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Capítulo 8 – O Corpo que Grita

A dor começou na base da nuca.

Sutil, quase imperceptível, como uma fisgada leve. Mas foi se espalhando. Descendo pela espinha. Espalhando-se como fogo líquido sob a pele.

Selena acordou arfando, as mãos apertando os lençóis.

O quarto ainda estava escuro, mas o corpo já em alerta.

— De novo… — sussurrou, sentando-se com esforço.

Era a terceira madrugada seguida em que o corpo reagia sem explicação. O colar queimava, a pele formigava, os sentidos pareciam afiados demais.

Luz demais. Som demais. Presença demais.

Principalmente uma presença.

Darian.

Mesmo longe, ela sentia o nome dele dançando nas veias.

E isso estava começando a assustá-la mais do que tudo.

Levantou e caminhou até o espelho antigo no canto do quarto.

O reflexo não mostrava nada de anormal. Mas ela sabia.

O corpo estava mudando.

Na fortaleza, Darian estava de joelhos.

A respiração pesada. Os olhos apertados. O peito arfando como se estivesse preso entre a forma humana e algo além.

Eleonora o observava à distância, séria.

— Está acontecendo — disse ela, sem surpresa. — Você está se quebrando por dentro.

— Eu estou segurando.

Mas o lobo... não vai aguentar por muito tempo.

— Você está lutando contra o que foi feito pra acontecer.

— E se ela ainda não quiser?

— O vínculo não espera permissão.

Mas a aceitação… pode salvar vocês dois.

Ele se levantou com esforço, os músculos tensos como cordas prestes a arrebentar.

— Eu preciso vê-la.

Eleonora assentiu.

— Mas sem tocar.

Se tocar… você pode não conseguir parar.

No vilarejo, Selena saiu de casa cedo, os passos mais rápidos do que o normal.

A cabeça latejava.

As mãos suavam.

Cada ruído na floresta soava como um sussurro direcionado a ela.

Foi até a beira do bosque.

Parou.

Fechou os olhos.

O cheiro da terra subia pelas narinas. Mas misturado a ele… o perfume dele. Selvagem, quente, amadeirado. Real.

Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter as lágrimas.

— Eu estou enlouquecendo.

Mas uma parte dela já sabia: não era loucura. Era laço.

Enquanto isso, no coração da fortaleza, Theron se reunia com dois guardiões mais jovens.

— Ele está vulnerável — dizia ele, de forma calculada. — O vínculo o enfraquece.

E quando a fera quebra o homem… alguém precisa estar pronto pra tomar o lugar.

— Está dizendo que vai desafiar o Alfa?

— Estou dizendo que o clã precisa de estabilidade.

E um homem que perde o controle por causa de uma mulher... não é mais Alfa.

É ameaça.

Os olhos do mais novo guardião vacilaram.

Theron percebeu.

Sorriu, venenoso.

— Em breve, todos verão.

No cair da tarde, Selena voltou para casa cambaleando.

O colar estava quente demais, queimando contra a pele.

Entrou sem dizer nada. A Anciã a viu passar e apenas murmurou:

— Está começando a doer, não está?

Selena parou na escada.

— O que está acontecendo comigo?

A Anciã se levantou devagar, como quem carrega séculos nos ossos.

— Seu corpo está despertando para algo que a mente ainda tenta negar.

— Isso não é normal.

— Nem deveria ser.

Selena se virou, ofegante.

— Eu não quero isso.

— Mas já tem.

— Como eu me livro?

A Anciã se aproximou.

— Você não se livra de um chamado assim.

Você atravessa ele.

Ou ele atravessa você.

Selena se calou, engolindo o choro.

— E se for mentira?

Se ele estiver mentindo?

A Anciã olhou nos olhos dela, firme.

— O instinto não mente.

Mas os homens... às vezes, sim.

Naquela noite, Selena dormiu por poucos minutos.

E foi suficiente para o pesadelo vir.

Ela corria por uma floresta em chamas. Gritava, mas não ouvia a própria voz. Algo a puxava para dentro das sombras — algo com olhos cinzentos e uma respiração entrecortada.

Quando acordou, o corpo estava coberto de suor.

E o colar... partido em dois.

Ela gritou.

A Anciã veio correndo.

— Quebrou — sussurrou a mais velha, pegando os pedaços da pedra. — O elo está mais forte agora.

Não há mais contenção.

— O que isso significa?

A resposta foi curta.

— Que ele vai sentir.

E vai vir.

Do outro lado da floresta, Darian acordava com um rugido na garganta.

O peito ardendo. As mãos em chamas.

E o nome dela cortando o ar:

— Selena.

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