Irina Smith
Cheguei em casa com os pés gelados e a cabeça fervendo. O mundo parecia girar mais lento, como se me observasse com olhos silenciosos e julgadores. Girei a chave na fechadura com um estalo seco, mas aquela porta… aquela simples porta… parecia pesar toneladas. Talvez não fosse a madeira. Talvez fosse o peso da escolha que eu carregava nos ombros.
Empurrei devagar, entrando no escuro. O apartamento estava do mesmo jeito que deixei, o abajur da sala apagado, o sofá com a manta jogada de lado, o cheiro doce da lavanda que Natália sempre borrifava antes de dormir. Mas nada daquilo me acalmava.
Fechei a porta atrás de mim e soltei a bolsa no chão com um baque abafado. Por um instante, tudo o que eu queria era desabar. Deixar o corpo cair sobre o tapete, fechar os olhos e fingir que nada daquilo era real.
Mas era.
Cada palavra dita naquela sala, cada olhar de Vittoria, cada frase carregada de significado estava gravada dentro de mim como ferro em brasa.
Um leilão.
Minha virgi