4- GUGA

Capítulo 4

GABRIELA – NARRANDO

Eu corri tanto que já nem sabia pra onde tava indo. O mato era fechado, escuro, e meu corpo tremia inteiro. Eu tava exausta, com o pé latejando, perdida no meio do nada… E naquele momento, eu já nem sabia o que era pior: o Julio me encontrar ou eu morrer ali sozinha.

Me encostei numa árvore, me encolhi no chão abraçando as pernas e deixei o choro vir. Não tinha mais forças pra segurar. Foi quando ouvi um barulho. Um rosnado.

Levantei o olhar e vi um pitbull enorme vindo na minha direção, latindo alto, os olhos cheios de ódio. Naquele momento eu soube... era o meu fim.

Fechei os olhos e pedi baixinho:

— Senhor… tem piedade de mim…

O latido ficou mais próximo, mais alto… até que BUM! Um tiro ecoou e o silêncio tomou conta.

Abri os olhos no susto. O cachorro caiu bem na minha frente, morto. Olhei em volta, assustada, e vi um homem saindo de trás de mim com uma arma ainda quente na mão. Ele parou na minha frente e me encarou.

— Tu tá bem, mina?

— Acho que sim… muito obrigada — falei ainda sem acreditar, encarando os olhos dele, que brilhavam na penumbra. Lindos, intensos.

— Vem, preciso te tirar daqui agora. A gente já tá quase em outro morro, e com esse tiro eles devem estar vindo. E, pro nosso azar, são inimigos nossos.

Ele pegou na minha mão e me puxou. Eu travei.

— Calma aí! Você pensa que tá me levando pra onde? E quem é você, tá maluco?

Ele parou, virou pra mim com seriedade.

— Eu sou o sub do morro. O teu marido tá maluco atrás de ti, botou geral pra procurar. Eu tô te ajudando, se tu quiser ficar aqui, fica. Mas te garanto que se os caras te pegarem… tu não vai sair inteira. E nem imagina o que eles fazem com uma mina linda igual tu.

As palavras dele me deixaram desconfortável, mas eu sabia que ele tava falando a verdade. Respirei fundo e fui com ele.

A gente corria pelo mato, ele segurando minha mão, e eu mancando de dor. Até que eu parei e comecei a chorar.

— Por que parou? — ele perguntou, preocupado.

— Eu não aguento mais… meu pé tá doendo muito.

Ele se abaixou, olhou meu pé e arregalou os olhos.

— Puta merda… tá inchado. Isso aqui vai virar uma bola se não cuidar.

De repente, ouvimos vozes. Ele fez sinal pra eu ficar em silêncio e me puxou com ele. Descemos até um pequeno rio, com um barranco de terra. Entramos na água fria e ficamos ali, encostados. Ele me abraçou, pressionando meu corpo no dele, e tampou minha boca.

As lanternas começaram a iluminar o rio. Eu tremia de medo. E então a gente ouviu:

— Chefe, não tem ninguém aqui não.

— Descobre quem matou meu cachorro. Eu mesmo vou torturar o desgraçado — disse uma voz grave.

Eu arregalei os olhos, assustada. Aquele cara queria matar ele por minha causa.

— Chefe, meu informante disse que o Terror tá maluco, colocou geral atrás da fiel que fugiu e tá se drogando na boca. Acho que agora seria uma boa hora pra gente invadir.

— Descobre se a mina saiu do morro. Se tiver fora, eu quero ela aqui. Ainda não é hora de invadir… mas logo, esse morro também vai ser nosso.

Nesse momento, me agarrei nele num impulso. Ele me abraçou forte e sussurrou:

— Fica suave. Eu não vou deixar nada acontecer contigo.

Eu apenas assenti, com os olhos marejados. Depois de um tempo, ele olhou e disse que dava pra sair do rio. Me ajudou a subir o barranco. A dor no meu pé aumentava.

— Tu consegue caminhar?

— Sim… mas devagar, por favor.

Depois de mais um tempo andando, pedi:

— Por favor… posso parar um pouco? Meu pé tá me matando.

— Claro. Vamos sentar ali — ele apontou pra uma árvore próxima.

Nos sentamos. Ele olhou meu pé com cuidado.

— Tá feio. Quando a gente chegar no morro, tu precisa ir no postinho.

— Acho difícil ele deixar… — falei triste.

Ele me olhou sério.

— Fala a real… o que tá pegando entre vocês pra tu fugir assim?

— Eu nem te conheço pra ficar abrindo minha vida. Vai que tu conta tudo pra ele e eu me ferro depois.

— Tu pode confiar em mim. Sou sujeito homem. O que tu me disser fica aqui. Minha palavra não faz curva.

E não sei por quê… mas eu acreditei. Fazia tanto tempo que eu não falava com ninguém. Então, contei.

— Conheci o Julio quando ele era vapor. Foi meu primeiro e único namorado. Trabalhava como modelo no asfalto, morava com minha vó. Depois que ele assumiu o morro e minha vó morreu, fui morar com ele. No começo, tudo era lindo… até ele começar a chegar drogado em casa, me proibir de trabalhar. Quando tentei terminar, ele não aceitou. Desde então, me prende naquela casa. Sem celular. Sem ninguém. E eu sei… se tu me entregar de volta, ele vai me matar ou me espancar até eu desmaiar.

Falei chorando. Vi o semblante dele mudar na hora.

— Eu vou ver o que posso fazer pra te ajudar. Não te prometo nada, mas… vou tentar.

Ele respirou fundo.

— Meu nome é Tiago. Mas pode me chamar de TH. E o teu?

— Gabriela. E… obrigada, Tiago. Se eu continuar viva até amanhã, vou te agradecer pra sempre.

— Bora… a gente já tá quase chegando.

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