Emmy Zack nasceu e foi criada na Divisa Guardiã, um bastião sagrado onde mulheres são treinadas para proteger o mundo das criaturas sobrenaturais. Filha de Denise Zack, uma das líderes mais respeitadas da ordem, Emmy sempre esteve destinada a seguir um caminho dentro da Divisa. Mas enquanto suas irmãs já escolheram seus futuros, Emmy sente que seu destino a chama para longe dali — para a Torre de Malac’h, lar das sacerdotisas do Deus dos transmorfos e da Lua. Porém, quando visitantes inesperados chegam à torre, trazendo consigo segredos antigos e uma conexão que Emmy não consegue compreender, seu mundo vira de cabeça para baixo. Cinco lobos da nobre linhagem do Norte, descendentes diretos de Malac’h, parecem conhecer Emmy de um jeito que nem ela mesma entende. E quando seus olhares se cruzam, algo desperta dentro dela — uma força que ela nunca sentiu antes. Mas por que eles estão ali? O que querem com Emmy? E o mais importante… por que ela sente que já os conhece? Enquanto tenta resistir ao chamado de sua magia e às verdades proibidas que começam a emergir, Emmy se vê dividida entre o dever de uma guardiã e um destino que pode mudar tudo o que ela acreditava ser real. Entre segredos, juramentos e olhares que queimam, Emmy terá que decidir: sua lealdade pertence à torre… ou ao Deus da Lua?
Leer másEmmy Zack
Acordei com um solavanco, caindo da cama com um estrondo surdo contra o chão frio de mármore. Meu coração disparava dentro do peito, e o suor frio escorria pela nuca. Outro pesadelo. Mais um.
Madison apareceu no meu campo de visão antes que eu pudesse me recuperar. Seus cabelos dourados estavam soltos, caindo sobre os ombros como uma cortina cintilante sob a luz bruxuleante do abajur. Ela estendeu a mão, a expressão meio divertida, meio exasperada.
— Você bebeu chá de hortelã antes de dormir de novo, não foi?
Soltou um suspiro enquanto me puxava de volta para cima. Sua força me desequilibrou por um segundo, e eu quase tropecei.
— Você sabe o que as guardiãs dizem sobre isso, Emmy.
Antes que eu pudesse responder, Sol entrou no quarto, equilibrando um monte de toalhas dobradas no braço. Seu olhar deslizou rapidamente para mim, e ela franziu o cenho.
— Pelos deuses menores e maiores, você precisa parar de desobedecer as guardiãs.
Ela fechou a porta atrás de si com o quadril e jogou as toalhas sobre a cômoda compartilhada, ajeitando a postura. Diferente de Madison, que sempre parecia despreocupada, Sol tinha um jeito rígido, atento, como se estivesse sempre pronta para receber uma ordem.
Suspirei e me sentei na beirada da cama, olhando para o enorme desenho no chão de mármore: o sol e a lua entrelaçados, esculpidos no branco puro da pedra. O símbolo das guardiãs. O símbolo de tudo o que nos definia.
Madison bufou, cruzando os braços.
— Se a mamãe te pegar bebendo chás proibidos antes de dormir, ela vai te deixar de castigo na Sala da Lua.
Revirei os olhos.
— Céus… quantas regras.
Ajeitei os lençóis enquanto deixava o olhar correr pelo dormitório. O espaço era modesto, mas carregava a marca do tempo. As três camas de madeira antiga, pintadas com verniz escuro, tinham cabeceiras trabalhadas à mão, com espaços para nossos abajures e pilhas de livros. A cômoda era dividida entre nós três, assim como o guarda-roupa, os cantos de estudo e, de certa forma, até mesmo nossa vida. Compartilhávamos tudo: mãe, professores, guardiãs.
Nascemos dentro da Divisa Guardiã, a fortaleza que existia para proteger o mundo do que é sobrenatural. Desde crianças, fomos ensinadas sobre as três grandes vocações: as assassinas, que caçam criaturas que ameaçam o equilíbrio; as bruxas, que dominam a magia e os encantamentos antigos; e as estudiosas, responsáveis por preservar e transmitir conhecimento.
Nossa mãe, Denise Zack, é uma das guardiãs-chefes da Divisa. Crescemos sob sua vigilância rigorosa, treinadas para um futuro que, desde o nascimento, nunca nos pertenceu de verdade.
Sol com seus dezoito anos já decidiu seu destino. Ela quer entrar para a Divisa Escarlate, o grupo das assassinas. Elas são implacáveis, imbuídas de uma missão sanguinária: exterminar todas as criaturas que representam perigo, até mesmo aquelas que não têm consciência de sua própria ameaça.
Madison, aos dezenove, deseja o caminho do conhecimento. Ela quer se tornar uma anciã, uma estudiosa que se dedica a ensinar as próximas gerações e a preservar os escritos sagrados.
E eu… aos vinte e um.
Bom, eu não tenho tanta certeza.
Existem outras torres, outras divisões além da nossa. Algumas são dedicadas a guardiãs, outras a sacerdotisas que seguem deuses específicos. Desde pequena, senti uma atração inexplicável por uma dessas torres: a Torre de Malac’h.
Malac’h. O Deus de todos os transmorfos. O Senhor da Noite.
Ele também é um deus lunar, ligado à cura, à caridade, à entrega absoluta. As sacerdotisas de Malac’h não são apenas devotas — elas deixam de pertencer ao mundo. Ao entrarem na torre, elas abandonam suas famílias, seus nomes e suas histórias. Nunca serão mães. Nunca mais serão filhas. Elas passam a ser filhas de Malac’h.
Minha mãe já me proibiu de tentar esse caminho. Duas, talvez três vezes.
Mas isso não mudou o que eu sinto.
Ainda é o que eu quero.
E então, dois sinos tocaram.
O primeiro sino tocou, uma vibração metálica cortando o ar e explodindo dentro do meu crânio como uma maldição. amaldiçoei mentalmente, cobrindo os ouvidos.
Então, antes que o eco do primeiro pudesse morrer, um segundo sino soou, sobrepondo-se ao anterior.
— Temos visitantes da Divisa. — A voz de Sol veio seca, carregada de tédio. Ela cruzou os braços, revirando os olhos.
Madison e eu nos entreolhamos.
— De novo? — Um grupo de vampiros nos visitou há uma semana, outro evento raro.
Sem mais protestos, nos levantamos, realizando nossa higiene às pressas. A rotina já era automática: banhar-se, trançar os cabelos, vestir-se conforme a maldita etiqueta da Divisa.
Todas as meninas não iniciadas usavam o mesmo vestido verde, um tom profundo de floresta. O modelo podia ser ajustado ao gosto de cada uma, mas a cor era inalterável — e eu a odiava. Sentia que aquela tonalidade apagava algo dentro de mim, como se me enterrasse em um papel que não era meu.
— Madison, vamos! — Sol chamou com impaciência.
Saí antes, esfregando os braços para que o hidratante fosse absorvido mais rápido pela pele.
— Eu vou na frente, distraindo nossa mãe — avisei.
Andei pelo corredor, misturando-me a outros grupos de aprendizes que deixavam seus quartos. O ar carregava o cheiro das velas de ervas que queimavam em pontos estratégicos, uma mistura de alfazema e sálvia para purificar a Torre.
— Ei, Zack!
O chamado veio antes de sentir algo atingir minhas costas. Uma maçã rolou pelo chão de mármore.
Risadas seguiram-se.
Jennie White. Claro que era ela. Estava acompanhada de Cheryl Bosckow e Nina Schelling, suas fiéis sombras.
Observei as três. Jennie, de pele dourada pelo sol, seus cachos volumosos brilhando sob a luz matinal. Nina, com o cabelo preso em duas Marias-chiquinhas perfeitamente simétricas. Cheryl, ruiva e sardenta, mordendo uma maçã com ar de desinteresse, os cabelos desgrenhados pela brisa fria que entrava pelas janelas abertas.
— Sua mãe já decidiu quantos dias vai te trancar na Sala Lunar dessa vez? — Jennie zombou, cruzando os braços.
Sol chegou rindo atrás de mim.
— Não sei… — respondi, sorrindo de canto. — Mas quando vai avisar a piranha da sua amiga que esse cabelo dela é ridículo?
A risada de Sol se intensificou, e Madison chegou cobrindo a boca para conter a própria risada.
Antes que Jennie pudesse retrucar, senti uma presença se aproximando.
O silêncio caiu como uma onda.
Minha mãe.
Zayn Fields Zayn Despertava todos os dias com um peso esmagador no peito — uma dor muda e constante, que parecia ter cravado raízes profundas desde o instante em que vi aquela Deusa. Não era o único. Meus irmãos também carregavam o mesmo fardo em silêncio, como se estivéssemos todos condenados a reviver aquele momento eternamente.Todos, exceto Eric.Ele parecia imune. Talvez fosse orgulho, talvez obsessão, ou talvez uma loucura que só ele achava justificável. Naquela manhã, decidiu marchar novamente para Ry’shara, sua mente tomada por planos e ambições. Queria algo dela, de Daha, algo mais do que um simples confronto.Desde a última tentativa, as divindades haviam recuado, evitando o embate direto. Preferiam o silêncio à submissão diante dos lobos. Mesmo assim, Eric insistia.Cavalgava sob um céu de chumbo, nuvens escuras pareciam nos escoltar, como presságios silenciosos. As árvores da trilha que conduzia à montanha de Ry’shara pareciam mais densas, mais negras do que de cos
Emmy ZackDaha'ch O salão principal do templo de Ry’shara pulsava com vozes trêmulas e olhares desconfiados. As colunas douradas, entalhadas com histórias antigas de luz e equilíbrio, pareciam impotentes diante da avalanche de medo que tomava conta do lugar.As mulheres se reuniam em pequenos grupos — sacerdotisas, curandeiras, iniciadas — e suas bocas sussurravam boatos como veneno escorrendo por entre as pedras do templo.Diziam que as Deusas solares seriam entregues como oferendas. Que a união entre celestiais e bestas seria inevitável.Que, uma a uma, aquelas que carregavam a centelha da luz seriam colocadas nas mãos dos filhos de Malac’h.O terror nos olhos delas cortava fundo, mas o que me rasgava por dentro era a dúvida.Me incomodava como menosprezavam os lobos?De certa forma... sim.Elas os viam como animais. Criaturas selvagens, desprovidas de honra.Mas eu os conhecia por dentro — conhecia o fogo que os movia, e o vazio que também os consumia.Conhecia Alec.Ainda assim, c
Alec FieldsA última coisa de que me lembrava era de estar ao lado de Emmy. Seu perfume ainda pairava em mim — uma mistura de medo contido e força indomável. A sala, antes cheia de ecos, parecia ter encolhido ao meu redor, sufocando o ar dos meus pulmões.Então, tudo se dissolveu.Os sons se distorceram até se transformarem em uivos — altos, como se chamassem por algo enterrado dentro de mim. Me vi na floresta. Denso, escuro, cruelmente fria. A mata cerrada cortava minha pele com galhos pontiagudos enquanto corria em minha forma de lobo, e cada passo sobre a terra gelada fazia meus ossos tremerem de dor.Aquilo não era só uma lembrança.Era um castigo.Talvez os próprios Deuses me tivessem lançado ali, no abismo do tempo e da memória, onde não se morre, apenas se revive.Então, eu a vi.Um clarão dourado no meio do caos. A luz se espalhava ao redor dela como o nascer de um novo sol. Seus cabelos flutuavam como fios de fogo pálido, e sua presença… era divina demais para ser sonhada.
Emmy ZackDaha'chA fronteira entre Ry'shara e o restante do continente não era apenas uma divisão geográfica. Era um lembrete de que a paz era sustentada por antigos pactos, moldados não por homens, mas por deuses. Um anel montanhoso cercava o território das deusas solares — florestas impenetráveis, envoltas por névoas ancestrais e silêncios tão antigos quanto o tempo. Nenhum humano ousava atravessar. Nenhum lobo ousaria se não por provocação. Porque atravessar... era declarar guerra.Entre as tribos de raposas e lobos, o acordo era claro como o brilho de uma aurora divina: Ry’shara pertencia às filhas da luz. Nenhum mortal, nenhum servo de outro deus, poderia tomar uma deusa para si — e fazê-lo seria cuspir nas Leis Divinas, iniciando uma guerra que poderia engolir todo o continente em chamas.Mas os humanos haviam se curvado ao Deus Malac'h — Agora o transmorfo, o caçador das sombras, o senhor das mutações. Preferiam os lobos, pois com eles sentiam-se mais próximos daquilo que nã
Emmy ZackDaha'chOs dias arrastavam-se como sombras esticadas na ausência dele, lentos, quase cruéis em sua lentidão. Mas naquele dia em especial, o mundo parecia ruir em prenúncio. Rajadas violentas de vento açoitaram o campo sagrado, sacudindo as flores roxas e douradas de Ry’shara como se a própria terra despertasse de um sono milenar. As árvores se curvavam em reverência ou medo — não saberíamos dizer. Pássaros, em alvoroço, alçaram voo desordenadamente, e o céu se tingiu de negro sob um eclipse súbito, antinatural, como se uma divindade maior cobrisse o sol com sua própria mão.Ao meu lado, a silhueta de Triodh’ch se materializou entre a bruma que dançava sobre o campo. Sua presença era serena, mas os olhos âmbar aquecido pelo fogo — fitavam o céu com uma inquietude contida.— Você tem vindo a este campo com frequência, irmã… — sua voz chegou como um sussurro que se dissolvia no vento — Ele é como você esperava?A pergunta me atingiu como uma lâmina fria. Suspirei, sentindo o pe
Emmy Zack Daha’chO mundo mudou.Não era mais aquela criação amorosa e harmônica de eras passadas. Havia se tornado algo feroz, moldado por vontades divididas, por linhas tênues entre o sagrado e o ambicioso.Em quinhentos anos, Malac’h havia gerado filhos e filhas. Mas seu sangue era imperfeito — fraco, disseram alguns. Nenhum de seus primeiros descendentes igualava-se ao deus que desafiara as irmãs celestes.Foi apenas com a bênção de Iazi’ch, agora uma grandiosa Deusa Lunar que habitava um templo entre as colinas — onde as fronteiras entre Ry’shara e a Torre de Malac’h se tornaram lendas — que nasceram os primeiros descendentes verdadeiramente divinos.Dois pares de gêmeos.Sangue forte. Vontade afiada. Natureza instável.E então, vieram Alec e Isaac.Diziam que um dos gêmeos era o mais fraco. O de olhos acinzentados. O que herdara o nome do pai.E ainda assim, o mundo tremeria ao pronunciar seus nomes.Eu os observava de longe — uma distância segura e confortável. Não por medo,
Último capítulo