6- GUGA

Capítulo 6

GUGA NARRANDO

Passei a tarde na boca trampando, até que um neguinho chegou e me contou umas paradas.

— Aí, chefe, eu não gosto de ficar explanando, irmão, mas acho que tu deve saber de uma coisa. — falou ele, me encarando enquanto eu fumava um breu.

— Passa logo a visão, pô. — respondi soltando a fumaça.

— Vieram me falar que o Th anda perguntando sobre a tua dona. Se eu fosse tu, ficava esperto. — ele falou baixo.

— Vou ficar. — respondi seco.

Um ódio subiu em mim na hora. O que ele quer saber da minha mina? Filho da puta… só falta querer se meter na minha vida agora. Eu o considero demais, mas se ele se meter com a Gabriela eu não penso duas vezes em acabar com a raça dele.

Passei o resto da tarde me drogando na boca; bebi demais, me droguei demais. Nem lembro como cheguei em casa. Tava com muito ódio da Gabriela. Quando cheguei, dei de cara com ela de pijama minúsculo e meu pau subiu na hora — peguei ela de jeito e depois mandei ela vazar.

Acordei quase oito da manhã, tinha dormido no sofá — que merda. Subi pro quarto e a porta tava trancada. Comecei a bater e chamar a Gabriela e nada. Aí arrombei a porta: ela tava dormindo estranhamente quieta. Sacudi ela pra acordar pra fazer o café, mas ela não respondia. Vi que tava pálida, gelada. Olhei no chão e vi quatro cartelas de comprimido. Peguei as cartelas e botei no bolso, e entrei em choque. Será que ela tomou tudo aquilo?

Ela tava só de roupão. Peguei ela no colo do jeito que tava, mandei um vapor dirigir e fomos pro postinho. Chegando lá entrei gritando; atenderam ela rápido e a levaram pra dentro. Entreguei as cartelas pro médico e fiquei na recepção esperando, com uma culpa enorme. Posso não ser o melhor marido, mas eu a amo demais.

Duas horas depois, quando fui atrás de notícias, o médico veio falar comigo.

— Bom dia, senhor Guga. A senhora Gabriela vai ficar bem — disse ele. — Fizemos lavagem estomacal. Ela vai ter que ficar até amanhã em repouso, tomando medicação na veia. Mas aconselho procurar ajuda psicológica; se ela tentou se matar uma vez, pode tentar de novo — explicou.

Balancei a cabeça em concordância. Melhor eu levá-la a um psicólogo? Talvez. Pra contar que eu a prendo em casa? Jamais.

— Posso ir vê-la? — perguntei.

— Pode sim. — o doutor respondeu e me levou até a sala onde ela estava.

Fiquei observando ela dormir; parecia até um anjo. Passei a manhã toda ali, e ela não acordava. Quando deu meio-dia mandei um vapor ficar de campana na porta até ela despertar. Precisava tomar banho e trazer roupa pra ela; pedi que me avisassem quando ela abrisse os olhos.

TH NARRANDO

Eu já tava voltando pro morro quando o Franjinha me ligou.

📱

Franjinha: E aí, patrão.

Th: Fala, Franjinha, de boa?

Franjinha: A mina do Guga tá internada desde cedo. Ele me mandou ficar na porta de campana.

Th: Mas o que deu nela? — falei preocupado.

Franjinha: Ele disse que foi congestão, mas eu consegui uma informação com uma enfermeira amiga da minha irmã: a mina tentou se matar, tomou muito remédio. E, na real, dá dó ver ela — o rosto tá machucado, inchado, com certeza ele bateu nela. Só tô te passando porque tu me pediu pra ficar de olho.

Th: Fez bem. Já to chegando aí.

Desliguei e fiquei puto. Como o cara tem coragem de bater numa mina? Voltei voando pro morro e fui direto pro postinho. Encontrei o Franjinha do lado de fora.

— Fica lá fora e me chama se tu ver o Guga chegando, certo? Vou trocar ideia com a mina. — pedi.

— Pode deixar. — ele falou e foi pro lado de fora.

Entrei no quarto e ver ela naquele estado me deu uma tristeza do caralho. Tava pálida, com corte no canto da boca, um lado do rosto inchado. Só de roupão, com ele aberto; vi as coxas dela, perfeitas. Essa mina só pode ter sido desenhada por Deus.

Ela abriu os olhos com dificuldade e me encarou.

— Oi, como tu tá? — perguntei, passando a mão no rosto dela.

Ela se ajeitou na maca, se cobriu com o lençol e respondeu com voz trêmula:

— Oi… eu tô bem. Mas preferia ter morrido. — falou com cara de quem ia chorar.

— Por que tu fala isso, mina? Tu é linda, jovem, tem a vida inteira pela frente. — falei.

— Que vida? Se eu sou obrigada a ficar trancada com uma pessoa que só me faz mal… — ela começou a chorar.

— Ele te bateu? — perguntei.

— Sim. Ele chegou drogado e me agrediu. — quando ela falou isso, deu uma vontade enorme de matar o Guga.

— Tu não tem ninguém da família aqui? — perguntei.

— Não. Só tinha a minha vó, e ela morreu. — respondeu, triste. Na hora, tive certeza: é a tal garota que meu tio anda procurando.

— Como se chamava sua avó? — perguntei.

— Dona Dita. Ela era muito querida e me criou com amor. — falou.

— E os seus pais? — insisti.

— Minha mãe morreu no parto. O meu pai eu nunca conheci; só sei que era casado. — contou.

— Aguenta mais uns dias. Eu vou dar um jeito de te tirar daquela casa. — encarei ela nos olhos. — Confia em mim. Eu vou tentar manter ele ocupado esses dias até bolar um plano.

Ela concordou com a cabeça. Nessa hora meu rádio tocou — sabia que era o Guga chegando.

— Preciso ir. Não esquece do que a gente conversou. O Guga tá vindo. — dei um beijo no rosto dela.

— Obrigada. — ela murmurou.

Saí pela porta dos fundos, peguei minha moto e vazei pro meu canto. Tenho que bolar um plano pra tirar ela daqui. Se esse homem continuar assim, vai acabar matando ela. E se ela for mesmo a filha do meu tio, eu tenho que falar com ele sobre isso.

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