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Capítulo 2 — Cheiro de Tempestade

Selena desceu do ônibus com a alma em frangalhos e a mala quase explodindo.

A cidade ficou para trás como uma lembrança que ela preferia esquecer. A vila parecia saída de um sonho antigo — ou de um pesadelo bem conservado. Ruas de terra, cercas de madeira torta e uma névoa persistente que fazia tudo parecer mais silencioso do que deveria.

— Se isso aqui tiver Wi-Fi, é um milagre — murmurou, ajeitando a mochila nos ombros.

Na estação improvisada, ninguém a esperava. A Anciã — como a avó era chamada por todos — havia mandado uma carta. Sim, uma carta. Em pleno século vinte e sempre.

"Venha antes da próxima lua cheia. Precisamos conversar. É urgente."

Selena nunca acreditou em histórias sobre lobos, maldições ou lendas da floresta. Mas também nunca questionou a avó. Desde criança, sabia que havia algo nela que ultrapassava o senso comum. Uma presença, uma firmeza no olhar… como se ela soubesse o que o tempo ainda não revelou.

A estrada que levava até a cabana era estreita e irregular, mas Selena conhecia o caminho. Cresceu correndo por ali nas férias, fugindo de pesadelos e da realidade em igual medida.

Dessa vez, porém, o ar parecia diferente. Mais denso.

Mais… vivo.

Enquanto caminhava, o vento mudou. Um arrepio percorreu sua espinha, como se alguém tivesse sussurrado seu nome no escuro.

Ela parou.

O coração acelerou sem motivo aparente. Seus olhos varreram a floresta à margem do caminho, mas não havia nada ali. Nada que os olhos comuns pudessem ver.

— Não começa, Selena. Você tá cansada. Só isso.

Mas o cheiro…

Era como chuva prestes a cair. Terra molhada, madeira úmida e algo mais — algo quente, metálico, quase familiar.

Ela sacudiu a cabeça, tentando afastar a sensação. Prosseguiu com passos rápidos até a cabana, que apareceu entre as árvores como uma memória sólida.

Ao norte da vila, na torre mais alta da fortaleza, Darian parou de andar.

Os olhos cinzentos observavam o horizonte com tédio e desconfiança. A floresta abaixo dormia sob a névoa, mas algo… algo mudou.

Ele sentiu primeiro no ar.

Um aroma cortou o vento como lâmina.

Doce, fresco, humano… mas diferente de todos os que ele já havia sentido. Uma corrente elétrica percorreu sua pele. O lobo, adormecido dentro de si, ergueu-se com violência.

Ali estava.

A origem da marca que queimava seu ombro há dias.

A presença que assombrava seus sonhos e aguçava seus sentidos.

Ela chegou.

Darian fechou os olhos, controlando o impulso de saltar pelas paredes de pedra. O chamado era real. Não era imaginação, não era delírio da maldição. Ela estava aqui. Em seu território.

— Finalmente... — murmurou com a voz rouca, quase reverente.

A porta se abriu antes que Selena pudesse bater.

— Você chegou. Eu sabia.

A voz da Anciã era baixa, firme, envolta por séculos não vividos. Estava igual. Ou talvez mais forte. Os cabelos prateados caíam soltos pelas costas, e seus olhos… Ah, aqueles olhos sabiam. Tudo.

— Tá parecendo que esperava um fantasma — brincou Selena, tentando soar leve.

— Talvez seja isso mesmo que você se tornou. Um eco do que foi. Um presságio do que virá.

— Ainda fala por enigmas, né, vó?

— Sempre falei a língua da verdade, minha menina. Só que você é que nunca quis ouvir.

Selena entrou. O cheiro de ervas, incensos antigos e madeira queimada preencheu o peito dela como um abraço do passado. Sentou-se à mesa sem ser convidada, como sempre fez.

— Me conta então… qual é a urgência?

A Anciã serviu um chá escuro, amargo como promessas quebradas.

— O Alfa está acordando. A floresta está se movendo. E você… está no centro disso tudo.

Selena arqueou uma sobrancelha, segurando o riso.

— Alfa? Tipo, o macho-lobo supremo da vila encantada?

— Zombe, se quiser. Mas o destino não precisa da sua crença para acontecer.

Selena tomou um gole do chá. O gosto era horrível, mas algo dentro dela parecia… aceitar. Como se o corpo soubesse antes da mente.

— Isso tem a ver com meu pai? Com minha mãe? Com por que vocês nunca me contaram por que eu realmente fui embora daqui?

A Anciã olhou para o fogo. Seu silêncio dizia mais do que mil histórias mal contadas.

— Tudo vai se revelar com a próxima lua. Até lá, fique atenta. O vento trará respostas… e perigos.

Lá fora, o vento mudou novamente.

E no alto da fortaleza, Darian se afastou da janela com os olhos em chamas.

A companheira havia pisado em seu território.

Agora... nada mais seria o mesmo.

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