Capítulo 2
GUGA – NARRANDO Sempre fui apaixonado pela Gabriela. No começo, fui o melhor cara do mundo pra ela. Mas quando assumi o morro, tudo mudou. Ela se tornou meu ponto fraco… e eu não podia me dar esse luxo. Hoje, mantenho ela presa porque tenho medo. Medo dela me deixar, fugir… e me abandonar. Sei que fiz tudo errado. Sei que ela não me ama mais. Mas o que eu sinto por ela não mudou. E se um dia ela sair daqui… vai ser por cima do meu corpo morto. Levantei, fui pro banheiro tomar uma ducha. Antes, parei e fiquei só olhando ela dormir. Linda… parecia uma pintura. E mesmo me odiando, ainda era a mulher da minha vida. Terminei o banho, botei uma roupa confortável e quando saí do banheiro, peguei ela chorando de novo. Já saí no estresse. Fui pra rua sem nem comer. Na boca, encontrei Tiago, meu sub, contando dinheiro. — E aí, de boa? — perguntei. — De boa. Mas essa tua cara aí... parece que acordou com pesadelo — ele riu. — Problema em casa, me estressei logo cedo — respondi. Tiago me olhou com aquele jeito de quem já sabe da metade e quer a outra. — Sei que tu é na tua… mas tem dias que quero te perguntar uma parada. — Fala logo, porra. — Ouvi uns vapor dizendo que tu tem uma fiel morando contigo. Isso é verdade? Tô aqui há dois anos e nunca vi essa mina. — Esse povo fala demais, mano — retruquei, já meio irritado. — Tá, mas tu não respondeu. — Tenho sim. Mas ela não gosta de sair de casa. E pra ser sincero, prefiro que continue assim. Ele ergueu uma sobrancelha, sem falar nada. Mas o olhar dizia tudo. — Bora trabalhar — cortei o papo. O dia seguiu. Resolvi uma porrada de coisa. Quando deu sete da noite, fui pra casa de uma das amantes e fiquei por lá mesmo. O dia foi corrido. Resolvi uma porrada de coisa na boca, fechei conta, despachei uns recado e dei o papo reto em quem tava moscando no corre. Quando deu umas sete da noite, colei na casa de uma das amantes. Uma das piranhas que eu pego só pra descarregar o estresse. Depois de meter, acabei cochilando. Quando acordei, já era tarde. Me vesti às pressas, coração acelerado. Por mais que eu dê meus perdidos por aí, é com a Gabriela que eu gosto de dormir e acordar. Só ela. Sempre foi ela. Voltei pro meu barraco, cumprimentei os vapor da entrada com um aceno rápido e entrei chamando por ela: — Gabriela?! Ô, amor… tô em casa. Nada. Nenhuma resposta. “Deve tá dormindo”, pensei. Fui pro quarto, tirei a roupa e entrei no banho. A água quente desceu nas costas, mas não aliviou o peso que eu tava sentindo no peito. Quando saí do banheiro, fui direto pra cama… e foi aí que me dei conta: ela não tava ali. — Gabriela? — chamei mais alto, já sentindo o estômago revirar. Peguei uma cueca, uma bermuda, e saí rodando a casa inteira. Sala, cozinha, varanda, até o quarto de hóspedes. Nada. NENHUM SINAL DELA. O sangue ferveu. Chamei os dois vapor da segurança na hora. — ALGUM DE VOCÊS VIU ELA SAIR?! — N-não, chefe… a gente ficou aqui o tempo todo. Ela não passou, juro… — respondeu um, gaguejando. Meu mundo virou de cabeça pra baixo. Como ela tinha fugido? Como, caralh, ela saiu daquela casa vigiada, murada, trancada por dentro e por fora?!* Sempre cuidei pra não ter nem empregada ali. Ninguém entrava. Ninguém saía. Só eu e ela. E mesmo assim, ela fugiu. Comecei a quebrar tudo. Chutei mesa, virei sofá, taquei o vaso na parede, esmaguei o espelho com o punho. Eu tava cego. Tomado pela raiva, pela dor, pela sensação de impotência. Ela me deixou. E o pior... me enganou na minha cara. Saí pra fora com o coração na garganta e a arma na mão. Olhei pros dois vapor que tavam na frente da casa e sem pensar… BUM. Um tiro na testa de cada. Caiu um. Caiu o outro. Ia puxar o próximo quando TH apareceu correndo e segurou meu braço com força. — JÁ DEU, GUGA! SEGURA A BRONCA, MANO! — ELA FUGIU, CARALH*! ELES DEIXARAM ELA FUGIR! — gritei, rangendo os dentes, tremendo da cabeça aos pés. — Vai resolver matando meio mundo? Acorda, porra! Respira, pensa, reage certo! — ele falou firme, me encarando nos olhos. Mas eu só via sangue. Ela era minha. Minha mulher. Meu ponto fraco. E agora... minha maior dor.