Exilada após não aceitar um casamento arranjado, Rosely se vê obrigada a morar no interior da Irlanda, cuidando da fazenda do irmão falecido. Nesse cenário, ela nunca teria imaginado que iria se apaixonar, ainda mais por alguém que, inicialmente, detestava: um alfa solitário envolto em mistérios, mas que sempre aparece para ajudá-la com os ataques de criaturas sobrenaturais que a rodeiam.
Leer másAs primeiras estrelas começavam a surgir no céu quando ele lhe estendeu o buquê de belas rosas brancas.
– Oh, são lindas, Isaiah – Rosely disse com um sorriso enquanto as cheirava.
– Não tanto quanto você – respondeu o homem parecendo satisfeito.
Rosely viu o braço erguido em sua direção e o segurou, recostando o rosto em seu ombro enquanto a carruagem deslizava pela estrada de pedras, úmidas pelos costumeiros chuviscos de fim de tarde londrinos. Estavam noivos mesmo antes de conseguirem falar, e agora que o casamento se aproximava, haviam recebido permissão das famílias para se conhecer melhor.
Foi tirada de seus devaneios quando notou que estavam seguindo um caminho diferente do que conhecia, ergueu os olhos para questionar o noivo e recebeu um sorriso de canto.
– Desculpe-me, não fiz o convite devidamente – ele explicou, beijando a mão dela. – Trouxe um chefe parisiense que irá cozinhar especialmente para você esta noite.
Rosely piscou algumas vezes ao ouvir isso, sentindo um repentino incômodo, como um mau pressentimento, mas a essa altura, o mordomo já havia aberto os portões e acabou entrando na mansão, sem conseguir recusar-se.
Enquanto lavava as mãos no toalete, aquele pensamento não saia de sua cabeça, e ficou ainda mais desconfortável quando percebeu que estavam sozinhos.
– Pensei que seus pais jantariam conosco – ela murmurou, tentando não demonstrar seu nervosismo enquanto o observava por trás da luz de velas.
– Decidiram tomar um tempo para si mesmos – Isaiah respondeu calmamente. Voltou seus olhos ao mordomo que lhe servia vinho e acenou para que ele servisse também para a noiva.
“Não bebo vinho”, ela pensou em dizer, mas resolveu apenas fingir que tomaria para não aborrecê-lo, afinal, ele estava sendo deveras romântico naquela noite.
– E então, o faisão está do seu agrado? – Isaiah perguntou depois de algum tempo em silêncio.
– Sim – ela respondeu, tentando esboçar um sorriso.
Os talheres foram deixados ao lado dos pratos e o silêncio recaiu sobre eles novamente, sendo quebrado somente quando Isaiah ergueu-se e estendeu uma das mãos para que ela o seguisse, a outra ocupada com as taças de vinho. A guiou em direção à varanda, onde costumavam aproveitar o vento fresco das tardes de verão e passaram a fitar as estrelas.
– Você nem tocou no vinho – ele enfim, quebrou o silêncio enquanto lhe entregava a taça.
Rosely pensou por um tempo, fitando o vinho, respirou fundo e então, decidiu acabar com aquela situação incômoda. Deixou a taça de lado, e voltou seus olhos ao noivo.
– Devo ir – murmurou apressada.
– Mas, já? – Isaiah empertigou-se e a segurou pelo braço. – Porque não passa a noite aqui?
– O que? – ela exclamou a pergunta, surpresa. – De modo algum!
Sacudiu o braço, tentando se afastar, mas o aperto somente piorou. Olhou ao redor, pedindo ajuda ao mordomo silenciosamente e uma lágrima escorreu por seu rosto quando ele apenas lhe deu as costas, fingindo que nada havia visto.
– Por que tudo isso? – Isaiah retrucou demonstrando, enfim, quem realmente era. – Em breve serei seu marido, ora.
– Quando o for! – Rosely respondeu, elevando a voz também.
Quase não acreditou quando abruptamente ele a esbofeteou, fazendo-a desequilibrar e cair no chão. Ergueu a cabeça, a surpresa misturada ao medo em seus olhos enquanto tocava o lugar dolorido.
– Rosely, minha querida – ele disse, agachando-se para ficar perto dela. Acariciou seu rosto e esboçou um sorriso satisfeito ao vê-la tão quieta. – Boa garota.
E como ela permanecia em silêncio, ele continuou:
– Agora – disse, pegando-a nos braços. – Por que não tomamos um tempo para nós?
Ela não conseguiu dizer nada, estava entorpecida demais. Nem mesmo quando ele a levou para o primeiro andar e a deitou sobre a cama. Foi somente quando ele começou a abrir seu vestido que, enfim, conseguiu ter alguma reação, tentando se proteger.
– Pare com isso, Isaiah – pediu num tom choroso. – Por favor.
– Quietinha – foi a resposta dele, inclinando-se para beijá-la.
Lágrimas escorreram pelo rosto de Rosely ao sentir-se como um objeto nas mãos daquele homem, tristeza que logo deu lugar à raiva. Mordeu o lábio dele com força, quase arrancando um pedaço e assim que teve a chance, o empurrou para o lado, pronta para fugir.
Contudo, quando estava prestes a abrir a porta, sentiu seus cabelos sendo agarrados e seu corpo jogado na parede, bem em cima de uma escultura de vidro, que se estilhaçou com o impacto.
Um gosto amargo inundou sua boca e tossiu uma grande quantidade de sangue que molhou seus longos fios castanhos, agora desarrumados. Tocou um ferimento na barriga e notou o grande pedaço de vidro perfurando tecido, sujando-o de sangu*, seu sangu*.
E então, todo seu corpo estremeceu ao escutar a voz dele.
– Olha o que me fez fazer, porr*! – Isaiah a xingou.
Vendo que ele parecia prestes a avançar sobre si novamente, e com a adrenalina correndo por suas veias, utilizou uma cadeira como auxílio para se erguer, apanhou um caco de vidro do chão e apontou em sua direção.
– Fique longe de mim – gritou, encarando-o com seus olhos injetados de sangue. – Ou juro por Deus, eu te mato!
Como já esperava, Isaiah apenas riu, ignorando as palavras da noiva e logo estava avançando sobre ela, agarrando seus cabelos, porém, urrou de dor quando sentiu seu corpo sendo atingido pelo objeto afiado. Afastou-se, encarando a grande mancha de sangu* que se espalhava por sua camisa e se distraiu por um tempo enquanto tentava estancar o sangrament*.
– Eu vou te matar, sua vagabund* ! – exclamou furioso, ao voltar-se à noiva.
Contudo, para a sua surpresa, não conseguiu encontrá-la em lugar nenhum. A essa altura, Rosely já estava retornando ao térreo, deixando um rastro de sangue por onde passava, arrepiando-se toda vez que ouvia a voz dele xingando-a, mas não parou, continuou firme até deixar a casa de campo.
Cortou caminho pela mata, galhos rasgando suas roupas enquanto seus pés eram esfolados pela areia áspera e lágrimas de alívio vieram aos seus olhos quando conseguiu ver os trilhos de trem. Ouviu passos às suas costas, olhou para trás, e viu um vulto que a fez estremecer.
Estava prestes a correr quando suas pernas perderam as forças, e teria caído no chão se não tivesse sido segurada pelo homem que, à meia luz das lamparinas, conseguiu perceber que não era o noivo.
Era alto, corpo e rosto másculos. Mas o que realmente chamou sua atenção, foram os olhos heterocromáticos, recobertos por espessos cílios escuros, da mesma cor de seus cabelos rebeldes. Ambos ali, naquela posição, a fez lembrar das cenas dos livros românticos onde o heroi salva a mocinha.
Sensação que logo foi quebrada pela rispidez dele.
– Porr*, não tenho tempo para isso – resmungou, sua voz grossa, do tipo que causa arrepios.
– Rosely…Ela ouviu uma voz sussurrar seu nome. Piscou algumas vezes, confusa e demorou alguns segundos para perceber que era o parceiro.Sentou-se na cama, sentindo a respiração falha por conta da barriga volumosa e então, o viu: era Eslen, sentado na janela, recoberto pela penumbra, quase camuflado por suas roupas pretas.– Quer dar uma volta? – ele perguntou ao vê-la mais desperta.Rosely olhou para o lado, onde o marido deveria estar, se certificando que não era uma alucinação e então, tornou a encará-lo na janela.– Você deve estar ficando louco – resmungou mais para si do que para ele, mas mesmo assim, se aproximou da janela. Ele envolveu seu corpo com o manto real e seus olhos bicolores a fitaram, esperando por uma resposta.– Acho que estou ficando louca também – ela murmurou, subindo no umbral.E como se não pesasse nada, ele facilmente a ergueu, levando-a consigo floresta a dentro. Poderia usar sua velocidade sobre-humana, mas apenas caminhava um pouco mais rápido, mas o su
Com a aproximação do verão, as coisas pareciam estar ficando mais calmas. As primeiras colheitas davam frutos, o comércio efervescia no contato com os povos aliados – que passaram a transitar mais pelo reino –, e aos poucos, a pobreza diminuia exponencialmente. Inclusive os cofres reais também tornavam a encher.Naquele dia, Rosely estava cheia de energia, mesmo que estivesse andando com mais dificuldade depois de completar o nono mês de gestação, o que a estava deixando muito ansiosa. Não só ela, mas também, o rei e o próprio povo do reino.Aos poucos, sua distração acabou se tornando os estudos e sua nova obsessão: o fantasma no corredor.– Tem certeza de que isso é uma boa ideia? – Eslen perguntou, enquanto lia o amontoado de documentos que o enterraram no gabinete. – Seus pés estão muito inchados, você deveria manter repouso.– Estou gestante, não doente – Rosely explicou calmamente, suspirou fitando os pés que realmente doíam e então, ergueu os olhos de novo para o marido. – Al
– Quem diria, dona Rosely agora é a rainha – Eleonore comentou com um sorriso grande depois de ler a carta enviada pela patroa. – Deve ser legal viver em um conto de fadas.– Não seja tão ingênua – o marido resmungou, mesmo que, até então, estivesse apenas ouvindo o que ela dizia. – As coisas devem estar um inferno depois de um golpe de estado, mesmo que tecnicamente o trono fosse dele por direito. O sorriso sumiu do rosto dela.– Queria acreditar que finalmente ela estava tendo bons momentos. – murmurou, agora olhando para as próprias mãos apoiadas no colo.Millan abriu a boca, sem ter certeza do que deveria dizer, mas a conversa foi interrompida quando o pequeno Thomas surgiu na cozinha, carregando com dificuldade uma cesta de amoras. Ao seu lado, Charlotte o acompanhava, como sempre, com Sebastian em seu encalço.– Está com fome? – Millan perguntou com um grande sorriso enquanto pegava o filho nos braços. – Vamos lavar as mãos.Eleonore o viu se afastando, acompanhado por Sebasti
Rosely ouviu a decisão do marido e sorriu com orgulho, estava impressionada com o quanto ele vinha tomando boas decisões, melhorando a vida de seu povo sem ter que derramar sangue, ou mesmo usar a força. Os livros sobre diplomacia estavam sendo realmente úteis.Como de costume, retomou seu caminho pelos corredores do castelo, carregando seus pesados livros de feitiços. Acomodou-se com gazebo, sentindo o cheiro de pinho e abriu um antigo codex sobre fantasmas e aparições, lembrando-se do vulto que, constantemente retornava aos seus pensamentos.Era normal que lugares antigos tivessem espíritos, mas esse realmente parecia pedir ajuda.Foi tirada de seus devaneios quando uma moça se aproximou, enchendo uma xícara de chá e deixando-a sobre a mesinha rente à cadeira, e teria ido embora se não tivesse sido chamada. – Senhora? – questionou com um olhar acanhado. – Há algo mais em que possa ajudá-la?– Na verdade, há sim – Rosely concordou, sentando-se para observá-la. – Das servas, há algum
Rosely sentia seus ombros doloridos. Havia tanto em sua cabeça: o bebê chutando pela primeira vez, o veneno que ainda corria nas veias de seu amado, o medo de seus pais estarem certos… tantos problemas que a deixavam exausta. E para piorar, ainda precisava decidir se Bjorn era um aliado ou inimigo.Mal o dia amanheceu e já estava na loja de especiarias, feliz, pois, finalmente, havia conseguido preparar uma poção eficiente o suficiente para neutralizar o efeito de todas as toxinas.– Fico feliz em ajudar, mas preciso dizer que isso sairá caro – disse o alquimista depois de um tempo. – Digo, por conta dos altos impostos.– Impostos? – ela repetiu. – Pensei que numa vila tão pequena os impostos fossem menores.A verdade é que ela queria mais informações sobre o que o que havia ouvido na taverna.– Você é da capital, imagino – ele comentou com um sorriso de agastamento. – Isso é uma terra sem lei. Tenha os contatos certos e veja os olhos se fecharem para os seus delitos.E como ela apen
Rosely viu, com surpresa, como, mesmo assolado por uma variedade de sintomas causados pelo veneno, Eslen continuava a trabalhar como se nada tivesse acontecido. E diante disso, ela pensou consigo mesma que precisava fazer algo a respeito.Remexeu nos pergaminhos enviados por Carolle.E assim, se seguiu uma série de noites em claro em seu quarto de estudo, tentando encontrar um antídoto que conseguisse neutralizar todas as toxinas identificadas. Havia conseguido neutralizadores para quase todas elas, exceto quatro – que, por algum motivo estranho –, mesmo sabendo do que se tratava, os reagentes conhecidos não funcionavam.Estava tão frustrada. Contudo, não teve tempo de se desanimar, pois, um burburinho começou a soar pelos corredores. Deixou o quarto, parando apenas para prestar atenção no que as empregadas conversavam e arregalou os olhos ao perceber que elas estavam falando sobre o veneno. Aparentemente, o culpado por trazê-lo para dentro do palácio havia sido encontrado.Entrou no
Último capítulo