Capítulo 3 — Ecos

Darian retornou à fortaleza antes do nascer do sol.

O corpo ainda vibrava com a presença dela. Mesmo à distância, mesmo sem toque, o lobo havia reconhecido. E agora… não havia mais silêncio dentro dele.

Rosnava.

Exigia.

Reclamava o que acreditava ser seu por direito.

O cheiro dela ainda grudava em sua pele como se tivesse atravessado os poros. Doce e selvagem. Como um feitiço que não podia mais ser desfeito.

Ao atravessar os corredores de pedra, os guardiões se entreolharam. Todos haviam sentido. Não o aroma — esse pertencia apenas ao Alfa. Mas o desequilíbrio. O eco que se espalhara pela floresta e que agora reverberava entre as paredes do castelo.

No salão principal, a lareira ainda queimava. Eleonora, a mais leal entre os antigos conselheiros, permanecia de pé, os olhos fixos no mapa do território pendurado na parede de pedra.

— Encontrou? — perguntou, sem se virar.

— Sim — respondeu Darian, seco.

— Está certa?

— O lobo não erra.

Eleonora se virou lentamente. Seu rosto, marcado pelos anos e pelos invernos, não expressava surpresa. Apenas preocupação.

— E o que fará agora?

Darian tirou o casaco e jogou sobre a cadeira ao lado.

— Esperar.

— Esperar? — A voz dela soou como uma lâmina afiada. — O tempo não está do seu lado, Darian. A próxima lua será a última.

— Ela não está pronta. Nem eu. Forçar o vínculo agora seria arriscado demais.

Eleonora estreitou os olhos.

— E o clã?

— Vai obedecer. Como sempre fez.

— Nem todos. Há quem diga que sua hesitação prova fraqueza. Que a maldição já começou a corroê-lo.

O lobo, dentro de Darian, rosnou.

— Que venham testar minha força — disse, com a calma perigosa de quem não precisa levantar a voz para ser temido.

Do outro lado da floresta, Selena permanecia no jardim. O sol subia devagar, filtrando-se entre as árvores, mas o calor não alcançava sua pele.

Estava inquieta.

Desde que acordara, tudo nela parecia fora do lugar. Como se seu corpo soubesse de algo que sua mente ainda negava.

Não comentou nada com a Anciã naquela manhã. Mas agora, com a pedra do colar ainda morna sobre o peito, o silêncio entre elas parecia mais barulhento do que qualquer pergunta.

A Anciã aproximou-se sem fazer som, como se brotasse da terra.

— A vibração da pedra mudou — disse ela, observando o colar entre os dedos de Selena. — Você também mudou.

Selena não respondeu. Estava cansada de enigmas e meias respostas.

— Por que isso está acontecendo comigo? — perguntou, enfim.

A Anciã a encarou com suavidade.

— Porque chegou a hora.

— Hora do quê? De eu enlouquecer?

— Hora de se lembrar.

Selena balançou a cabeça, frustrada. Olhou para a floresta, como se esperasse que ela explicasse tudo.

— Não lembro de nada. Nem quero lembrar. Só quero viver minha vida. Em paz.

— Mas a paz não é para quem carrega sangue antigo.

Aquela frase ficou pairando entre elas como névoa.

Selena cruzou os braços, buscando alguma firmeza em si mesma.

— Então fala logo: o que eu sou?

A Anciã sorriu de leve, mas não foi um sorriso de escárnio. Foi o tipo de sorriso que dói em quem vê.

— Você é a peça que estava faltando.

Na fortaleza, Darian passava os dedos sobre o punho da espada encostada na parede. O lobo ainda não havia se acalmado. E o clima dentro do castelo começava a mudar.

Ele sentia.

O cheiro da desconfiança.

Do sangue que circulava rápido demais nos corredores.

Theron.

O nome surgiu como um espinho.

Antigo amigo. Guerreiro leal. Mas... ambicioso.

Desde que a profecia fora anunciada, o olhar de Theron havia mudado. Menos reverência. Mais cálculo. Ele conhecia as leis do clã. Sabia que, sem companheira, Darian não poderia continuar liderando por muito tempo.

E agora que a escolhida havia surgido... seria só uma questão de tempo até alguém tentar impedi-lo de reivindicá-la.

Ou... tomá-la.

— Alguém se move contra você — disse Eleonora, voltando ao salão. — Ainda não sei quem, mas já vejo os sinais.

Darian não se virou.

— Fique de olho em Theron.

— Já estou.

O Alfa ergueu os olhos para o vitral no alto da torre. A luz da manhã já se espalhava pelas pedras.

— Reúna dois guardiões de confiança. Iremos até o limite da floresta esta noite.

— Vai se encontrar com ela?

— Não. Ainda não. Mas quero garantir que ninguém mais a encontre primeiro.

Porque se ela fosse tocada por outro...

O lobo não perdoaria.

E o caos deixaria de ser só uma ameaça.

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