A lua cheia pairava sobre o céu como uma sentença.
Fria. Imponente. Implacável.
Darian ajoelhava-se no centro do Círculo de Pedra, no coração da floresta ancestral. A névoa que serpenteava entre as árvores parecia conter a respiração, como se a própria natureza aguardasse em silêncio. Ao redor dele, os líderes do clã De’Roux observavam, seus rostos ocultos por capuzes cerimoniais. Não era reverência o que vestiam — era medo.
O fogo sagrado ardia com chamas azuladas, dançando ao ritmo de sussurros ancestrais. Um sinal claro: os espíritos estavam presentes.
— A linhagem dos De’Roux está prestes a ruir — declarou o ancião do centro, com uma voz grave como trovão abafado. — Se não encontrares tua companheira até a próxima lua, serás consumido pela força que herdaste.
A maldição dos Primeiros Alfas.
O legado dos escolhidos.
A mesma dádiva que coroou líderes imortais… e destruiu os que falharam.
Darian não respondeu. Sentia o gosto metálico do medo na boca. Os olhos de seus antepassados — vivos e mortos — pareciam pesar sobre ele, como se todos estivessem à espera de sua queda.
— E se ele não a encontrar? — murmurou um jovem guerreiro ao fundo.
O silêncio caiu como lâmina.
— Ele se tornará fera para sempre — respondeu o ancião, firme. — Perderá o controle. Perderá o nome. Perderá a alma.
O Alfa se tornará maldição.
Horas depois, o interior da fortaleza permanecia mergulhado na penumbra.
Darian socou a laje da lareira com a palma aberta. Uma rachadura se formou na pedra, mas não trouxe alívio. As chamas vacilantes lançavam sombras nas paredes de pedra, como se zombassem de sua impotência.
"Eu sou o último dos De’Roux."
Essa verdade roía seus ossos como ferrugem.
Desde menino, ouvira as lendas.
Seu bisavô havia liderado as cinco alcatéias do norte, selando alianças com um rugido e um olhar. Seu pai… tentou resistir à maldição. Mas ela o destruiu. Primeiro veio o isolamento. Depois, a raiva incontrolável. E então… o vazio. Darian viu o homem definhar. Perder-se.
Agora, era sua vez.
— Nenhum nome. Nenhum sinal. Só um prazo — murmurou, encostando a testa à pedra fria. — E a maldita sensação de que estou ficando louco.
A marca em seu ombro queimava. O desenho da meia-lua entalhado em carne viva pulsava com uma energia própria. O chamado havia sido disparado.
Ela existia.
Em algum lugar, a companheira destinada respirava sob o mesmo céu. E ele a sentiria quando estivesse perto. O lobo dentro dele saberia. Mas o tempo corria como sangue entre os dedos.
A cada noite, a fera ganhava força.
A cada lua, o controle diminuía.
Ele já acordava com os olhos cinza tomados por um brilho feroz. Já sentia a pele vibrar. Os músculos estremecerem. Era como se uma presença interior — antiga, selvagem — estivesse rasgando as fronteiras do que ainda restava de homem em si.
Darian era forte. O mais forte do clã em séculos. Mas nem força podia impedir o que se aproximava.
Se a encontrasse e ela o rejeitasse… a maldição o tomaria do mesmo jeito. O vínculo precisava ser aceito. Sentido dos dois lados.
E ela… nem sabia que ele existia.
— Eu não vou ceder — rosnou para si mesmo. — Nem morto. Eu vou encontrá-la.
Mas, no fundo, ele sabia: não era uma escolha.
A Lua havia chamado.
O prazo estava contado.
E o Alfa, por mais poderoso que fosse… também sangrava.