma pequena vela e aproximou a chama do meu ferimento, cauterizando o corte. Um sinal de força. Um sinal de compromisso.
— A partir deste momento, você é o Don. A Cosa Nostra vive em você.
Levantei a mão marcada, deixando que todos vissem o sangue em minha pele. Aquele gesto era um juramento visível, um aviso silencioso de que, a partir de agora, eu era a lei.
Os aliados nos bancos inclinaram a cabeça em respeito. Mas o ar parecia mais denso, quase sufocante. Sabia que, em algum lugar no fundo daqueles olhos, havia medo. Eu me tornei o monstro que eles precisavam temer e obedecer.
Meu olhar se desviou por um instante para o banco dos Santoros. Lá estava ela. Elena. A prometida. Suas mãos estavam cruzadas no colo, mas seu rosto parecia uma máscara de serenidade que quase escondia o pavor. Nossos olhos se encontraram, e por um momento tudo ao redor desapareceu. Ela era minha. Por obrigação, sim, mas ainda assim minha.
Ao fundo, o sino da catedral soou uma única vez. O som ecoou como um lembrete. Uma era havia terminado.
Outra, muito mais perigosa, estava começando.
O quarto estava envolto em uma penumbra suave, apenas a luz do luar entrando pelas cortinas, criando sombras dançantes nas paredes. Luca fechou a porta atrás de nós, e o som do trinco ecoou como um ponto final no caos que havíamos deixado para trás. Ele virou-se para mim, seus olhos escuros brilhando com uma mistura de alívio e culpa.— Elena — ele começou, sua voz rouca, carregada de emoção. — Eu... eu não deveria ter deixado isso acontecer. Eu devia ter te protegido.Eu abri a boca para responder, mas ele não me deu chance. Em dois passos, ele estava diante de mim, suas mãos firmes, mas gentis, segurando meu rosto. Seus olhos percorreram meu rosto, como se estivesse memorizando cada detalhe, como se precisasse se certificar de que eu estava realmente ali, inteira, viva.— Luca, eu estou bem — eu sussurrei, mas ele balançou a cabeça, seus dedos tremendo levemente contra minha pele.— Não, você não está bem. Você foi tirada de mim, e eu... — sua voz falhou, e ele fechou os olhos por u
O motor do carro rugia conforme eu cortava as ruas escuras, meu peito queimando com uma raiva que beirava o incontrolável. A mensagem de Aslan ainda piscava na tela do celular ao meu lado, o endereço onde ele mantinha Elena e minha mãe prisioneiras. Meu maxilar estava travado, meus dedos brancos de tanto apertar o volante.Pietro e Matia estavam comigo, ambos silenciosos, mas prontos para matar. O silêncio dentro do carro era ensurdecedor, carregado de tensão e promessas de sangue derramado.— Temos que ser rápidos — disse Matia, quebrando o silêncio. — Se Aslan quiser usá-las para firmar a linhagem da Bratva, ele não vai esperar muito.— Eu não vou deixar ele encostar nelas — rosnei, minha voz tão afiada quanto uma lâmina. — Se ele quiser uma guerra, eu vou dar a ele.Pietro assentiu, carregando sua arma com um clique metálico. — Se for uma armadilha?Eu ri, um som seco e sombrio. — Então matamos todos eles.O local indicado na mensagem era um casarão antigo nos arredores da cidade,
O frio da sala me envolvia como uma jaula invisível. O ar carregado com o cheiro de tabaco e couro, misturado ao perfume amadeirado de Aslan, fazia minha pele arrepiar. Eu estava sentada em uma poltrona de couro escuro, diante dele, com um copo de vodka intocado sobre a mesa. Meu estômago revirava com a tensão, mas eu mantinha minha expressão impassível.Aslan me observava com olhos predatórios, um sorriso preguiçoso brincando em seus lábios. Ele se recostou na cadeira, cruzando os dedos sobre a mesa.— Você é mais corajosa do que imaginei, devo admitir — ele murmurou, inclinando levemente a cabeça. — Eu esperava que Luca fosse te trancar em uma jaula de ouro. Mas você veio sozinha.Cruzei os braços, sustentando seu olhar.— Eu vim porque essa guerra precisa acabar. Você já conseguiu o que queria. Agora, solte a mãe de Luca.Aslan riu, um som grave e carregado de desprezo. Ele se levantou, caminhando lentamente ao redor da mesa. Cada passo seu ressoava como um aviso.— Você ainda não
A tempestade estava dentro de mim. Cada batida do meu coração parecia um tambor de guerra, cada respiro, um lembrete de que eu estava a um passo de explodir. Elena havia se entregado para aquele desgraçado, e agora eu não podia mais esperar.O ar estava carregado de tensão quando entramos no carro. Matia e Pietro estavam ao meu lado, seus olhos refletindo a mesma raiva e urgência que eu sentia. Atrás de nós, nossos soldados estavam prontos, armas em punho, esperando apenas meu comando para fazer o inferno desabar sobre quem quer que tentasse nos impedir.— Já temos a localização exata? — perguntei, minha voz um tom abaixo de um rosnado.— Sim — respondeu Pietro. — Um armazém nos arredores da cidade. Segurança reforçada. Aslan estava esperando uma movimentação nossa.— E ele vai ter — murmurei, apertando o volante. — Mas não do jeito que ele imagina.Matia passou um maço de papéis para mim. Mapas do local, esquemas de vigilância, câmeras de segurança. Tudo detalhado.— Se entrarmos pel
O vento cortante da noite chicoteava meu rosto enquanto eu caminhava para o galpão abandonado. Meus passos ecoavam no chão de concreto, cada um me levando para mais perto do meu destino. Do lado de fora, os seguranças da Bratva me observavam, suas expressões impassíveis, mas eu sabia que estavam prontos para agir se eu tentasse fugir.Luca nunca me perdoaria por ter fugido, ouvido para onde eles iriam encontrar Aslan e tramado pelas suas costas. Mas não poderia suportar a ideia de que ele fosse morto diante dos meus olhos, por um pai que nunca conheci. Não conseguiria. Eu amo como nunca aprendi a amar, mas prefiro morrer a ter que viver sem ele. O coração pulsava violentamente no meu peito, mas eu mantinha a cabeça erguida. Eu me entreguei para protegá-los. Para evitar que Luca e os outros sacrificassem suas vidas por mim. Mas, ao cruzar as portas pesadas de metal e ver Aslan Petrov esperando, percebi que talvez tivesse cometido um erro.Ele estava sentado em uma cadeira de couro, ao
O ar em Marselha estava pesado, carregado com a umidade do mar e o cheiro distante de tabaco barato e gasolina. A cidade parecia outra à noite, sombras se estendendo pelas ruas estreitas, sussurros se perdendo entre os becos. Mas nada disso importava. Nada além do que nos trouxera até ali.Matia, Pietro e eu estávamos reunidos no galpão de um antigo porto abandonado, onde nossos aliados franceses montaram uma base temporária. Mesas cobertas de mapas, armas desmontadas e rádios chiando preenchiam o espaço. O som das ondas quebrando contra os pilares do píer era um lembrete constante do tempo que corria contra nós.— O complexo onde estão mantendo sua mãe fica a três quilômetros daqui — disse Henri, um de nossos contatos locais, arrastando o dedo sobre o mapa. — Um prédio de três andares, fortificado. Segurança pesada, mas já esperávamos isso.— Quantos homens? — perguntei, minha voz saindo mais fria do que eu pretendia.— Pelo menos vinte, talvez mais — respondeu Henri, trocando um olh
Último capítulo