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Capítulo 6 - Sentimental

  James passou os dias seguintes imerso no trabalho. Chegava cedo à sede da empresa, ainda com o café da manhã na mão, e saía tarde, quando os andares já estavam mergulhados no silêncio e a cidade do lado de fora começava a apagar as luzes. Os únicos sons que o acompanhavam eram o tilintar dos copos de café sendo trocados, os passos solitários no mármore e o ruído das notificações de e-mails que nunca paravam de chegar.

  Focar nos negócios era, no fundo, o único modo que encontrara de silenciar o nome de Sophie dentro de si.

  Pensar nela era como encostar numa ferida recém-aberta — doía antes mesmo do toque. Por isso, ele se ocupava. Evitava jantares de família, almoços aos domingos, reuniões informais, festas, qualquer coisa que pudesse fazê-lo encontrá-la. Quando cruzava com Liam pelos corredores da empresa, arrumava uma desculpa rápida, desviava o olhar, dizia que tinha uma call urgente ou uma reunião marcada. O irmão parecia não notar — ou fingia não notar.

  James agradecia, em silêncio, por isso.

  Num final de tarde chuvoso, a cidade estava engolida por nuvens baixas e um vento cortante. A maioria dos funcionários já tinha ido embora. O andar executivo estava em completo silêncio, exceto pela luz acesa em sua sala e o som baixo de jazz que tocava no canto.

  James estava de pé junto à janela, observando os faróis dos carros refletirem nas ruas molhadas. Em uma das mãos, segurava um copo de uísque — não pelo gosto, mas pela sensação morna de controle que trazia. Tentava, com todas as forças, manter Sophie fora da mente.

  Não estava conseguindo.

  E foi nesse instante que ouviu batidas leves na porta.

  — Pode entrar — disse, sem virar, sem fazer ideia de quem poderia estar querendo falar com ele naquela hora da noite.

  A porta se abriu devagar, e por um segundo, ele achou que fosse o seu assistente, ou talvez alguém do jurídico. Mas quando ouviu o som dos passos — leves, quase hesitantes — virou-se.

  E ali estava ela. Sophie.

  Usava um vestido simples e um sobretudo claro, os cabelos meio soltos, levemente bagunçados pela chuva fina. Estava com as bochechas coradas e o olhar perdido. Ou talvez confuso. Ou ambos.

  O coração dele bateu forte, como se o sangue tivesse acabado de acordar nas veias.

  — Sophie? — a voz dele saiu mais rouca do que gostaria. — Está procurando o Liam? Ele já foi. 

  Ela hesitou. O olhar dela percorreu a sala antes de se fixar no dele.

  — Não. Eu vim procurar você.

  James ficou em silêncio por um segundo. Respirou fundo, lutando com todas as forças contra o que sentia, contra o que queria.

  — Me procurar? — repetiu, tentando soar impassível. — Por quê?

  Ela deu um passo para dentro. Depois outro. E fechou a porta atrás de si com cuidado.

  — Eu... precisava esclarecer algumas coisas. Não queria deixar as coisas...  — disse, com a voz baixa. — Aquela noite... no jardim... eu...

  — Não. — Ele ergueu a mão, firme, mas não agressivo. — Por favor, não esclareça nada. Eu entendi. Tudo.

  Ela franziu levemente a testa. Os olhos claros brilharam com o reflexo da lâmpada sobre a mesa.

  — Mas você não...

  — Sophie — ele a interrompeu, suavemente. — Eu já esqueci, tá bem? Já deixei aquilo para trás. E você deveria fazer o mesmo.

  Mentia. Cada palavra era um fio que se partia por dentro. Mas era necessário. Era certo. Ou, ao menos, era o mais próximo de certo que conseguia ser naquele caos.

  Ela o encarou por alguns segundos que pareceram horas. Os olhos dela não carregavam raiva — mas uma tristeza calma, cortante, que doía mais do que qualquer acusação.

  — Desculpa — ela disse, por fim, em voz baixa.

  James assentiu. Engoliu em seco.

  — Vá embora, Sophie. Antes que alguém te veja aqui e tirem conclusões que... não podemos permitir.

  Ela não respondeu. Apenas assentiu devagar, com um nó no olhar, e saiu, fechando a porta com a mesma leveza com que entrara.

  James ficou parado, sem se mover, por um longo tempo. O copo de uísque em sua mão tremia levemente. Ele o pousou sobre a mesa e se sentou, apoiando os cotovelos nos joelhos, as mãos entrelaçadas na frente do rosto.

  Tudo doía. A saudade, o desejo, a impossibilidade.

  Ficou ali até o som da porta do elevador ao fundo anunciar que ela já havia partido.

  E foi só então que se permitiu sentir o que vinha segurando desde que ela abrira a porta.

  Desolação.

  A noite havia se instalado por completo quando James finalmente deixou o escritório.

  O silêncio de Manhattan, quebrado apenas por buzinas distantes e o som intermitente da chuva leve, o acompanhou até o carro. Ele dirigiu em silêncio pelas ruas molhadas, observando os reflexos das luzes da cidade se esticarem pelo asfalto como se também buscassem algo que não podiam alcançar.

  Chegou ao prédio onde morava — uma construção elegante de vidro e concreto, erguida na parte alta do Upper West Side — e subiu direto para a cobertura, onde a vista se abria para um horizonte de prédios iluminados e o traço escuro do Central Park.

  O apartamento estava silencioso. Sofás de linho claro, chão de madeira escura, obras de arte discretas e poucos objetos pessoais. Tudo ali era organizado, funcional — como ele próprio sempre tentou ser. Mas naquela noite, mesmo a elegância calculada do lugar parecia fria demais.

  James largou a chave sobre o aparador e andou até a sala, os passos ecoando sobre o chão polido. Sentou-se no sofá, desabotoando o colarinho da camisa, e ficou ali, em silêncio, sentindo o peso da noite em seus ombros.

  Sophie havia estado tão perto — e mesmo assim, tão inalcançável.

  Ele apoiou a cabeça nas mãos e fechou os olhos, revendo cada detalhe do encontro que acabara de acontecer. O som da voz dela. A hesitação nos olhos. A tristeza nas palavras contidas.

  Talvez ele tivesse sido duro demais. Talvez devesse tê-la deixado explicar. Ou não. O que ela diria? Que sentia muito? Que o beijo significou alguma coisa — ou que não significou nada? Haveria alguma resposta que o deixasse menos arrasado do que já estava?

  James se levantou e foi até a enorme janela da sala. Olhou a cidade lá embaixo, seus pensamentos embaralhados. Tentou se convencer de que aquilo passaria. Que com o tempo, Sophie se tornaria apenas mais um nome em sua memória. Mais uma história não vivida. Ele sempre soube lidar com perdas, com decisões difíceis. Com limites.

  Mas havia algo nela que o desarmava por completo.

  E, ainda assim, ali estava ele — sozinho, olhando para o vazio da noite, tentando se agarrar a alguma razão que justificasse seguir em frente. Tentando acreditar que esqueceria. Que era capaz de esquecer.

   Com esse pensamento — ainda que frágil e duvidoso — ele caminhou até o quarto, se despiu lentamente e deitou-se. O teto parecia mais distante naquela noite. A respiração demorou a encontrar um ritmo tranquilo.

  Mas, por fim, o cansaço venceu. E James adormeceu, com o nome de Sophie grudado em sua mente, como se fosse a única coisa que ainda fizesse sentido naquele momento, na sua vida. 

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