Selena passou a vida fugindo de lendas e instintos — até que Darian surgiu com olhos de tempestade e a certeza de que ela era sua. Alfa da poderosa alcatéia Alvorúbia, ele não precisou gritar nem dominar com força. Bastou um olhar. Um toque. Um sussurro rouco ao pé do ouvido para incendiar algo que ela jurava não existir. Selena tenta resistir. Mas cada vez que ele se aproxima, o ar pesa, o corpo responde... e a vontade de fugir vira desejo de ficar. Ela odeia admitir, mas a ligação entre eles pulsa quente, selvagem, incontrolável. Enquanto lobos inimigos cercam seu mundo e segredos perigosos emergem, Selena será forçada a escolher entre a razão que grita "corra" e o instinto que geme "fica". Porque quando o Alfa a toca, o mundo silencia. E tudo o que resta é o som do próprio corpo implorando por mais.
Ler maisA fortaleza parecia mais silenciosa naquela noite. Silenciosa demais.Os corredores outrora cheios de servos e guardas estavam vazios, e o ar — denso, imóvel — carregava a mesma energia de antes da tempestade. Darian sentia. Aquilo não era calmaria. Era espera. Observação.Acima da torre leste, o vento soprava entre as pedras com um assovio irregular. O céu, encoberto por nuvens grossas, escondia a lua. E naquele breu, o Alfa observava.Braços cruzados, olhos atentos ao pátio interno, Darian sabia: o clã não estava em paz.A apresentação de Selena ao conselho havia sido necessária — exigida, na verdade. E mesmo que houvesse sido feita com todas as formalidades, ele conhecia bem aquele jogo. Os conselheiros não se curvavam com facilidade. Eles recuavam quando estrategicamente necessário. E voltavam a atacar pelas laterais.E Kael não escondia mais sua posição.Darian fechou os olhos por um instante, sentindo o ar frio cortando a pele. O lobo dentro dele rosnava em inquietação. O víncul
O salão de pedra ecoava com um silêncio denso. Darian entrou com os ombros retos, os passos firmes e a respiração controlada. Ao seu lado, Selena. Vestida com elegância, os cabelos soltos em ondas, o olhar azul carregando firmeza e alerta. Ela sabia. Aquela reunião não era apenas uma formalidade. Era o fim de um ciclo de espera — ou o início de um novo conflito. A mesa dos conselheiros já os aguardava. Sete figuras poderosas, cada uma guardiã de uma parte da história daquele clã. Mas naquele dia, havia algo diferente no ar. Não era apenas política. Era destino. Darian parou à cabeceira da mesa, o símbolo da alcatéia entalhado na pedra logo atrás dele. — Esta reunião foi convocada para apresentar o que todos vocês pediram. Exigiram. Esperaram — disse, sem erguer a voz, mas fazendo-a pesar em cada ouvido. — Minha companheira. Fez uma breve pausa. Seu olhar caiu sobre Selena. — A mulher pela qual o clã inteiro clamou. Aquela que a Lua me entregou antes que a maldição se cumpri
O primeiro raio de sol atravessou as janelas altas da fortaleza, tingindo de dourado o quarto silencioso. Selena despertou devagar, ainda envolta pelo perfume de lavanda e pelo calor que permanecia mesmo após o fogo ter se apagado na lareira. Não houve batida à porta. Apenas a presença firme de Eleonora, que entrou com passos suaves e postura implacável. — O Alfa a espera no salão principal. Para o café da manhã. Foi só isso. Nenhuma pergunta. Nenhum comentário sobre a noite anterior ou o ataque. Apenas a ordem velada que Selena entendeu sem precisar de tradução: ela agora fazia parte daquele mundo. Selena assentiu em silêncio. Não havia mais o que negar. Tomou um banho rápido, os pensamentos ainda bagunçados. Quando voltou ao quarto, encontrou sobre a cama uma roupa cuidadosamente escolhida: um vestido de tecido leve, mas elegante, vinho profundo, com mangas longas e justas. O corte marcava suas curvas com precisão, como se tivesse sido feito sob medida. Ela hesitou por um insta
A floresta parecia abrir caminho para eles. Selena caminhava atrás de Darian, os pés ainda trêmulos, os olhos atentos a tudo. O corpo doía. O coração, mais ainda. Mas, de algum modo, seguir aquele homem — ou fera, ou sei lá o quê ele era — parecia a única coisa certa. Não trocaram uma palavra durante o percurso. E quando ela achou que não aguentaria mais caminhar, viu. A fortaleza. Erguida no coração da mata, entre colinas rochosas e árvores centenárias, ela se erguia como uma lenda materializada. Alta, de pedra escura, com torres que tocavam o céu e muralhas que pareciam milenares. Guardas em roupas de couro e marcas tribais vigiavam a entrada com lanças e olhos atentos. Alguns, ela juraria, não eram completamente humanos. Selena parou. Engoliu seco. — Isso é… seu? Darian olhou por cima do ombro, apenas assentindo. — É onde você estará segura. Ao se aproximarem, os portões se abriram com um ranger pesado. E assim que entraram, tudo mudou. Lá dentro, o contraste era surpreend
A madrugada caiu pesada sobre a vila. Lá fora, o vento uivava como se algo vivesse dentro dele. A floresta, sempre viva, parecia agora inquieta. E dentro da velha cabana, Selena acordou com o coração batendo alto demais no peito. Sentou-se na cama, ofegante. O quarto estava escuro, exceto pela luz pálida da lua que entrava pelas frestas da janela. O som que a despertara era real — grave, ritmado, como passos na terra molhada. Ou seria seu próprio medo criando formas? Ela segurou a respiração. Ali estava de novo. Um estalo. Um farfalhar. Um rosnado? Levantou-se devagar, os pés descalços no assoalho frio. A madeira rangeu sob seu peso, e isso a fez estremecer. A floresta parecia próxima demais. De repente, um estrondo sacudiu a parede lateral da cabana. Selena recuou com um grito preso na garganta. — Anciã! — chamou, num sussurro tenso. A porta do outro quarto se abriu com força incomum para alguém tão velha. A Anciã surgiu envolta num xale escuro, os olhos acesos como tochas. N
Selena chegou à cabana com o coração disparado e os pensamentos em turbilhão. Os passos eram apressados, mas o chão parecia mais distante, como se a realidade tivesse descolado do corpo. Entrou sem bater. A porta rangeu como se percebesse o caos que ela carregava. A Anciã, sentada junto ao fogo, nem se virou. Mexia o caldeirão devagar, como quem sabia exatamente o que viria a seguir. — Então ele apareceu — murmurou. Selena parou. Os dedos tremiam. — Como sabe? — Você está com os olhos de quem foi vista por dentro. Selena sentou-se no banco de madeira, afundando os ombros como se algo invisível os pressionasse. — Ele me tocou. Disse que eu sou dele. A Anciã assentiu, sem espanto. — A alma reconhece antes da mente aceitar. Você sentiu também. — Eu… não sei o que senti. Meu corpo inteiro reagiu. Eu queria correr. Mas queria… ficar. A velha se aproximou com uma xícara de chá quente e pousou na frente dela. — O que desperta, menina, não dorme mais. O vínculo foi selado. Mesmo qu
Último capítulo