Ninguém nasce Afrodite. Mas Irina precisou se tornar uma para sobreviver num mundo que nunca foi gentil. Durante o dia, ela é apenas Irina, uma jovem doce e silenciosa, que se esconde atrás de livros, cicatrizes e uma solidão cuidadosamente cultivada. À noite, ela veste sua armadura e surge como Afrodite, a Camgirl hipnotizante da plataforma mais exclusiva do país. Um rosto oculto. Uma voz envolvente. Um corpo jamais tocado. Sua sensualidade é poesia, sua presença, um enigma. Para seus espectadores, ela é uma fantasia. Para ela mesma, uma fuga. Mas toda armadura tem uma rachadura. E o nome da sua é Evan Médici. Bilionário. Arrogante. Perigoso. Dono de tudo que o dinheiro pode comprar, menos daquilo que realmente importa. Ele descobre Afrodite por acaso e o acaso nunca mais o deixa. O desejo vira obsessão. O controle vira vício. Ele compra a sua exclusividade, e Irina se entrega por completo,lhe dando algo que ela sempre preservou a sua alma e seu coração. Só que por trás da sensualidade inatingível, Evan encontra uma mulher que sangra e sonha. Uma mulher que o desconcerta, que o confronta. Que vê nele o que ele mesmo esconde. Evan começa esse jogo por causa de uma aposta fútil. Mas termina em um campo de guerra onde o verdadeiro prêmio é algo que ele nunca valorizou e que agora pode perder para sempre. Afrodite seduz, Irina transforma. E quanto mais ele tenta decifrá-la, mas percebe que ela também carrega segredos. Porque nem toda máscara protege, algumas aprisionam. Numa história onde dominação e rendição se confundem, e onde o prazer beira a loucura, resta uma pergunta: O que acontece quando o homem que tem tudo se apaixona pela mulher que se recusa a ser comprada?
Ler maisO céu da cidade parecia pesado naquela noite, como se algo invisível estivesse se aproximando e ninguém lá embaixo ainda soubesse o que era.Irina olhava pela janela do carro enquanto subia os últimos andares do arranha-céu da sede da VIP Rooms. As luzes de Nova York cintilavam ao longe, impassíveis, indiferentes. Dentro dela, no entanto, tudo parecia um espelho prestes a rachar.O chamado de Vittoria veio seco, direto:— Quero vê-la no escritório. Agora.Não era comum. Vittoria jamais fazia algo sem motivo. E, embora a voz ao telefone tenha sido cortês, havia um tom escondido, algo firme demais para ser ignorado. Irina sentiu um calafrio subir pela espinha antes mesmo de desligar a chamada.O elevador privativo a levou até o último andar, silencioso e veloz, como um presságio. Quando as portas se abriram, o ambiente a envolveu com um sussurro de poder. Mármore branco, iluminação suave, perfume discreto de cedro e baunilha no ar. Era como entrar no coração de uma fortaleza invisível.
A noite estava silenciosa no apartamento de Evan Médici. A cidade vibrava do lado de fora das janelas panorâmicas, mas ali dentro, o mundo parecia conter a respiração. O ambiente minimalista, sofisticado e cuidadosamente organizado refletia a mente de seu dono: fria, estratégica, precisa.Evan jogou o paletó no encosto da cadeira e afrouxou a gravata. Seus pensamentos ainda estavam presos na noite anterior, nos risos abafados e copos de uísque tilintando no clube privado onde se encontrava semanalmente com Pablo e Matteo.Mas o que o intrigava, mais do que qualquer coisa, era a expressão nos olhos de Pablo. Uma mistura de entusiasmo e encantamento… algo que Evan não via no amigo há anos. Tudo por causa de uma mulher que ele conheceu em uma plataforma de camgirls.Evan bufou sozinho ao lembrar.Apaixonado por uma performer de câmera? Patético.Pablo havia falado da tal “Medusa” com fervor, como se fosse uma musa renascentista, como se ela dançasse apenas para ele. Como se uma mulher qu
O sol já havia se escondido quando Irina chegou ao pequeno apartamento de Natália. A porta entreaberta, como sempre, era um convite silencioso para entrar sem bater. Aquela casa era um refúgio, uma ilha entre as tempestades do mundo. O cheirinho de café fresco preenchia o ar, misturado ao incenso de baunilha que sempre queimava discretamente no canto da sala.Ela entrou em silêncio, os ombros tensos, os pensamentos pesando mais que a bolsa que carregava. Fechou a porta devagar, deixou os sapatos ao lado do tapete surrado e soltou o ar dos pulmões como se estivesse se libertando de um corset apertado.Ali, entre aquelas paredes cheias de cor e vozes conhecidas, ela se permitia ser Irina, não Afrodite, a camgirl intocável. Mas ainda assim, nem mesmo naquele lar improvisado, conseguia escapar da sombra que a seguia: suas dívidas.Ela lembrava bem da noite em que Nicole fez a pergunta. Não foi maldosa, não exatamente, mas também não foi leve.“Quando é que você vai leiloar a sua virgindad
A primeira vez que Irina clicou no botão “transmitir ao vivo”, suas mãos estavam tão trêmulas que a taça de vinho quase escorregou de seus dedos. O líquido rubro balançou perigosamente, mas não caiu, assim como ela, pelo menos ainda.O vinho não era para brindar. Era uma armadura líquida. Uma tentativa desesperada de enganar o nervosismo que pulsava em cada célula do seu corpo.A câmera já estava ligada. A luz vermelha acesa como um farol anunciando que não havia mais volta, e ali estava ela.Sentada sobre lençóis escarlates, a pele envolta em rendas negras que deixavam mais visível do que escondiam, e uma máscara dourada cobrindo metade do rosto.Sua respiração estava entrecortada, sua coragem sustentada por um fio de desespero e um restinho de fé.“Respira. É só uma dança.” — repetiu para si mesma como um mantra.Não precisava falar, não precisava se despir, só precisava dançar. E era nisso que confiava. Na dança que a salvara tantas vezes. No movimento que libertava, que dizia o
“O que começa como jogo… pode acabar em ruína.”A cobertura parecia engolir o próprio ar naquela noite. Era um abismo de concreto, vidro, silêncio que carregava algo maior, mais frio. Evan estava encostado à parede de vidro, com os olhos fixos na cidade que ardia em luzes lá embaixo tão viva, tão indiferente à ruína que se instalava dentro dele.Segurava um copo de uísque com tanta força que parecia que quebraria a qualquer instante. Mas não bebia, porque não havia álcool no mundo capaz de apagar o gosto amargo que queimava sua garganta: o gosto cruel da verdade.Atrás dele, Irina estava parada, parecia uma estátua de dor. Segurava o celular nas mãos, a tela ainda acesa com a mensagem que ela lera tantas vezes que parecia ter se fundido à sua pele.Mas foi a voz dela que rasgou o ar. Fria, ferida, flamejante.— Uma aposta, Evan?Ele se virou devagar, como se o próprio corpo pesasse toneladas. O coração batia em espasmos selvagens, mas o rosto… era a máscara de sempre. Aquela que us