Gabriela nasceu e foi criada no alto do morro, cercada por vizinhos que viraram família. Perdida no parto, sua mãe partiu antes mesmo de vê-la nascer, e o pai… esse ela nunca conheceu. Foi a avó materna que a criou com amor, força e fé, mesmo em meio às dificuldades. Com o tempo, Gabriela se transformou em uma mulher linda, desejada por muitos, mas dona de um coração que escolheu amar apenas um: Julio, mais conhecido no morro como Guga. Na época, ele era só um vapor sonhador, e os dois viveram um romance intenso e verdadeiro. Namoraram, foram morar juntos, fizeram planos… mas tudo mudou quando o poder bateu à porta. Depois de subir no corre e virar o dono do morro, o Terror mudou. O amor virou controle, o cuidado virou prisão. Gabriela passou a viver trancada em casa, isolada, vigiada, proibida de ter amigas ou sequer respirar em paz. E, pra piorar, as traições se tornaram rotina, assim como os gritos, as humilhações e o medo. O que antes era amor, virou inferno. Mas o destino resolveu mexer no jogo quando Tiago, o subchefe do morro, conhecido como TH, cruzou o caminho de Gabriela. Bastou um olhar e ele soube: aquela mulher não merecia viver em cativeiro. E mesmo sabendo o risco de se meter com a fiel do seu temido chefe, TH não conseguiu se afastar. Agora, Gabriela está dividida entre o medo e a esperança. Será que Tiago vai ser sua salvação ou só vai colocar ainda mais fogo no caos?
Ler maisCapítulo 1
GABRIELA NARRANDO Eu sou a Gabriela, tenho 21 anos. Fui criada pela minha avó materna, a única família que conheci de verdade. Minha mãe morreu no parto… e sobre meu pai, ninguém nunca me contou nada. Até que um dia, escondida atrás da porta, ouvi minha avó conversando com a vizinha. Elas falavam baixo, mas eu escutei: meu pai era casado… e traficante. Desde então, tentei arrancar alguma coisa da minha avó, mas ela sempre fugia do assunto como quem foge do diabo. Com 16 anos, larguei os estudos pra trabalhar e ajudar em casa. Consegui um emprego de garçonete numa lanchonete do shopping e foi lá que conheci Lucas. Ele ficou encantado comigo, ele dizia que eu tinha um rosto angelical e um corpo de parar o trânsito. Me ofereceu um trabalho como modelo fotográfica. No começo, recusei. Mas quando vi o valor do cachê… aceitei. O dinheiro mudou nossas vidas. Consegui manter a casa, pagar o tratamento da minha vó, que tava lutando contra um câncer, e ainda comprei uma casa maior. Eu tava conseguindo dar conforto pra ela, e isso me dava força pra continuar. Minha melhor amiga se chama Mayra. Foi criada comigo, tipo uma irmã. Um dia, ela me convenceu a ir num pagode e lá eu conheci Guga, conhecido como Terror. Bastou um olhar. O coração disparou. Trocamos números, começamos a conversar… e em pouco tempo, a gente tava namorando. Naquela época, Guga era só um vapor, um cara do corre, mas bom de coração. Fazia tudo por mim. Quando minha vó faleceu, fui morar com ele. Uns meses depois, teve uma invasão no morro. O dono e o sub foram mortos. Guga era o braço direito, tava na linha de frente, e acabou assumindo o comando. Mas junto com o poder… veio a mudança. Guga virou outro homem. Ciumento, possessivo, paranoico. Me proibiu de trabalhar, de sair, de ter amigas. Comprou a melhor casa do alto do morro, cercou com muros altos, colocou seis seguranças… e me prendeu lá dentro. Eu virei prisioneira do homem que eu amava. Hoje o dia amanheceu ensolarado. Lindo. Caminhei até a sacada do quarto e olhei pro morro, tentando entender em que momento eu perdi o controle da minha vida. As lágrimas vieram sem pedir licença. Foi quando ele entrou. — Tá chorando de novo, Gabriela? Já falei que não gosto de te ver choramingando por aí — ele disse, com aquela cara de mal que me dá arrepios. — Quando eu vou poder sair de casa, Guga? Eu não aguento mais ficar trancada aqui. Eu vou enlouquecer… — Tu não vai pra porra de lugar nenhum! Tu é minha mulher e vai ficar aqui, caralh*! Todo dia tenho que repetir isso pra tu? — Onde foi que eu errei, hein? Eu nunca te fiz mal nenhum! Sempre te amei, sempre estive do teu lado… e você me tranca, me trai, me destrói! — gritei, chorando. — É melhor tu calar a boca, Gabriela… senão eu acabo quebrando tua cara logo cedo. Ele saiu batendo a porta. E eu… fiquei ali. Chorando. Me sentindo morta por dentro. Às vezes, acho que morrer seria mais fácil. Depois que o Julio saiu de casa batendo a porta, o silêncio ficou ensurdecedor. Me arrastei até a cozinha, coloquei a água pra ferver e preparei um café. Cortei um pedaço de cuca que tinha sobrado de ontem e comi devagar, tentando empurrar a angústia junto com cada mordida. Terminei o café e, como sempre, comecei a rotina de limpar a casa. Lavei o chão, passei pano nos móveis, recolhi a roupa do varal, botei outra pra bater. Quando deu meio-dia, fiz arroz, feijão, ovo frito e salada… e sentei sozinha à mesa, como todos os dias. O Julio quase nunca vem almoçar. Ele prefere comer na casa das amantes, onde não precisa olhar na minha cara. Lavei meu prato, guardei a comida, e fui direto pro quarto. Me joguei na sacada e fiquei ali… observando o morro aceso lá embaixo, com as luzes dos barracos, os sons da quebrada e o céu pintado de laranja e roxo. Era bonito… mas parecia um presídio disfarçado. Fiquei pensando em tudo que larguei por ele. Minha vida, meu trabalho, minha liberdade. Larguei a casa que comprei com o dinheiro das fotos, larguei minha amiga Mayra, a única pessoa que se importava comigo. Hoje, vivo trancada, sem celular, sem rede social, sem ninguém pra sentir a minha falta… nem mesmo eu me reconheço mais. Mas hoje… alguma coisa dentro de mim acordou. Eu preciso sair daqui. Fugir. Viver. Recomeçar. Lembrei que ainda tenho um dinheiro guardado na minha conta. Grana que juntei na época que modelava. Dá pra eu me virar por um tempo. Só preciso encontrar uma brecha. Uma chance. Fui pro banho e deixei a água escorrer no meu corpo como se pudesse levar embora o medo. Quando saí, vesti uma legging preta, um cropped soltinho e prendi o cabelo num rabo de cavalo. Calcei um tênis branco, simples, silencioso. O céu já tava escuro… e o Terror ainda não tinha voltado. Sabia que era agora ou nunca. Peguei uma mochila e coloquei duas mudas de roupa, minha nécessaire com escova, desodorante e o pouco de maquiagem que ainda me restava. Fui até o cofre dele, que eu conhecia a senha de cor, e retirei um bolo de dinheiro. Enfiei tudo na mochila com as mãos tremendo. O coração parecia que ia sair pela boca, mas a coragem empurrava meu corpo. Fui até a porta dos fundos, onde a câmera não pegava direito, e observei o comportamento dos vapores da segurança. Estavam distraídos, conversando entre si. Um deles mexia no celular. O outro tava fumando. Era agora. Abri a porta devagar, o mínimo possível pra não fazer barulho. Desci a escada por dentro, usando as sombras da lateral da casa, e segui pelo beco estreito que dava pra viela dos fundos. Caminhei sem olhar pra trás, com o peito explodindo de medo, mas com a certeza de que nunca mais queria voltar. Desci devagar pro primeiro andar, com o coração batendo tão alto que parecia que os vapores lá fora iam escutar. Fui até a cozinha, respirei fundo e segui até a porta dos fundos. Abri com cuidado, em silêncio, só o bastante pra passar. O ar da noite me deu um arrepio, mas eu nem sabia se era de frio ou de medo. Fui até o fundo do quintal e arrastei uma cadeira até o muro dos fundos — o único lugar sem câmera. Me apoiei nela e me estiquei toda pra olhar por cima. Vi dois vapores do Julio parados perto da entrada principal, conversando e rindo baixo, provavelmente distraídos com alguma besteira. Fiquei ali observando, parada, esperando a hora certa. Minhas mãos tremiam tanto que precisei respirar fundo umas três vezes. Quando percebi que os dois estavam indo pra frente da casa, me movi. Apoiei o pé no encosto da cadeira, segurei firme no topo do muro e me empurrei com força. Pulei. O impacto foi seco, o chão duro e irregular. Um dos meus pés virou na hora, e senti uma dor aguda subir pela perna. — Ah, merda… — sussurrei, mordendo os lábios pra não gritar. Mesmo com a dor latejando, eu não podia parar. Era agora ou nunca. Levantei mancando, sentindo o tornozelo pulsar, e corri do jeito que dava, apoiando mais num pé do que no outro. Me embrenhei no mato que ficava atrás do morro, sem olhar pra trás. Os galhos arranhavam meus braços, minha blusa enroscava em tudo, mas eu só pensava em uma coisa: liberdade. O mundo parecia girar, e a respiração vinha curta. Mas eu segui. Correndo. Fugindo. Sobrevivendo.Capítulo 8GABRIELA NARRANDO Terminamos o beijo por falta de ar. O Tiago me deu mais um selinho e ficou me encarando.— Me desculpa, Gabriela. Eu sei que não devia ter feito isso, mas desde que te vi naquele bosque tu não sai da minha cabeça. E eu não sei o que fazer. Tá ligado que tu é mulher do meu chefe e eu te devo respeito.Respirei fundo e respondi:— De boa, Tiago. Tu não me beijou sozinha; eu também quis. Vamos esquecer o que aconteceu e, se um dia eu me livrar do Guga, a gente conversa sobre isso de novo.Ele assentiu com a cabeça, sentou ao meu lado e ficou ali comigo até eu pegar no sono. Eu não posso negar: ele é lindo… e beija muito bem.Acordei com uma enfermeira tirando meu sangue — o Tiago já não estava no quarto.— Bom dia. Como tá se sentindo?— Tô melhor. Pra que isso? — perguntei sobre o sangue.— Só controle. O médico já vem e deve te dar alta. — disse, saindo.Logo o médico entrou, me deu alta e receitou uns remédios. Saí do quarto e vi um vapor que trabalha pro
Capítulo 7GABRIELA NARRANDOQuando o Tiago saiu do quarto, não deu nem cinco minutos e o Júlio entrou batendo a porta. Ele me encarou e falou:— E aí, Gabriela, tá ficando maluca, pô? Pra que tu fez isso, mano? — ele se aproximava de mim.— Por que você não me deixou morrer de uma vez? Você só me faz sofrer… me bate, me humilha e me abusa. — falei, chorando.— Tá maluca, porra? Que mané abuso, tu é minha mulher e tem que tá disposta a hora que eu quiser. — ele falou. Uma lágrima escorreu dos meus olhos. Resolvi não bater boca porque não tava a fim de apanhar mais.— Eu trouxe uma roupa pra tu se trocar. — ele disse, deixando a sacola de roupas na cadeira ao meu lado.— Eu tô sabendo que tu já tá bem. O médico disse que tu vai passar a noite aí em observação. Vou deixar um vapor na porta: se tu precisar de alguma coisa ou se tentar fugir, a ordem é pra ele meter bala em tu, tá ligada?Eu só concordei com a cabeça, sem responder nada.Fui pro banheiro, me troquei. Quando voltei, uma en
Capítulo 6GUGA NARRANDOPassei a tarde na boca trampando, até que um neguinho chegou e me contou umas paradas.— Aí, chefe, eu não gosto de ficar explanando, irmão, mas acho que tu deve saber de uma coisa. — falou ele, me encarando enquanto eu fumava um breu.— Passa logo a visão, pô. — respondi soltando a fumaça.— Vieram me falar que o Th anda perguntando sobre a tua dona. Se eu fosse tu, ficava esperto. — ele falou baixo.— Vou ficar. — respondi seco.Um ódio subiu em mim na hora. O que ele quer saber da minha mina? Filho da puta… só falta querer se meter na minha vida agora. Eu o considero demais, mas se ele se meter com a Gabriela eu não penso duas vezes em acabar com a raça dele.Passei o resto da tarde me drogando na boca; bebi demais, me droguei demais. Nem lembro como cheguei em casa. Tava com muito ódio da Gabriela. Quando cheguei, dei de cara com ela de pijama minúsculo e meu pau subiu na hora — peguei ela de jeito e depois mandei ela vazar.Acordei quase oito da manhã, ti
CAPÍTULO 5TH NARRANDOPeguei minha moto e fui pro Morro do Alemão. Chegando lá os vapor já liberaram minha entrada; subi até o alto, na casa dos meus tios. Cumprimentei os vapor da segurança, entrei e já encontrei minha tia e a Vitória na sala.— Que bom que veio nos visitar, meu filho. Eu já estava morrendo de saudades suas — minha tia falou me dando um abraço, e eu retribuí.— Os dias têm sido bem corridos, tô sem tempo, muitos BO pra resolver. — falei, indo abraçar a Vitória.— E aí, pirralha, de boa? — perguntei abraçando ela.— Pirralha é o seu nariz, me respeita que já sou mulher. — ela respondeu brava; eu dei risada da cara que ela fez.— O tio tá aí? — perguntei e minha tia respondeu:— Ele acabou de chegar, tá no escritório. Tu vai jantar com a gente, né? — perguntou toda animada.— Sim, e vou dormir aqui hoje. Agora vou lá trocar uma ideia com o Alemão. — falei, indo pro escritório. Bati na porta e ele mandou entrar.— Boa noite. — falei, entrando no escritório; ele tava se
Capítulo 4GABRIELA – NARRANDOEu corri tanto que já nem sabia pra onde tava indo. O mato era fechado, escuro, e meu corpo tremia inteiro. Eu tava exausta, com o pé latejando, perdida no meio do nada… E naquele momento, eu já nem sabia o que era pior: o Julio me encontrar ou eu morrer ali sozinha.Me encostei numa árvore, me encolhi no chão abraçando as pernas e deixei o choro vir. Não tinha mais forças pra segurar. Foi quando ouvi um barulho. Um rosnado.Levantei o olhar e vi um pitbull enorme vindo na minha direção, latindo alto, os olhos cheios de ódio. Naquele momento eu soube... era o meu fim.Fechei os olhos e pedi baixinho:— Senhor… tem piedade de mim…O latido ficou mais próximo, mais alto… até que BUM! Um tiro ecoou e o silêncio tomou conta.Abri os olhos no susto. O cachorro caiu bem na minha frente, morto. Olhei em volta, assustada, e vi um homem saindo de trás de mim com uma arma ainda quente na mão. Ele parou na minha frente e me encarou.— Tu tá bem, mina?— Acho que si
Capítulo 3THIAGO (TH) – NARRANDOEu já tava no meu barraco, de boa, pronto pra descansar, quando um vapor me chamou no radinho, com a voz aflita:— Chefe, o Terror tá quebrando tudo lá na casa dele, mano… matou dois vapores da segurança agora pouco.Levantei na hora. O Terror já era explosivo, mas matar dois dos seus próprios vapor? Alguma merda muito séria tinha acontecido. Subi o morro o mais rápido que pude.Cheguei na frente da casa dele e a cena parecia um filme de guerra: os dois corpos no chão, sangue escorrendo na calçada, a porta arregaçada e ele ali no meio da loucura, com a arma na mão e o olho virado.— Tá maluco, Terror?! Que porra é essa, mano?! — falei, já puxando a arma da mão dele.— Eu vou matar todo mundo! Como é que eles deixaram ela fugir?! Tô te falando, mano… alguém ajudou! Não tem como ela ter saído sozinha! — ele gritava, fora de si, cuspindo raiva.— Quem, caralho?! Quem fugiu, mano?! Não tô entendendo nada!— Minha mina. A Gabriela. Ela sumiu! Bota geral at
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