Mundo de ficçãoIniciar sessãoHelena Marlow perdeu tudo ainda jovem: a empresa da família, os pais e a segurança que conhecia. Agora, enquanto tenta reconstruir a própria vida, aceita trabalhar como babá na casa de uma das famílias mais influentes do país — sem imaginar que está se aproximando de alguém que marcou sua infância muito mais do que ela lembra. Ethan Hartman cresceu cercado por poder, silêncio e expectativas impossíveis. Filho de um senador respeitado e de uma mãe implacável, vive preso a um casamento vazio e ao peso de um legado que nunca escolheu. Sua lembrança mais preciosa é a da menina com quem dividiu um jardim escondido… uma menina que desapareceu de sua vida sem explicação. Quando Helena entra na mansão recém-construída por Ethan, nenhum dos dois se reconhece. Mas algo — um olhar, um gesto, um desconforto inexplicável — desperta neles a mesma sensação: uma familiaridade que cutuca o passado. Enquanto Helena se aproxima de Henry e um misterioso “jardim secreto” parece chamá-la como um eco adormecido, passado e presente começam a se entrelaçar. Ele passou a vida sentindo falta de alguém que nunca soube nomear. Ela passou a vida tentando sobreviver ao que veio depois. E algumas conexões de infância não desaparecem — apenas aguardam o momento certo para serem descobertas de novo.
Ler maisHelena desceu as escadas com Henry, ainda sonolento, e o menino segurava sua mão com a confiança tímida de quem começava a aceitar a nova rotina. Quando viraram o corredor, a sala de jantar principal se abriu diante deles como uma pintura meticulosamente composta. Ethan estava sentado na cabeceira da mesa — elegante, postura firme, o tablet nas mãos. Eloise ocupava o assento à esquerda dele, maquiagem impecável, mexendo o café com tédio ensaiado. A mesa parecia saída de revista: frutas cortadas, pão fresco, sucos em jarras translúcidas. E, naquela composição perfeita, faltava apenas Henry. O menino soltou a mão dela e correu até o pai. — Papai… Ethan levantou os olhos — e por um instante, a dureza habitual se dissolveu. Não muito, mas o suficiente para que Helena percebesse. Ele abriu os braços, e Henry se acomodou em seu colo por alguns segundos antes de ser colocado com cuidado na cadeira ao lado. Helena aproximou-se discretamente, assumindo o lugar de apoio ao lado do me
A noite se acomodou sobre a mansão como um véu silencioso quando Helena deixou Henry dormindo. Quinn a guiou até a cozinha para conhecer a equipe da noite, mas, antes mesmo de entrar, uma voz cortante ecoou pelo corredor.— Ele ficou com você?Helena se virou devagar.Eloise Hartman estava parada na entrada, ainda impecável apesar do salto alto e do vestido justo. O perfume forte anunciava sua presença antes mesmo da expressão gelada que a acompanhava.Quinn respondeu com calma:— Henry já está dormindo, senhora Hartman. A rotina correu muito bem.— E A BABÁ nova acompanhou? — Eloise perguntou, arrastando a palavra “babá” como se fosse algo sujo.Helena sentiu o estômago contrair, mas manteve o queixo erguido.— Sim, senhora — disse. — Ele dormiu tranquilo.Os olhos de Eloise a examinaram como lâminas — de cima a baixo, frios, calculados.— Interessante — murmurou. — Nunca funciona assim no primeiro dia.Helena não soube se ela estava surpresa… ou irritada.Quinn, percebendo o clima,
O céu já estava tingido de tons rosados quando Helena voltou à mansão. A mochila pesava em seu ombro, mas o que realmente pesava era a sensação persistente que ela trazia desde a manhã — aquela impressão de que o chalé escondido a observava, de algum jeito impossível.Quinn abriu a porta antes mesmo que ela tocasse a campainha.— Chegou na hora certa — disse a governanta. — Henry acabou de jantar e está calmo. Melhor momento para começar sua adaptação.Helena entrou, sentindo novamente a transição de mundo: a casa era quieta demais, perfeita demais… intensa demais.— Vou levar você para guardar suas coisas — disse Quinn, caminhando à frente.O quarto estava como ela lembrava — simples, limpo, acolhedor. Ela colocou a mochila sobre a cama, organizou algumas roupas no armário e tirou da bolsa seus cadernos da faculdade.Era pouco, mas era o que tinha.Era o que cabia numa vida reconstruída.— Está pronta? — perguntou Quinn.Helena assentiu, mesmo sem saber se estava.As duas seguiram pe
Helena seguiu a senhora Quinn para dentro da mansão enquanto Henry continuava a brincar no gramado. A porta de vidro se fechou atrás delas com um clique suave, e o silêncio organizado da casa tomou conta do ambiente, como se ela tivesse cruzado para outra realidade.— Vamos mostrar seu quarto e ajustar a rotina — disse a governanta, caminhando com passos firmes.Helena manteve as mãos entrelaçadas, tentando absorver tudo. O corredor era iluminado por painéis de luz natural, e quadros antigos decoravam as paredes. Um deles chamou sua atenção: um menino loiro, olhos escuros, expressão séria demais para a idade.Algo dentro dela se contraiu… mas Quinn já virava a esquina.— Aqui é a ala dos funcionários — explicou. — Mantemos tudo organizado para funcionar sem atrapalhar a família.Ela abriu uma porta branca.— Este será seu quarto.Helena entrou devagar. O quarto era simples e acolhedor: cama impecável, escrivaninha com luminária, armário claro e uma janela com vista para o jardim later
Helena seguiu a senhora Quinn pelo corredor lateral até a porta de vidro que dava para o jardim. A luz atravessava as folhas e desenhava manchas douradas no chão. O ar tinha cheiro de grama molhada, flores… e algo estranhamente familiar, embora ela não soubesse dizer por quê. — Henry está ali — disse a governanta, apontando para uma pequena sombra perto das árvores. — Ele prefere lugares quietos. Não se surpreenda se não falar muito. Helena assentiu. Quinn ficou alguns passos atrás, dando espaço, mas claramente atenta a cada detalhe. Helena caminhou devagar pelo gramado até o menino. Ele estava sentado com as pernas cruzadas, segurando um carrinho de madeira com as duas mãos. A cabeça inclinada, o corpo encurvado, como se esperasse o mundo se aproximar — devagar, sem pressa, sem sustos.Quando Helena chegou perto, pôde ver melhor os detalhes do menino.Henry era pequeno para a idade, com o corpo magrinho e postura retraída, como se o mundo fosse grande demais para ele. Os cabelo
A porta interna abriu devagar, e Helena se levantou sem pensar. Os passos firmes que ecoavam pelo corredor pareciam ditar o ritmo daquela casa — constantes, controlados, quase autoritários.A senhora Quinn endireitou a postura.Então ele apareceu.Ethan Hartman.O nome era comum.O homem — nunca seria.Ele surgiu no corredor como se o ambiente tivesse sido alinhado em torno dele. Alto — facilmente um metro e oitenta e oito —, ombros largos, o terno cinza-escuro feito sob medida caindo com precisão impecável. O paletó pendia no antebraço, revelando o colete ajustado e a camisa branca perfeitamente alinhada ao corpo.Os cabelos castanhos-escuros estavam penteados para trás, mas a luz revelava reflexos mais claros — profundos, não suaves. O rosto era marcado, masculino, firme. Mandíbula definida, nariz reto, uma expressão de quem raramente se permite vacilar.Mas eram os olhos que prendiam Helena.Azuis acinzentados.Friamente calculados.E, por trás disso, algo inquieto — como se guarda





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