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Capítulo 5 – O que desperta

Selena não dormiu.

Depois que voltou da floresta, o corpo até deitou — mas a mente continuava em pé, alerta, como se esperasse por algo que não vinha.

Ou por alguém.

Os olhos dele.

Era isso que mais a perturbava.

Não o que ele disse. Não o jeito que apareceu.

Mas o que carregava no olhar.

Dor. Desejo. Destino.

Levantou com o primeiro sinal da manhã, embora ainda parecesse madrugada.

O céu lá fora era um azul frio, quase branco, e a névoa cobria os campos como véu de noiva abandonado.

Na cozinha, a Anciã já estava acordada, como sempre.

Mexia algo em um bule de barro e recitava baixinho palavras que Selena não compreendia.

— Dormiu mal? — perguntou, sem tirar os olhos do fogo.

Selena se sentou à mesa, os dedos gelados ao redor da xícara.

— Não dormi.

— Ele apareceu, não foi?

Silêncio.

— Eu vi — admitiu, depois de um longo suspiro. — Ou melhor… ele apareceu. Mas o que eu senti… começou antes.

A Anciã virou-se com lentidão, os olhos marcados pela idade e por um saber que Selena ainda não compreendia.

— E o que você sentiu?

Selena hesitou.

As palavras pareciam grandes demais para caber na boca.

— Como se meu corpo já o conhecesse — murmurou. — Como se… eu estivesse esperando por ele e não soubesse.

— O instinto não erra, menina-lua. Às vezes, ele enxerga antes do coração.

Selena apertou os olhos, tentando conter o tremor nas mãos.

— Isso não faz sentido. Ele é um estranho. Eu nunca vi aquele homem na vida. E mesmo assim...

— Mesmo assim, você não consegue esquecê-lo.

Ela respirou fundo, a garganta apertada.

— Eu devia ter medo.

— E tem?

— Não.

Mas é como se estivesse à beira de algo que pode… me consumir.

A Anciã se aproximou e pousou a mão sobre seu ombro.

Leve, firme. Como uma raiz antiga.

— Cuidado com o que se desperta. Algumas verdades não têm volta.

— Você sabe quem ele é, não sabe?

— Sei o que ele é.

E sei o que você representa para ele.

— Representa?

— Sim.

— Me diga.

— Ainda não.

Você mal tocou na verdade.

E quando tocar... ela pode queimar.

Selena baixou os olhos, tomada por raiva, medo e uma vontade absurda de fugir.

— Eu não quero fazer parte de nada disso.

— O destino não pediu sua permissão.

Do outro lado da floresta, Darian andava de um lado para o outro na sala escura da fortaleza.

Não havia dormido.

O lobo dentro dele rugia desde o encontro.

Ela o viu. Ele a sentiu.

Agora… não havia mais escapatória.

Ele se apoiou contra a parede de pedra. O peito arfava. As veias nas mãos pulsavam como se a pele estivesse prestes a rasgar.

— Não agora — sussurrou para si mesmo.

Mas o lobo não ouvia mais.

— Você deveria descansar — disse Eleonora, surgindo da penumbra como sombra leal, os olhos claros fixos nele.

— Não posso — respondeu Darian. — O instinto está gritando.

— O que pretende fazer?

Ele desviou o olhar, a mandíbula tensa.

— Manter distância… já não consigo.

— Então vá até ela.

— E se eu for mais ameaça do que abrigo?

Eleonora deu um passo à frente, a expressão firme, mas cheia de compaixão.

— Ela a única capaz de te impedir de se perder?

Darian abaixou a cabeça, o maxilar tenso.

— Não sei se consigo me conter se ela se aproximar demais.

Eleonora assentiu, sem julgamento.

— Então ensine seu lobo a não destruir o que quer proteger.

Ele a encarou com olhos mais cinzentos do que nunca.

— Se ela descobrir tudo… talvez se afaste.

— Ou talvez… ela reconheça o que também está despertando dentro dela.

Selena caminhava pelo jardim da casa, os pés descalços afundando na grama úmida da manhã recém-nascida.

O sol tentava vencer a névoa, mas fracassava.

Como ela.

O rosto de Darian surgia como um feitiço sempre que ela piscava.

E não era paixão.

Nem atração.

Era algo mais profundo.

Primal.

Um chamado que não vinha da pele — vinha do osso.

Ela parou diante do poço antigo.

Olhou o reflexo turvo da água.

E ali estavam eles.

Os olhos dele.

— Isso está me enlouquecendo — sussurrou.

Mas, no fundo, uma parte dela sabia:

Era só o começo.

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