Selena não se aproximou mais.
Ficou ali, de pé, a poucos metros de Darian, como se uma linha invisível a impedisse de avançar — ou de recuar. A floresta os envolvia num silêncio quase reverente. A brisa movia as folhas com delicadeza, mas entre eles... o ar era denso, carregado, vivo. — Eu devia ter fugido — disse ela, enfim, com a voz baixa. — Mas não fugiu — respondeu Darian, a voz grave, controlada. — Porque alguma parte de mim queria entender o que está acontecendo. Mas outra parte… — ela fez uma pausa — quer fingir que nada disso é real. Darian a observava com atenção. A forma como ela se mantinha firme mesmo com os olhos confusos. A tensão no maxilar. Os punhos levemente cerrados ao lado do corpo. Ela resistia. Mas sentia. — Você não precisa entender agora — disse ele. — Só escutar. — Escutar o quê? Um estranho que apareceu do mato dizendo que eu sou o destino dele? Darian não reagiu à provocação. — Não a mim. Ao que está dentro de você. Selena apertou os braços ao redor do corpo, desconfortável com o modo como ele dizia “dentro”. Como se a conhecesse mais do que ela própria. — Isso não é normal. — Também não é passageiro. Eles se olharam por um longo tempo. Ela sentia o corpo em alerta — não por medo, mas por excesso. Como se cada célula reagisse à presença dele. — Você sente — disse Darian, sem arrogância, sem exigência. — Mesmo que negue, você sente. Ela respirou fundo. — E se eu quiser que pare? — Eu vou me afastar. Mas o que começou… vai continuar dentro de você. Selena sentiu o sangue ferver por dentro. Pela confusão. Pela atração. Pelo fato de que, mesmo querendo ir embora, não conseguia dar um passo. — Isso é errado. — Isso é natural. O errado foi nos fazer acreditar que devíamos temer o que somos. Ela cerrou os dentes. — Eu não sei quem eu sou. — Vai descobrir. Mas precisa estar viva pra isso. O aviso estava ali, escondido nas palavras dele. Alguém a queria morta. Ela não perguntou. Ainda não. — Por que eu? Darian demorou um segundo antes de responder. — Porque entre todas as vozes, foi a sua que calou o caos. Selena sentiu um tremor subir pelas pernas. Mas ainda assim, não cedeu. — Eu não sou sua. Ele não discutiu. — Eu vou esperar você decidir. De volta à casa da Anciã, os passos de Selena foram lentos. O colar parecia pesar mais. O peito doía — não fisicamente, mas como se algo antigo estivesse tentando despertar. A Anciã a esperava sentada na varanda, um cobertor sobre os ombros e os olhos no céu nublado. — Você resistiu — disse, sem virar o rosto. — Como sabe? — Porque está em pedaços por dentro. E só quem sente algo real fica assim. Selena se sentou no chão, cansada. — Eu odeio que ele tenha esse efeito sobre mim. — Não é sobre ele, menina-lua. É sobre você. — Isso não responde nada. — Mas mostra tudo. Na fortaleza, Darian andava em círculos no salão de pedra. Eleonora o observava em silêncio, sentada no braço da cadeira principal. — Você não a tocou — constatou ela. — Não. — Porque sabe que se tocar… — Não vou conseguir parar. Ele se apoiou na parede, as mãos tremendo. — O vínculo está se formando mesmo com ela resistindo. Isso não é normal. — Porque o que existe entre vocês também não é. É antigo. É instintivo. É forte demais para seguir as regras que os outros impuseram. Darian fechou os olhos. — O lobo está ficando mais forte. E se ela não aceitar... — Vai aceitar. Mas vai precisar de espaço. E de verdade. Darian a olhou, grato. — Obrigado, Eleonora. Ela apenas assentiu. — Só não espere que o resto do clã aceite com a mesma facilidade. Nas montanhas, Theron observava o céu sobre o território. — Ele está distraído — disse, para ninguém. A brisa bateu contra seu rosto como se a noite prestasse atenção. Ele tocou o símbolo marcado em seu braço. — Está na hora de plantar dúvida. E a melhor forma de quebrar um Alfa… é fazê-lo duvidar da própria escolha. O sorriso dele foi curto. Gelado. — Ou melhor… da escolha dela.