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Capítulo 4 – O Que Desperta, Não Dorme Mais

Selena chegou à cabana com o coração disparado e os pensamentos em turbilhão. Os passos eram apressados, mas o chão parecia mais distante, como se a realidade tivesse descolado do corpo. Entrou sem bater. A porta rangeu como se percebesse o caos que ela carregava.

A Anciã, sentada junto ao fogo, nem se virou. Mexia o caldeirão devagar, como quem sabia exatamente o que viria a seguir.

— Então ele apareceu — murmurou.

Selena parou. Os dedos tremiam.

— Como sabe?

— Você está com os olhos de quem foi vista por dentro.

Selena sentou-se no banco de madeira, afundando os ombros como se algo invisível os pressionasse.

— Ele me tocou. Disse que eu sou dele.

A Anciã assentiu, sem espanto.

— A alma reconhece antes da mente aceitar. Você sentiu também.

— Eu… não sei o que senti. Meu corpo inteiro reagiu. Eu queria correr. Mas queria… ficar.

A velha se aproximou com uma xícara de chá quente e pousou na frente dela.

— O que desperta, menina, não dorme mais. O vínculo foi selado. Mesmo que ainda não tenha sido marcado, ele existe.

— Mas isso é insano! Eu não conheço esse homem. Não sei o nome dele, o que ele é, de onde veio. Só… apareceu no meio da floresta dizendo que sou dele como se isso fosse a coisa mais natural do mundo!

A Anciã pousou a mão sobre a dela.

— E você acredita que foi?

Selena abriu a boca, mas não conseguiu responder.

Porque, no fundo, acreditava.

O toque dele ainda queimava em sua pele. O cheiro — madeira, terra molhada e algo primitivo — parecia impregnado em suas roupas. O olhar cinzento ainda pulsava em sua memória, como se cada piscada dela pudesse invocá-lo de novo.

Selena apertou os olhos com força.

— Eu não quero sentir isso.

— Mas sente.

Lá fora, o vento começava a soprar com mais força. A floresta parecia inquieta, como se estivesse reagindo à conexão invisível entre ela e aquele homem — Darian. O nome vinha agora como sussurro, como lembrança que o corpo registra antes da razão compreender.

Enquanto isso, em outro ponto da floresta, Darian caminhava de volta à sua fortaleza. O lobo dentro dele não se aquietava — vibrava, urrava, clamava por ela. A presença de Selena havia acendido nele um fogo que nenhuma caçada, nenhuma batalha, jamais conseguiu igualar.

Ele encostou a mão numa árvore e fechou os olhos. Podia sentir a energia dela como um eco correndo por dentro de si. O vínculo não era apenas espiritual — era físico, carnal. E resistir doía como lâmina encravada na alma.

“Ela precisa estar segura”, pensou.

Ele voltaria. Mas não ainda. Ainda não.

Enquanto Darian se afastava, Theron se aproximava da ruína antiga no limite do território. A bruma ali era mais densa, e até os animais evitavam aquela trilha. Mas ele a conhecia bem. Entrou sem hesitar, o cheiro de mofo e magia antiga impregnando o ar.

Uma mulher o esperava. De cabelos escuros e olhos sombrios como o fundo de um poço, ela sorriu ao vê-lo.

— Então é verdade.

— Ele a encontrou. Tocou nela. Declarou o vínculo.

A mulher riu baixo, seca como madeira estalando ao fogo.

— E ela?

— Confusa. Assustada. Ainda pode ser afastada. Ou… destruída.

— Se ela for marcada, Darian se tornará invencível.

Theron cruzou os braços.

— Por isso devemos impedir.

Ela se aproximou dele, passando os dedos pelos ombros do lobo traidor.

— Então vá. Observe. Aguarde o momento. E quando ele baixar a guarda…

Ela não completou. Não precisava.

Enquanto o plano se traçava nas sombras, Selena se deitou no pequeno quarto da cabana. O teto era o mesmo, as tábuas, a cama, o cheiro de lavanda que vinha da estante de plantas secas. Mas ela… não era mais a mesma.

Havia algo queimando dentro de si. Uma inquietação que não vinha do medo… mas da ausência.

Dele.

A Anciã parou na porta, observando a neta de olhos fechados, mas coração desperto.

— Ele voltará, minha menina. E quando voltar… você vai precisar escolher.

Selena não respondeu. Mas uma lágrima silenciosa escorreu de seus olhos.

Ela não sabia o que escolheria. Só sabia que, naquele momento, não havia mais como fingir que nada tinha mudado.

Porque tudo havia mudado.

E a lua cheia se aproximava.

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