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Capítulo 2 – O Chamado da Terra

A porta se fechou atrás da Anciã com um rangido suave. Selena ficou sozinha no quarto, observando os detalhes daquele espaço que cheirava a poeira antiga, ervas secas e algo mais… familiar.

Soltou o ar devagar, como se tentasse convencer o próprio corpo de que estava tudo bem.

Mas não estava.

A sensação que a acompanhava desde que pisara naquela floresta não tinha passado. Ao contrário. Crescia. Como um tambor batendo fundo dentro do peito. Como se algo — ou alguém — estivesse prestes a atravessar os limites do que ela conhecia como realidade.

Tirou os tênis, largou a mochila no canto e sentou-se na cama, que rangeu levemente sob seu peso. A colcha bordada lembrava as de sua infância. Era como estar num lugar que pertencia ao passado, mesmo sem se lembrar de ter vivido ali.

Ela olhou o colar no próprio pescoço. A pedra pendurada nele parecia mais quente que o normal.

Aproximou-o do rosto.

— Você também está estranho, né?

Falou baixinho, como se a pedra fosse capaz de responder. E talvez, naquele lugar, fosse.

Deitou-se, mas o corpo não relaxava. O cansaço era real, mas o sono… não vinha. Seus músculos estavam em alerta, como se antecipassem algo que ela ainda não conseguia ver. Os olhos pesavam, mas sua mente parecia girar num ciclo de lembranças soltas e intuições inexplicáveis.

“Menina-lua.”

Aquela voz, aquela alcunha, martelava sua memória.

Ela se levantou de novo.

Caminhou até a janela. A noite já dominava o céu. A lua cheia surgia redonda entre as copas das árvores, iluminando a floresta com uma luz pálida e sobrenatural. Era bela. E ameaçadora.

Lá fora, as sombras pareciam mais densas. As árvores... mais vivas.

Foi quando sentiu.

Um arrepio.

Forte. Preciso. Quente.

O mesmo que a atingira quando se aproximou da trilha. Um calor que não vinha do corpo, mas do ar. Como se estivesse sendo observada — ou sentida.

Ela recuou, mas não fechou a janela. Os olhos buscaram algo entre as árvores, mas a floresta devolveu apenas silêncio.

Mas havia algo ali.

No alto da encosta, oculto entre os troncos e a escuridão, Darian observava. O cheiro dela era mais forte agora. Tão forte que doía.

Ela estava próxima.

Pela primeira vez, ele a via — mesmo que de longe. O cabelo claro tocado pela luz da lua, a silhueta recortada contra a janela, o coração batendo alto demais.

O lobo dentro dele rosnava, impaciente. Mas Darian não se moveu.

Ele era um Alfa.

E alfas sabiam esperar.

Ainda assim, o sangue pulsava nos ouvidos. Ele não a tocara. Não a ouvira. Mas seu corpo inteiro já a reconhecia.

A garota parecia inquieta. Confusa. Seus olhos vasculhavam a escuridão como se procurassem algo — ou alguém.

Ele quase sorriu.

Ela sentia.

Mesmo sem saber.

Mesmo sem aceitar.

Selena apertou os olhos, tentando romper a cortina de sombras que cobria a floresta. Por um momento, teve a certeza de que havia uma figura ali, entre as árvores. Mas quando piscou, não havia nada além do balanço leve das folhas.

— Alucinação. Só pode ser.

Fechou a janela devagar e voltou para a cama. Mas não conseguiu dormir.

Lá fora, o Alfa permaneceu imóvel, o olhar cravado na casa.

A brisa trouxe de novo o aroma dela, e seus olhos se fecharam por um breve instante.

Era doce. Selvagem. Antiga.

A terra havia falado. A maldição já sentia o cheiro da quebra.

Mas ela ainda não estava pronta.

E ele… também não.

Com um último olhar, Darian desapareceu entre as sombras, os passos silenciosos sobre a terra. Precisava de respostas. Precisava entender quem ela era. O que ela carregava. E por que, entre tantas, era ela quem seu lobo reconhecia como salvação.

Na manhã seguinte, Selena acordou antes do sol. O corpo cansado, mas a mente em ebulição. Sonhara com olhos cinzentos e uivos distantes. Com mãos que não via, mas sentia. E com um nome que não conseguia lembrar.

Vestiu-se com pressa e desceu.

A Anciã já estava lá fora, colhendo ervas no jardim.

— Dormiu bem? — perguntou, sem olhar para trás.

— Dormi... algo assim.

A velha mulher se virou, erguendo os olhos prateados.

— Sentiu a floresta?

Selena hesitou.

— Senti… algo me observando.

A Anciã assentiu.

— A terra desperta quando quem pertence a ela retorna. Você carregou esse chamado por muito tempo. Só não ouvia.

— Eu não pertenço a lugar nenhum — rebateu Selena, seca.

— Não ainda — respondeu a Anciã. — Mas vai pertencer.

Selena suspirou, irritada com a calma daquela mulher. Tinha perguntas demais, mas não sabia por onde começar. E, no fundo, uma parte dela temia as respostas.

— O que tem nessa floresta afinal?

— Segredos. Cicatrizes. Promessas antigas — respondeu a Anciã. — E talvez... um destino que você ainda vai precisar aceitar.

Selena virou o rosto. As árvores pareciam mais verdes agora. Mais próximas.

Como se estivessem ouvindo.

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