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Capítulo 2: A decisão que pesa no peito

O sol já havia se escondido quando Irina chegou ao pequeno apartamento de Natália. A porta entreaberta, como sempre, era um convite silencioso para entrar sem bater. Aquela casa era um refúgio, uma ilha entre as tempestades do mundo. O cheirinho de café fresco preenchia o ar, misturado ao incenso de baunilha que sempre queimava discretamente no canto da sala.

Ela entrou em silêncio, os ombros tensos, os pensamentos pesando mais que a bolsa que carregava. Fechou a porta devagar, deixou os sapatos ao lado do tapete surrado e soltou o ar dos pulmões como se estivesse se libertando de um corset apertado.

Ali, entre aquelas paredes cheias de cor e vozes conhecidas, ela se permitia ser Irina, não Afrodite, a camgirl intocável. Mas ainda assim, nem mesmo naquele lar improvisado, conseguia escapar da sombra que a seguia: suas dívidas.

Ela lembrava bem da noite em que Nicole fez a pergunta. Não foi maldosa, não exatamente, mas também não foi leve.

“Quando é que você vai leiloar a sua virgindade?”

A frase ainda vibrava dentro dela como um eco distante.

Irina apertou a caneca de café com força, sentada no mesmo sofá onde a conversa tinha acontecido, dias antes. Sentia-se deslocada dentro da própria pele. Porque até então, aquela possibilidade tinha sido apenas isso: uma possibilidade remota. Um mito, uma lenda alimentada pelos comentários em fóruns, pelos boatos entre clientes anônimos, e pelos olhares de cobiça nos bastidores do site.

Ela havia ficado sozinha no mundo depois da morte da avó. Sozinha de verdade. Nenhuma mão para segurar, nenhum conselho para seguir. E por mais que vestisse a persona de Afrodite com ousadia e poder diante das câmeras, por dentro, Irina era só silêncio, vazio e perguntas sem resposta.

A cada semana na plataforma, sua audiência crescia. Era a mais requisitada. A mais desejada. A mais comentada. “Afrodite” virara um fenômeno. Mas isso não a confortava. Muito pelo contrário. O sucesso cobrava.

A jovem tinha aprendido a se destacar entre figurinos ousados, cenários impecáveis, poses que esbanjavam domínio e mistério. Mas dentro de si, sentia que estava no limite de algo maior, algo que não sabia se queria ou se temia.

E então, como um sussurro irônico vindo das sombras da memória, a voz de Nicole voltou a ecoar com força:

— “Você é a grande promessa do site, Irina. A virgem. A deusa intocável. E isso é ouro.”

Irina estava sentada no sofá da pequena sala, o laptop ainda aberto, mas com a transmissão encerrada. Luzes suaves e cor-de-rosa piscavam ao fundo, dando à noite um ar artificial demais. Tudo parecia uma cena, um teatro. Exceto o que ela sentia.

Ela passou lentamente os dedos pelo braço nu, como se pudesse arrancar a dúvida da própria pele. Queria apagar aquela sensação, aquela pergunta que não parava de voltar.

Será que chegou a hora? — sussurrou para si mesma, a voz frágil, quase infantil.

Não era moralismo. Não era ingenuidade. Era medo.

Minha avó sempre disse... o corpo é um templo. Um altar. Só se entrega por amor.

Mas havia amor? Haveria algum dia? Ou ela seguiria sendo essa entidade solitária, desejada por todos, tocada por ninguém?

Fechou os olhos, encostando a cabeça no encosto do sofá. O rosto sem maquiagem revela uma vulnerabilidade que jamais mostraria à câmera.

Se eu perder isso… perco o controle? Perco quem eu sou?

Era esse o terror. O medo não era do sexo. Era do depois. De como isso mudaria sua essência. Afrodite era uma deusa porque ninguém a tinha possuído. Porque ela mandava em si mesma. Mas e se alguém a tocasse? Se ela deixasse de apenas performar desejo e sentisse, de verdade?

Será que vou conseguir ser ainda mais poderosa… ou só vou me perder no meio disso tudo?

Ela pensava nisso mais do que queria. Mais do que admitia até para si.

E havia mais. Tinha o lado estratégico. A pressão silenciosa da plataforma, o interesse de empresários, produtores, fãs que a idolatravam pela virgindade mística que carregava.

Mas Irina era só uma garota. Sozinha. Com medo de cruzar uma linha da qual não poderia voltar. E talvez — só talvez — ansiando, no fundo, por alguém que a fizesse querer atravessá-la sem se sentir invadida. Que a fizesse sentir segura. Escolhida. Vontade e não cobrança.

Abriu os olhos devagar, encarando o reflexo no espelho ao lado da estante. O olhar era firme, mas as pupilas tremiam. Tocou o próprio rosto com cuidado, como se pedisse desculpas a si mesma.

Talvez Afrodite precise disso para crescer. Mas e Irina? Irina tá pronta?

A resposta não veio. Só o silêncio, profundo e pesado.

E quando fechou o laptop de vez e desligou as luzes do cenário, uma única certeza pairava no ar abafado do quarto:

Quando a decisão vier, não haverá volta!

Nicole, com seu jeito doce e livre, tinha contado dias antes que estava namorando um cliente. Que eles se conheceram durante uma sessão, e semanas depois, ele comprou a sua exclusividade. Depois disso, foram conversas honestas e jantares sem máscaras. Era algo bonito, quase impossível de acreditar, principalmente para mulheres como elas, que usavam o corpo para sobreviver. Mas, ver a amiga flutuando de felicidade a fez sorrir… mas também a fez pensar.

“Às vezes a gente acha que ninguém vai ver a gente além da máscara. Mas aí aparece alguém que olha direto pra alma.”

Será que isso aconteceria com ela algum dia? Ou ela teria que escolher entre se salvar… ou se preservar?

A água quente da torneira escorria sobre as mãos dela agora, na pequena cozinha de casa. Mas tudo o que via eram os rostos das amigas naquela noite. O choque de Natália, a ternura de Nicole, a provocação disfarçada de verdade.

Ela não era cega. 

Sabia que a própria plataforma a promovia como um mistério. “A camgirl que nunca tirou a calcinha.” “A deusa virgem.” Havia até fóruns de apostas. Rumores sobre sua primeira vez. Quem seria o sortudo, quanto valeria.

Nos bastidores, as perguntas vinham o tempo todo.

E os convites eram sempre de bilionários oferecendo fortunas em troca de encontros. Propostas absurdas, presentes.

Mas ela recusava, sempre recusava. Porque por mais que soubesse dentro de si que Afrodite não passava de um personagem, no fundo, Irina temia que a deusa assumisse o controle de sua vida e Irina deixasse de existir. 

Ela estava sentada na cama agora, com o notebook aberto, e os olhos fixos no e-mail que havia recebido naquela tarde. Assunto: “Proposta para leilão – VIP Selection”. O remetente? A própria administração do site.

Dentro, o conteúdo era simples. 

Um leilão restrito e ela seria uma das Camgirls solicitada. Apenas três garotas estariam leiloando algo de interesse dos clientes, e Irina tinha algo muito importante que muitos queriam: Sua virgindade. Mas o que chamou a atenção de Irina foi o valor inicial do leilão: Quinhentos mil dólares! 

Irina fechou o notebook de uma vez, como se o gesto pudesse apagar o que acabava de ler.

Meio milhão…

Era uma armadilha, mas também… uma salvação.

Meio milhão daria para pagar todas as dívidas, retomar o curso, viver com dignidade por um tempo e respirar.

Mas a que preço?

Ela deitou-se na cama, o teto branco encarando de volta. Imaginou a si mesma depois. Sozinha, lavando o corpo debaixo do chuveiro, tentando entender se valeria a pena e se depois de tudo ela ainda seria ela mesma, ou se tudo o que iria restar seria a máscara chamada Afrodite e uma cicatriz chamada Irina.  

A campainha tocou.

Era Natália. Despreocupada como sempre, que entrou sem esperar convite e jogou o casaco no sofá.

— Você sumiu desde aquele dia, garota.

Irina forçou um sorriso.

— Tô só… pensando na vida.

— Pensando ou se afundando nas contas?

Irina não respondeu.

Natália parou encarando sua amiga e sua expressão descontraída desapareceu.

— Eles te mandaram o e-mail?

Irina assentiu, devagar.

 Suspirou fundo, sentando-se ao lado dela.

— Eu sabia que isso ia acontecer. Você é a joia do site, aquela que ninguém tocou. É óbvio que iriam querer explorar isso. A pergunta é: você vai deixar?

Irina encarou o chão.

— Não sei.

Natália ficou em silêncio e depois disse, com uma honestidade que surpreendeu:

— Só faz se for por você. Não por desespero, nem por pressão. Faz se, e só se quiser. Se conseguir olhar pra si mesma depois. Porque uma vez feito… não tem volta.

Irina engoliu seco.

E naquele momento, percebeu: a decisão não era apenas sobre dinheiro. Era sobre sua identidade,  coragem e liberdade.

E ainda que a resposta não viesse naquela noite… Ela sabia que não poderia adiá-la para sempre.

 

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