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Capítulo 5 - Caminhos tortos

  O jantar seguia seu curso com a tranquilidade forçada das ocasiões importantes. O salão estava bem iluminado, decorado com arranjos florais sóbrios e elegantes, e a mesa longa reunia convidados de ambos os lados da família. Sorrisos, brindes, comentários amenos. Por fora, tudo parecia perfeito.

  Mas James mal conseguia prestar atenção em qualquer conversa que não fosse a que acontecia entre seus próprios pensamentos.

  Sentado a dois lugares de Sophie, cada palavra dita por ela parecia vibrar no ar de maneira diferente. Seus risos — que ele aprendera a distinguir dos falsos — agora pareciam ensaiados. Os olhares que trocavam eram curtos, mas intensos, como se um súbito contato visual fosse suficiente para acender tudo o que tentavam apagar.

  James tentava manter a compostura. Mastigava mecanicamente, sorria quando esperavam que sorrisse, brindava quando todos levantavam as taças. Mas sua mente vagava. E seu peito doía.

  Havia um aperto instalado no centro de seu estômago que não dava trégua. Ele queria entender. Precisava. Como aquilo era possível? Como Sophie — a mulher que o tocara tão profundamente em tão pouco tempo — era justamente quem estava noiva de seu irmão?

  Quando não aguentou mais, levantou-se da mesa com uma desculpa vaga, dizendo que precisava atender o telefone. Ninguém questionou. Sabiam que James sempre fora um homem ocupado e reservado. Ninguém imaginava, porém, a tempestade que carregava por dentro.

  No jardim, a noite estava fresca. As luzes suaves dos postes baixos iluminavam o caminho de pedras entre as roseiras. James caminhou até um canto mais afastado e parou, apoiando as mãos na borda de uma mureta. Respirou fundo, várias vezes, como se isso bastasse para acalmar a fúria que sentia. Mas o ar parecia insuficiente.

  “Que droga, James...”, pensou, apertando os punhos.

  Sentia vontade de socar alguma coisa. Uma parede, o chão, qualquer superfície que doesse menos que o que carregava no peito. Pensou, por um segundo, em socar o próprio rosto. Talvez merecesse. Como pôde se envolver com a noiva do próprio irmão? Mesmo sem saber, mesmo sem querer. Ainda assim… envolveu-se.

  Foi então que ouviu passos leves atrás de si. Virou-se com um sobressalto, o coração disparando — e a viu.

Sophie.

  Ela usava um vestido discreto, mas havia algo nela que o desarmava por completo. Talvez fosse o modo como segurava os braços junto ao corpo, como se estivesse tentando se proteger do mundo. Ou os olhos, úmidos e assustados, como se a qualquer momento pudesse desabar.

  Eles se encararam por segundos longos e surreais. Como se o tempo, ali, tivesse parado.

  James tentou dizer alguma coisa, qualquer coisa. As palavras estavam todas ali, formando um nó na garganta. Mas nenhuma parecia certa, nenhuma parecia suficiente. Então ele apenas a olhou. Com dor. Com desejo. Com a confusão cravada no olhar.

  Sophie quebrou o silêncio primeiro, em voz baixa:

  — Oi.

  Parecia pouco, mas foi o que ela conseguiu dizer. Como se fosse a única palavra que não machucasse naquele momento.

  James a observou com atenção, e então entendeu. Viu o medo nos olhos dela. A culpa. A fragilidade. Sophie estava em pedaços. Assim como ele.

  Ele deu um passo à frente. Depois recuou. E então, sem encará-la diretamente, disse apenas:

  — Não vou contar nada a Liam. Não se preocupe comigo enquanto a isso. 

  Sua voz era baixa, firme, mas cheia de amargura. Não havia ameaça ali. Só resignação. Uma promessa dolorida.

  E antes que ela pudesse responder, James se virou e foi embora, caminhando de volta para dentro da casa. O peito apertado. A alma em pedaços.

  Sophie ficou no jardim, imóvel, com os olhos marejados. E soube, naquele instante, que perder James seria uma dor silenciosa e duradoura. Mas tê-lo… era impossível.

  Dentro da casa, James reassumiu seu lugar na mesa como um ator voltando ao palco. Ninguém notou sua ausência prolongada. Liam falava com entusiasmo sobre a lua de mel planejada para Santorini, seus pais comentavam sobre viagens passadas.

  James fingia ouvir. Fingir, ali, era tudo que podia fazer. 

  Assim que o jantar foi oficialmente encerrado, James não conseguiu suportar ficar por mais nenhum minuto. Os últimos brindes, os últimos sorrisos e felicitações pareciam uma espécie de tortura sofisticada.

  Liam, animado, passou um braço pelos ombros de Sophie e a puxou para um beijo rápido — um gesto simples, quase automático, mas que reverberou dentro de James como uma lâmina cortando fundo. A imagem ficou presa em sua mente como uma cena que ele desejava apagar, mas que se repetia em loop cruel.

  Ele se levantou da cadeira com uma pressa mal disfarçada.

  — Já vai, querido? — perguntou a mãe, com um sorriso cansado. — Fica mais um pouco. Está tudo tão agradável hoje...

  James forçou um sorriso que não alcançou os olhos.

  — Eu adoraria, mas tenho relatórios para revisar. Reunião cedo amanhã. Preciso estar com a cabeça no lugar.

  Ela assentiu, embora com um olhar levemente decepcionado. Ele beijou a testa dela rapidamente e apenas acenou para o pai. Quando passou por Liam, disse um "Parabéns" vago, quase inaudível. O irmão o olhou de esguelha, franzindo a testa.

  — Vai fugir de novo? — disse Liam, em tom de brincadeira, mas com uma ponta de estranheza.

  James não respondeu. Apenas foi.

  Saiu da mansão da família mais rápido que pôde. 

  Entrou no carro, ligou o motor, mas não foi para casa. Não conseguia. Sabia que se ficasse entre quatro paredes silenciosas, com o rosto de Sophie na memória e o gosto de tudo o que não viveu ainda preso no peito, enlouqueceria.

  Dirigiu sem rumo por ruas que conhecia tão bem. Passou por avenidas iluminadas, cruzou sinais vermelhos que o destino parecia ignorar, e foi parar em algum canto isolado de Manhattan, com vista para o Rio Hudson.

  Parou o carro e ficou ali, em silêncio, observando as luzes refletidas na água, o movimento suave das ondas, os barcos ancorados ao longe.

  O coração batia pesado. A cabeça, girando.

  A única coisa que sabia com clareza era o nome dela.

  Sophie.

  A mulher que seu irmão estava prestes a se casar. A mulher que o deixara completamente desorientado. Que o tocara com gestos sutis e com verdades não ditas. A mulher que ele beijara na chuva, como se o mundo não estivesse à volta deles. A mulher que agora não podia ser sua.

  James fechou os olhos e apoiou a testa no volante, como se aquele gesto pudesse espantar a dor que sentia.

  Pegou o celular. Desbloqueou a tela. Abriu o contato dela.

  Ficou longos minutos olhando para aquele número. Pensou em escrever algo. "Posso te ver?" ou "Precisamos conversar" ou mesmo apenas "Oi". Mas nenhuma das opções parecia certa. Nada parecia certo.

  A sensatez — ou o que ainda restava dela — falou mais alto. Não era o momento. Não era justo com ela, nem com ele, e, de certo modo, nem com Liam. Por mais que seu irmão fosse um idiota em muitas áreas da vida, ainda era seu irmão. E Sophie… merecia mais do que uma mensagem digitada às pressas num momento de fraqueza.

  Guardou o celular de volta no bolso e ficou ali por um tempo, apenas ouvindo o som leve das águas, o zumbido da cidade ao longe. Estava completamente arrasado, dilacerado de um jeito que nunca experimentara antes. Nenhuma mulher o desestruturara assim. Nenhuma tinha entrado tão fundo, tão rápido, e deixado nele esse vazio devastador.

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