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Capítulo 7 _ Os três passos

  A proposta de viagem caiu sobre a mesa como um alívio disfarçado. Era para Liam assumir a frente daquela negociação — uma fusão delicada com um grupo hoteleiro de Boston — mas James enxergou naquilo uma rota de fuga. Uma pausa necessária. O distanciamento que ele precisava antes que as rachaduras dentro de si se tornassem irreparáveis.

  Ele havia lido o e-mail duas vezes antes de se levantar, atravessar o corredor e bater na porta do irmão.

  Liam estava ao telefone, mas fez sinal para ele entrar. A sala era ampla, decorada com sobriedade, e havia nela um certo ar de desordem elegante — pastas abertas, xícaras esquecidas, uma gravata jogada sobre a poltrona. O oposto do escritório de James, sempre limpo, minimalista, contido.

  Quando terminou a ligação, Liam tirou os óculos e o olhou com curiosidade.

  — Algum problema?

  James negou com a cabeça, mas respirou fundo. Estava preparado para parecer apenas objetivo.

  — A viagem pra Boston. Eu pensei em ir no seu lugar.

  Liam arqueou uma sobrancelha.

  — Você? — Havia surpresa em sua voz. — Pensei que estivesse querendo passar um tempo aqui, retomar o controle das coisas... Além disso, acabei de voltar de três dias fora, e você passou meses em Londres.

  James deu de ombros, cruzando os braços.

  — Exato. Passei meses longe e percebi o quanto essas viagens me fazem bem. Além disso, você está às voltas com esse noivado. Imaginava que preferisse estar por aqui nos próximos dias, resolvendo as coisas com Sophie, com a nossa mãe, a cerimônia... esse tipo de coisa.

  O nome dela escapou dos seus lábios com mais naturalidade do que esperava — mas internamente, doeu. Uma ferida que ainda latejava em silêncio.

  Liam franziu a testa, pensativo, mas depois assentiu.

  — É, na verdade... seria bom mesmo. A Sophie tem estado mais sensível, e a mãe está enlouquecendo com os detalhes da festa. Se você está mesmo disposto a ir, fico te devendo essa.

  James esboçou um leve sorriso. Queria dizer que ele não lhe devia nada, mas preferiu não alimentar a ironia que se formava em sua garganta.

  — Considere isso um presente de casamento antecipado.

  Liam riu, relaxando um pouco na cadeira.

  — Eu realmente não entendo essa sua obsessão por viver com uma mala na mão... mas tudo bem. Cada um com seus métodos. Só cuida bem desse contrato, ele é importante.

  — Sempre — disse James, já se levantando. — Eu envio o planejamento ainda hoje e aviso à equipe de Boston. Parto amanhã à noite.

  — Amanhã? Rápido assim?

  — Quanto mais rápido, melhor — respondeu, seco, com um sorriso leve, já se afastando da sala.

  Liam não parecia desconfiar de nada. Nem por um segundo demonstrou saber o verdadeiro motivo que empurrava James para fora da cidade. E isso, de certo modo, aliviou o peso que ele carregava — ainda que não diminuísse a dor.

  De volta à sua sala, James encostou-se à parede de vidro que dava para a cidade. As luzes de Manhattan cintilavam à distância, indiferentes ao que se passava dentro dele.

  A viagem seria uma pausa, sim. Mas ele também sabia que fugir de Sophie não resolveria nada. Só ganharia tempo para tentar silenciar o coração. Reorganizar os sentimentos. Apagar — se é que era possível — a imagem dela em sua memória.

  Mas parte dele sabia que, ao voltar, ela ainda estaria ali. Como uma lembrança viva, pulsante, habitando os mesmos corredores, os mesmos espaços, os mesmos silêncios.

  Suspirou fundo e abriu a agenda. Havia muito o que resolver antes de embarcar. E, quem sabe, o tempo longe trouxesse consigo algum tipo de redenção. Ou ao menos, esquecimento.

  A viagem aconteceu com a precisão de um movimento cirúrgico. Em poucas horas, James estava em Boston, carregando apenas uma mala e uma tonelada de intenções que ele próprio não sabia nomear. Não era exatamente fuga. Não era exatamente respiro. Era uma tentativa desesperada de se recompor, como quem tenta juntar os próprios cacos antes que alguém perceba o quanto eles se espalharam.

  O hotel era confortável, o quarto elegante e silencioso, mas nada naquele lugar conseguia de fato silenciar o que vibrava dentro dele. Sophie continuava presente — nos intervalos entre uma reunião e outra, nos instantes vazios dentro do elevador, no vapor do chuveiro enquanto ele tentava afogar as lembranças.

  Cumpria todos os compromissos com a competência habitual. Participava das reuniões, fechava decisões com clareza, atualizava Liam por e-mail com frieza matemática. Fazia questão de evitar ligações, e sempre havia uma justificativa técnica para isso: fuso, sinal ruim, sala de reunião ocupada.  

  Mas na verdade, ele só não queria ouvir a voz do irmão. Não queria se forçar a fingir que tudo estava em paz.

  Na terceira noite, enquanto se recostava na cama do hotel, com uma taça de vinho descansando ao lado, o celular vibrou.

  O nome não apareceu, mas o número sim. Ele reconheceu no mesmo instante. Sentiu o sangue se esvair das mãos. O coração disparou com tanta força que o peito doeu.

  Sophie.

  O visor brilhava no escuro do quarto como um convite, ou talvez, uma provocação.

  James não atendeu. Ficou olhando a tela, como se cada segundo fosse um teste de resistência. A ligação seguiu tocando por longos instantes, depois cessou. O visor escureceu. O silêncio caiu como uma pedra.

  Ele passou a mão pelo rosto, irritado. Sentia-se invadido. Estava tentando esquecê-la, tentando seguir — e ela, com um simples gesto, desmoronava tudo.

  "O que ela quer agora?", pensou. "Por que me ligar? Por que continuar aparecendo?"

  Sentiu uma raiva pequena crescendo por dentro. Não exatamente por ela. Mas por si mesmo. Por ainda desejá-la tanto. Por ainda pensar nela o tempo todo. Por ser arrastado de volta ao mesmo lugar, mesmo sabendo que dali não sairia nada além de dor.

  Levantou-se, largou o celular na cama e vestiu o sobretudo. Precisava sair. Respirar. Ver outras ruas, outras pessoas. Qualquer coisa que o afastasse daquela tentação cruel.

  A noite em Boston estava fria, mas viva. As luzes refletiam nos vidros dos carros, os bares murmuravam conversas abafadas e o vento tinha cheiro de inverno. James caminhou sem rumo pelas ruas do centro até parar diante de uma cafeteria discreta que ainda estava aberta. Entrou, mais pelo calor do ambiente do que por desejo de um café.

  Pediu um espresso duplo e sentou-se perto da janela. Observava os movimentos lá fora quando uma voz familiar interrompeu seus pensamentos.

  — James Carter?

  Ele se virou devagar, com o coração ainda acelerado, imaginando se os fantasmas já haviam começado a segui-lo fisicamente.

  Mas não era Sophie.

  Era Grace Turner.

  Um pedaço do passado que ele não via há anos. A última mulher com quem realmente tentou algo antes de se perder no trabalho e no mundo. Linda como sempre, mas havia algo diferente nela. Mais leve. Mais tranquila.

  — Grace? — Ele se levantou, surpreso, esboçando um sorriso verdadeiro. — Uau... quanto tempo.

  Ela sorriu também, genuína.

  — Uns três anos, talvez mais. O que faz em Boston?

  — Negócios — respondeu, ainda sem acreditar no acaso daquele encontro. — E você?

  — Moro aqui agora. Depois de tudo em Nova York, achei que era hora de respirar outros ares.

  James a observou por um momento. Ela ainda tinha aquele jeito seguro, elegante, que sempre o intrigara. Ela apontou para a cadeira ao lado.

  — Posso?

  Ele assentiu, puxando a cadeira para ela.

  Talvez a noite não tivesse terminado como ele esperava. Talvez, só talvez, houvesse um motivo para isso.

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