Selena passou a vida fugindo de lendas e instintos — até que Darian surgiu com olhos de tempestade e a certeza de que ela era sua. Alfa da poderosa alcatéia Alvorúbia, ele não precisou gritar nem dominar com força. Bastou um olhar. Um toque. Um sussurro rouco ao pé do ouvido para incendiar algo que ela jurava não existir. Selena tenta resistir. Mas cada vez que ele se aproxima, o ar pesa, o corpo responde... e a vontade de fugir vira desejo de ficar. Ela odeia admitir, mas a ligação entre eles pulsa quente, selvagem, incontrolável. Enquanto lobos inimigos cercam seu mundooo e segredos perigosos emergem, Selena será forçada a escolher entre a razão que grita "corra" e o instinto que geme "fica". Porque quando o Alfa a toca, o mundo silencia. E tudo o que resta é o som do próprio corpo implorando por mais.
Leer másA lua já surgia no céu, pairando acima das montanhas como um presságio.
Branca. Silenciosa. Impiedosa. Como o tempo que corria nas veias de Darian. No alto da fortaleza de pedra, o Alfa permanecia imóvel, de pé diante da janela, os olhos cinzentos fixos na floresta que se estendia até onde a vista alcançava. O vento soprava com força, uivando como fera ferida. Era como se a própria natureza soubesse: o prazo estava acabando. — A próxima lua cheia será sua última — dissera o mais velho dos conselheiros naquela manhã. — Se não encontrá-la… você cairá. A maldição era antiga. E cruel. Um Alfa sem sua verdadeira companheira não sobreviveria à própria força. A fera, antes contida, acabaria por consumi-lo de dentro para fora — e, quando isso acontecesse, não sobraria nada além de um monstro. Darian sentia. Sentia o lobo dentro dele arranhando suas entranhas, impaciente. A energia instável crescia como um trovão contido sob a pele. O que o segurava? Talvez… o instinto. Ou o resquício de honra herdado dos alfas anteriores. Ele fechou os olhos por um instante. Respirou fundo. E foi nesse instante que sentiu. Um aroma. Doce. Selvagem. Irresistível. Um cheiro que rasgou o ar como relâmpago, tão intenso que seus sentidos foram arrastados sem aviso. Era ela. A desconhecida que o destino devia. Aquela que, segundo os sussurros da Anciã, viria antes da queda. O lobo dentro dele urrou. Darian abriu os olhos, os punhos cerrados. A brisa trouxe de novo o aroma — e, junto, um calor estranho que se espalhou por seu peito. Pela primeira vez em meses, o caos interno silenciou por um segundo. Ela estava perto. Do outro lado da floresta, um carro velho estacionava ao fim da trilha de terra batida. O sol já baixava no horizonte, tingindo a copa das árvores com tons dourados e sombras compridas. A luz filtrada entre os galhos criava desenhos hipnóticos no chão. Selena desceu devagar, franzindo o cenho para a paisagem úmida e silenciosa. O céu acinzentado refletia bem o humor dela. O cheiro da floresta a atingiu como uma lembrança que não tinha nome. Era familiar. Demais. — Parabéns pra mim — murmurou. — Tô no meio do nada. De novo. Na mochila, a carta da avó repousava dobrada, manchada pelas dobras e pela raiva que sentiu ao relê-la pela quinta vez: "Volte por um tempo. Aqui você vai encontrar as respostas que nunca quis perguntar." Depois da demissão, da crise existencial e de um término que mais parecia piada de mau gosto, ela decidiu aceitar. Talvez um tempo longe de tudo — e com a única família que restava — fizesse sentido. Mas à medida que se aproximava da casa, o desconforto crescia. As árvores pareciam olhar. O vento tinha cheiro. E seu corpo, inexplicavelmente, tremia — como se lembrasse de algo que sua mente não acompanhava. A porta da frente se abriu com um rangido. A Anciã, mulher de cabelos longos e prateados, a encarava com olhos antigos. Ela não sorriu. — Bem-vinda de volta, menina-lua. Selena parou. Aquela alcunha a atingiu como uma pedra jogada em águas paradas. “Menina-lua”. Algo ecoou dentro dela, algo que vinha da infância — ou de antes. — Faz tanto tempo — disse, quase sem perceber que falava em voz alta. A Anciã se aproximou com passos lentos, os pés descalços tocando a terra como raízes. — Não para a terra. Ela nunca esquece os que nasceram sob seu manto. Tocou o colar que Selena usava — o presente que ela recebera ainda criança, e que nunca conseguiu jogar fora. — Você não lembra. Mas seus pés conhecem essa trilha. E seu sangue, mais ainda. Selena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Quis perguntar o que ela queria dizer com aquilo, mas algo dentro dela — talvez orgulho, talvez medo — a impediu. Ficou em silêncio. E, por algum motivo que não compreendia, aquele silêncio pareceu a resposta mais verdadeira que poderia dar. Na fortaleza, Darian vestiu o casaco de couro, o olhar fixo no sul. — Preparem os guardiões — ordenou, a voz firme. — A floresta acabou de me dar um sinal. O lobo finalmente cheirou o que esperava. E não haveria mais tempo a perder.O tempo passou, como sempre passa.Mas naquela terra onde antes houve guerra, agora nasciam colheitas.Onde houve dor, crianças brincavam sem medo.E onde houve silêncio… havia gargalhadas.O castelo, antes símbolo de poder e medo, tornara-se lar.Salas antes vazias agora abrigavam canções.Paredes frias, agora cobertas por desenhos de pequenas mãos e panos coloridos.Até as sombras pareciam ter encontrado descanso.O freixo, plantado com as últimas forças da esperança, agora se erguia alto, imponente, com folhas que pareciam sussurrar histórias antigas aos que passavam por ali.Ao redor dele, flores silvestres, bancos de pedra e caminhos de terra batida por pegadas leves.Ali, sob sua sombra, contadores de histórias se reuniam nas tardes douradas para relembrar o passado — e celebrar o presente.E foi numa dessas tardes que uma nova voz pediu a palavra.Um menino de olhos cinzentos, cabelos claros e sorriso travesso subiu no banco de pedra com as mãos pequenas segurando um livro.Tra
Os dias passaram com calma. Pela primeira vez em muito tempo, o tempo não corria — ele simplesmente acontecia. O vilarejo cresceu. As crianças já não falavam sobre medo, mas sobre correr mais rápido, sobre quem fazia o melhor pão ou sobre a aula da professora Selena. Sim, ela tinha feito. A escola. Uma casa simples de madeira, com janelas grandes e mesas redondas. Ali, a cada manhã, ela recebia pequenos olhos curiosos, mãos inquietas e vozes ansiosas por aprender — não apenas letras, mas histórias, sementes, cuidado e coragem. Darian observava tudo de longe, muitas vezes do alto da torre. O povo estava em paz. As muralhas já não eram fronteiras — eram abrigo. Ele também havia transformado o castelo. Deixou de lado os salões sombrios e abriu espaço para jardins internos, quartos novos, uma cozinha com cheiro de comida feita em casa… E no canto mais tranquilo, reformou uma ala esquecida, onde construiu o lar deles. Nada suntuoso. Mas com tudo que importava. Parede
O dia amanheceu leve, com o céu limpo e o vilarejo pulsando um novo ritmo.Não havia pressa. Nem medo. Só vozes, aromas, risos soltos no ar.Selena caminhava ao lado de Darian pelos corredores externos do castelo, de mãos dadas.O povo os cumprimentava com sorrisos sinceros, toques de cabeça e olhos brilhantes de gratidão.Não havia mais reverência exagerada.Ali, entre eles, Darian e Selena já não eram figuras distantes — eram os dois que ficaram. Os dois que lutaram. Os dois que renasceram junto com aquele lugar.— Parece outro mundo — murmurou ela, observando crianças correndo ao redor das fontes, guardiões ajudando a carregar cestas, e famílias sentadas em bancos, rindo como se sempre tivessem pertencido àquele tempo de paz.— E é — respondeu Darian. — A diferença é que agora ele também é nosso.Uma garotinha de tranças se aproximou, os pés descalços e um pedaço de pão na mão.Olhou para os dois com curiosidade genuína e perguntou:— Vocês são rei e rainha?Selena sorriu, agachand
A luz da manhã entrava pelas janelas com calma, tocando o quarto como se pedisse permissão.Darian estava desperto.Pela primeira vez em muito tempo, não havia dor sufocando seus sentidos. Não havia tensão no peito, nem pensamentos cortando sua mente.Havia paz. E o motivo dela estava ali — dormindo ao seu lado.Selena.Ela dormia profundamente, com os cabelos espalhados sobre o travesseiro e os lábios entreabertos.Darian a observava em silêncio, como quem ainda não sabia se merecia tanta beleza.Havia força nela, mesmo adormecida. E havia ternura — o tipo que não se ensina.Ele a amava mais do que poderia dizer. E agora, não havia mais tempo a perder.Selena despertou devagar, como quem sentia o olhar dele antes mesmo de abrir os olhos.— Você está me olhando de novo? — sussurrou, sorrindo de leve.— E pretendo fazer isso por muitos anos.Ela se virou até ficar de frente para ele. O toque das mãos foi automático.— Dormiu bem?— Dormi com você — respondeu ele. — Foi mais do que sufi
O dia nasceu devagar, como quem respeita a fragilidade de um novo começo.A luz se infiltrava pelas cortinas pesadas, tocando a pele de Darian como um sussurro — e, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu calor… e vida.Selena já estava acordada.Sentada ao lado da cama, com os cabelos presos de qualquer jeito e um manto sobre os ombros, ela observava cada movimento dele como quem cuida de algo precioso que quase perdeu.Darian piscou devagar. Os olhos estavam mais vivos. A respiração, mais firme.— Ainda é manhã? — ele murmurou, a voz rouca.— Bem cedo — respondeu ela, com um sorriso de canto. — Mas parece o dia mais claro do mundo.Ele fechou os olhos por um segundo e respirou fundo.— Você ainda tá aqui.— E onde mais eu estaria?Ela se inclinou e o ajudou a se sentar devagar. O corpo ainda doía, mas ele não reclamou. Estava ali. Estava vivo. Com ela.— Trouxe algo pra você comer. Pouco, mas é um começo — disse, entregando a tigela.— Se for você trazendo, tá ótimo.Ela riu.—
A noite se derramava pelas janelas, tingindo o céu com um azul profundo. Mas ali, dentro daquele quarto, havia outra luz — uma que nascia de olhos entreabertos e esperanças renascidas. Darian mantinha os olhos abertos há horas. Fraco. Quase imóvel. Mas presente. Selena não o deixara por um só instante. Desde o primeiro movimento dos cílios dele, desde o leve aperto em seus dedos, ela estava ali. Inteira. Inabalável. E cheia de tudo o que o mundo lá fora jamais compreenderia. Havia entre eles uma força que não vinha das palavras. Vinha do que sobrevive quando as palavras falham. Do amor que se recusa a morrer, mesmo quando tudo parece perdido. E então, enfim, sua voz cortou o ar — rouca, baixa, quase um sussurro vindo do fundo da alma. — ...Selena. O coração dela parou por um segundo. E depois disparou, como se quisesse correr até ele antes do corpo. Os olhos se encheram. Os lábios tremularam. Ela se virou com a respiração presa na garganta. — Eu tô aqui... — respondeu, engasgad
Último capítulo