Ela tem tudo. Ele perdeu tudo. Luanna é uma estudante de medicina com um futuro promissor. João Miguel sobrevive nas ruas após tragédias e vícios destruírem sua vida. Dois mundos que jamais deveriam se cruzar... Mas o destino não segue regras. O que começa com compaixão se transforma em um amor intenso, capaz de curar feridas profundas. Ela acredita nele. Ele quer mudar por ela. Mas a realidade é cruel — e eles se separam. Oito anos depois, tudo se inverteu. Ele reconstruiu sua vida. Ela perdeu tudo. Agora, o reencontro coloca à prova sentimentos que nunca morreram. Será que o amor sobrevive ao tempo, à dor... e às escolhas?
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8 anos atrás…
Aos 18 anos, eu tinha todo o meu futuro planejado. Minhas metas estavam traçadas, havia muitos sonhos a realizar e um caminho brilhante pela frente. Estava no primeiro ano da faculdade de Medicina, dando início ao maior dos meus sonhos: me tornar médica. Desde que me entendo por gente, nunca tive dúvidas sobre o que queria ser quando crescesse. Eu desejava seguir os passos dos meus pais, ambos médicos renomados no país e considerados alguns dos melhores em suas áreas.
Meu pai é oncologista, um dos mais respeitados, com o nome estampado em revistas e sites de medicina em todo o país. Ele é dono de um dos maiores e melhores hospitais particulares da cidade. Apesar de não ser exatamente uma referência como pai, como médico, ele é impecável, e eu o admiro muito por isso. Seu nome é trabalho, e seu sobrenome é dinheiro, pois toda sua vida gira em torno disso. Talvez seja exatamente por isso que ele seja tão bom no que faz. Eu o amo, mas essa admiração fica restrita à sua profissão, pois como pai, a única lembrança constante que tenho é sua ausência.
Minha mãe é ginecologista, e eu não poderia ser diferente: quero ser pediatra. Amo crianças, e acredito que uma das formas de demonstrar esse amor é cuidando da saúde delas. Cresci cercada de médicos, ouvindo sobre hospitais, doenças, exames e cirurgias. Com o tempo, desenvolvi amor e interesse pela profissão. A Medicina não está apenas no meu sangue, mas também no meu coração e na minha alma.
Apesar de meus pais serem minha referência na Medicina, a minha maior inspiração sempre foi meu avô paterno, que faleceu há alguns meses. Ele era cirurgião pediatra e não era apenas um exemplo como médico, mas também como pai, pois sempre encontrava tempo para mim quando chegava em casa, me ensinava sobre a vida, sobre pessoas e sobre ser alguém melhor. Meu avô amava crianças. Meu pai é filho único, e ele dizia que gostaria de ter tido mais filhos, mas acabou distribuindo seu amor para seus netos.
Meus brinquedos preferidos sempre foram relacionados à Medicina. Aos quinze anos, ganhei meu primeiro estetoscópio dele, e o guardo até hoje como uma joia preciosa. Sei que, em breve, o usarei nos meus primeiros plantões como médica, realizando nosso sonho compartilhado.
Quero me formar e ser uma das melhores profissionais da área no país. Quero poder me dedicar a salvar vidas, cuidar com amor e ajudar, principalmente, a nossa próxima geração a ter saúde e esperança.
Tenho dois irmãos: Lucas, o mais velho, que mora em Nova York, e Luna, a caçula. E eu sou Luana. (Sim, meus pais têm essa mania irritante de nomes combinando…)
Além da faculdade, também faço trabalho voluntário em uma ONG que abriga crianças carentes e moradores de rua. Amo estar lá. Amo cuidar das crianças, ajudá-las no banho, nas refeições e em todas as tarefas diárias. Lá existe paz e esperança, pois, mesmo com pessoas vivendo em extrema vulnerabilidade e tendo perdido tudo, ainda carregam amor, fé e compaixão. Estar ali me faz sentir bem, como se eu pudesse, de alguma forma, contribuir para ver um sorriso no rosto de alguém e tentar tornar o mundo um lugar melhor.
Conheci essa ONG por meio da minha melhor amiga, Cecília, cuja mãe é a diretora. Sempre que posso, vou ajudar, mas sem que meus pais saibam. Meu pai, principalmente, é muito preconceituoso e jamais aceitaria ver sua filha fazendo caridade. Mas, quando eu for médica, vou ajudar ainda mais, oferecendo consultas gratuitas para quem não tem recursos e depende da saúde pública.
Depois das aulas da faculdade, sempre vou direto para a ONG, e hoje não foi diferente. Ao final da aula, me despedi dos amigos e da Cecília. Ela, por estar com muita cólica e dor de cabeça, optou por ir para casa.
Caminhava distraída, mexendo no celular, quando senti alguém segurar meu braço. Levei um susto tão grande que meu coração quase saiu pela boca.
Era um homem de aparência descuidada, barba e cabelos grandes, roupas sujas e rasgadas. Seu rosto parecia machucado. Apesar do estado deplorável, percebi que ele era jovem, mas seu corpo estava marcado pela vida difícil. O cheiro forte denunciava os dias sem banho.
— Toma, moço, pode levar o que quiser… — disse, assustada, em um único suspiro, estendendo meu celular e minha bolsa.
— Calma, moça… Eu não vou te roubar. Não sou ladrão. Só queria um trocado pra comer alguma coisa… tô morrendo de fome… — ele respondeu, com a voz baixa, desviando o olhar e soltando meu braço. Deu um passo para trás, demonstrando medo.
Foi nesse momento que vi seus olhos. Eram de um azul tão intenso, mas sem brilho algum. Eram olhos tristes, que pareciam implorar por socorro.
Respirei fundo, aliviada por não se tratar de um assalto, e procurei minha carteira para lhe dar algum dinheiro. Mas, ao estender a mão, pensei em algo melhor. Algo que não lhe traria apenas uma refeição, mas também um pouco de dignidade.
— Vem comigo. Vou te levar a um lugar onde vão cuidar de você e te alimentar — disse com firmeza, estendendo minha mão. Ele me olhou, confuso e assustado, parecendo não entender nada. — Calma… Eu só quero te ajudar — completei, estendendo a mão mais uma vez.
Ele me olhou profundamente, e, com hesitação, pegou minha mão com a sua, tão suja e calejada. Apertei-a com delicadeza, tentando passar confiança, e sorri. Sem medo ou vergonha, caminhei com ele de mãos dadas pela rua, em direção à ONG.
Algumas pessoas nos olhavam com espanto, outras com nojo. Mas eu nunca me importei com status ou classe social, e hoje não seria diferente. Infelizmente, em pleno século XXI, ainda vivemos rodeados por preconceito e indiferença. São detalhes quase invisíveis para quem observa de fora, mas sentidos profundamente por quem sofre com isso todos os dias.
Confesso que me assustei com a abordagem, mas foi só o susto.
POV LUANAA semana passou como um sopro. Durante os dias úteis, sigo minha rotina à risca: nada de baladas, saídas ou distrações. Me concentro no trabalho, mergulho nas minhas pesquisas e guardo cada gota de energia para o que realmente importa... o final de semana.Da noite de sexta até o domingo, é o meu momento. É quando a Luana que se reprime durante a semana, se solta. É quando eu me visto de desejo, de liberdade... e de luxúria.E sim, eu espero ansiosamente por isso. Por uma transa daquelas de perder o fôlego, por um gozo intenso que me faça esquecer qualquer resquício de sentimentos. Me tornei viciada em sexo sem amarras... e a única regra que sigo é simples: nunca repito o mesmo homem.Naquela sexta, jantávamos em família antes de eu me arrumar para mais uma noite promissora. Mas, como sempre, Luna, minha irmã caçula, resolveu fazer cena.— Ah, mãe, deixa eu sair com as meninas hoje, vai... — ela implorou, juntando as mãos.— Já disse que não. Vocês são menores de idade, e nã
POV: MIGUELMeus pensamentos estava preso em outra época, outro lugar. O dia em que a vi pela última vez voltou como um pesadelo que eu nunca superei. Lembrei do seu choro, das palavras de mágoa, do pedido desesperado para que ficassémos juntos, do nosso último beijo e último abraço, e do o olhar decepcionado antes que eu virasse as costas e fosse embora. Eu sempre soube que aquela seria a maior perda e o maior arrependimento minha vida, mesmo depois de já ter perdido tudo.— Miguel… amor… está tudo bem? — perguntou Raíssa, me tirando bruscamente dos pensamentos.— Está sim. Só… estou um pouco cansado, foi um dia longo. — respondi, tentando disfarçar o turbilhão que me consumia por dentro.Ela continuou falando sobre a alta, sobre os remédios que precisaria tomar, mas eu já não prestava atenção. Tudo o que conseguia pensar era em como faria para vê-la novamente. Para ouvir sua voz com calma. Para descobrir tudo o que aconteceu em sua vida durante esses anos. Será que ela me odiava? Se
POV MIGUELA vida me mostrou que o mundo dá voltas. Eu sou a prova viva disso. Depois de tudo que passei, de todo sofrimento e erros que cometi, ganhei uma nova chance. Meus pais já não estão mais aqui, mas eu continuo tentando ser o filho que eles sempre admiraram. Sei que me perdir pelo caminho algumas vezes, mas depois que eu ganhei a segunda chance na vida eu não iria errar outra vez.Naquele dia, eu estava a caminho do trabalho quando recebi uma ligação da Raíssa, dizendo que estava no hospital. Fui direto pra lá. Mas ao chegar, me deparei com uma cena na recepção: uma médica discutindo com a recepcionista por causa da cirurgia de uma criança. Vi aquela mulher, tão jovem, tão linda, defendendo a senhora que chorava. Ela mandou autorizar a cirurgia sem hesitar.Fiquei preocupado. E se ela perdesse o emprego por isso? Resolvi intervir.— Eu pago. — disse, alto, atraindo todos os olhares.Quando ela virou e nossos olhos se encontraram, meu coração disparou. Era como ver o reflexo da
POV: LUANA— É sério isso? Preferem deixar uma criança morrer por causa de dinheiro? — perguntei, sentindo meus olhos arderem de raiva.— Essas são as regras, Luana, e não vão mudar só porque você acha errado e tem a síndrome de querer salvar o mundo. — respondeu ele, mantendo o tom rude e arrogante.— Não sei por que ainda me surpreendo com o senhor… já fez coisas muito piores. — falei séria, antes de sair, batendo a porta com força.Saí dali como um furacão, sentindo meu corpo inteiro tremer de ódio. Estava esperando o elevador quando ele se abriu… e lá estava ele. O homem da recepção. Meus olhos encontraram os dele, e meu coração disparou, sem controle.“Quem é você?”, pensei, enquanto ele me olhava com aqueles olhos azuis que pareciam guardar segredos profundos. E, naquele instante, eu percebi o quanto a presença desse homem desconhecido me deixava desconcertada.— Está tudo bem, senhorita? — ele perguntou, me encarando com aqueles olhos azuis tão intensos que me deixavam cada vez
POV: LUANA— Acorda, Luanna. Você vai se atrasar para o trabalho. — ouvi a voz da minha mãe enquanto ela me balançava levemente.— Pelo amor de Deus… me deixa dormir mais um pouco. — resmunguei, puxando o cobertor e fechando os olhos novamente.— Anda, Luanna. Suas férias acabaram, e seu pai não admite atrasos. — ela disse, puxando meu cobertor com força.— Que saco. — me sentei na cama, coçando os olhos. — Hoje deveria ser feriado. — reclamei, levantando e andando até o meu closet.— Essa sua vida dupla vai acabar com você. — disse ela, séria, me observando.Franzi a testa, confusa.— Vida dupla, mãe? Que vida dupla? — perguntei, tentando entender onde ela queria chegar.— Essa sua rotina de balada no fim de semana e trabalho durante a semana. Você precisa largar essa vida, filha. Tem dias que você nem dorme direito. — disse ela, cruzando os braços com aquele olhar reprovador que eu conhecia tão bem.— Tá ótimo assim. Não preciso de mais nada. — respondi, entrando no banheiro. — Eu só
POV: LUANAFiquei ali, parada, olhando para a lua mais uma vez. Ela parecia sorrir para mim, como se entendesse tudo o que eu sentia.Naquele momento, soube que meu coração já não era mais meu. Ele pertencia ao homem que carregava segredos demais, dores que eu sequer poderia imaginar, mas que, naquela noite, sob a luz suave da lua, entregou a mim a única coisa que ainda era dele: o seu amor. E em meio a todas as incertezas que nosso relacionamento trazia, havia algo que eu sentia com absoluta certeza – meu amor por ele. Nada no mundo poderia mudar isso.(...)Passaram-se alguns dias sem que eu fosse até a ONG. Meu pai estava pegando no meu pé por causa dos estudos, e aquela semana era de provas na faculdade. Eu não podia vacilar. Precisava focar, estudar e garantir minhas notas. Mas, a cada noite, quando deitava na cama, o rosto de João invadia meus pensamentos, assim como seu sorriso triste, seu olhar perdido, seu corpo quente junto ao meu sob a luz da lua. Senti tanta saudade que p
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