Mundo de ficçãoIniciar sessãoLaura é uma organizadora de casamentos dedicada, acostumada a lidar com noivos ansiosos e cerimônias grandiosas. Porém, ao organizar um casamento luxuoso na Ilha de Itaparica, ela se depara com um rosto familiar, que traz à tona um passado do qual ela tentou fugir. Dividido entre um compromisso seguro e uma história inacabada, Miguel precisa encarar a verdade sobre seus sentimentos. Presos em um resort à beira-mar na véspera de Natal, ele e Laura são forçados a confrontar feridas antigas, segredos enterrados e um desejo avassalador que nunca desapareceu. Perfeito para quem ama reencontros inesquecíveis, emoções à flor da pele e uma boa dose de romance irresistível!
Ler maisLaura foi quase cuspida do carro quando tentou sair com as caixas empilhadas até o queixo. Cambaleou, lutando para não desmoronar junto com a pilha instável. Uma delas deslizou, e ela conseguiu segurá-la no último segundo, soltando um riso nervoso junto com o suspiro de alívio. O salto fino enganchava em cada fenda do paralelepípedo como uma armadilha pronta para derrubá-la.
O resort se descortinava à frente como um cenário irreal. A fachada de vidro refletia o céu ensolarado, palmeiras inclinavam-se com a brisa, o ar úmido e fresco tocava sua pele, trazendo o cheiro de maresia. O som das ondas, praia do resort, quebrando em cadência firme, como um coração batendo ao fundo, trazia uma espécie de vertigem. Era lindo demais, quase inebriante. Laura sorriu sozinha. Feliz! Aquilo era mais do que um grande evento, era um dos trabalhos mais promissores da sua carreira. E, apesar do frio na barriga, a experiência lhe dava segurança. Ela não estava ali por acaso, mas porque era uma das melhores no ramo. — Eu consigo — murmurou para si mesma, ajustando a pilha nos braços antes de avançar pelo pátio irregular. Empurrou a porta de vidro com o quadril, enquanto o som animado das pessoas preenchia o espaço amplo e iluminado. No centro do saguão, uma enorme árvore de Natal brilhava com luzes douradas e vermelhas, toda decorada com enfeites sofisticados e laços de veludo. Ao redor, guirlandas enfeitadas com pinhas e fitas brilhantes cintilavam sob as luzes amareladas, enquanto renas douradas estavam estrategicamente posicionadas em um canto. Laura mal teve tempo de notar os detalhes. O peso das caixas parecia aumentar a cada passo, e ela se arrependeu de não ter pedido para alguém da equipe para encontrá-la na entrada para ajudar. Ao cruzar o espaço que a separava do balcão da recepção, não percebeu o homem que vinha em sua direção, bloqueando seu caminho. Ela desviou bruscramente para o lado, evitando a colisão, mas uma das caixas que escorregou de repente. — Droga! — murmurou, com dificuldade para abaixar sem derrubar o restante. — Deixa, eu pego. — A voz grave soou familiar. Ele se moveu rápido, recuperando o objeto do chão antes que ela pudesse reagir. Quando ela ergueu os olhos para encará-lo, uma onda de frio percorreu seu corpo. — Miguel? O nome escapou antes que pudesse pensar, fraco, quase inaudível. Ele paralisou, ainda segurando a caixa, e seus olhos castanhos encontraram os dela, cheios de surpresa e algo mais, algo que a fez prender a respiração. — Laura. Ele estava exatamente como ela se lembrava: alto, ombros largos, o cabelo levemente desalinhado. E aquele olhar que a fazia se sentir exposta, como se pudesse ver seu interior e ouvir seus pensamentos. — Uau! Isso é uma surpresa… — murmurou ele, estendendo a caixa para ela. — Pois é... surpreendente. — Laura engoliu em seco, pegando o objeto enquanto sentia as mãos tremerem levemente. O silêncio pairou entre eles por segundos que pareciam eternos. Miguel tomou a iniciativa e estava prestes a falar, quando hesitou ao ouvir seu nome ecoando à distância. — Bem… preciso ir. — Hesitou, antes de acrescentar. Laura assentiu com a cabeça. — Foi bom te ver, Laura. — V-você também. Ainda relutante, Miguel virou-se e saiu, os passos ecoando no chão. Mesmo depois que ele sumiu no corredor, Laura não teve reação. Continuou parada, o coração disparado como se tivesse corrido uma maratona, os olhos fixos no ponto onde ele desapareceu do seu campo de visão. Finalmente, no minuto seguinte, respirou fundo. Ajustou as caixas nos braços e tentando recuperar a compostura. O momento não poderia ser mais inoportuno para aquele encontro. Mas era hora de pensar em Miguel. A catastrofe emocional teria que esperar.Era um milagre! Um pequeno e precioso milagre. Um fragmento de memória, uma fenda aberta no tempo, como se uma janela tivesse se entreaberto para um passado distante. Por um instante, o brilho nos olhos dele rompeu o nevoeiro que o mantinha ausente havia tanto tempo.Laura quase não ousou respirar. O som rouco e hesitante da voz do pai encontrou um espaço profundo dentro dela, um lugar onde a esperança, apesar de tudo, havia se escondido. Frágil, mas viva. Era como se aquele simples chamado, aquela tentativa de lembrança, tivesse acordado algo adormecido não só nele, mas nela também.A emoção veio como uma onda inesperada. Misturava alegria, alívio e uma dor antiga, quase doce, que ela reconheceu de imediato. Era a saudade de tudo o que perdera e o espanto de perceber que, de alguma forma, algo ainda podia ser recuperado.— Pai? — sussurrou, inclinando-se devagar, o olhar fixo no rosto dele. — Você… você me reconhece? Sabe quem eu sou?As palavras saíram trêmulas, entrecortadas pelo
Laura sentiu seu corpo paralisado, dividida entre a vontade de se afastar e o desejo de acolher esses sentimentos que ainda eram um mistério para ela.Miguel a observou, seus olhos transbordando uma sinceridade angustiante.— Eu te procurei depois do casamento. Não podia deixar você ir. Não dessa vez. Não consigo simplesmente ver você se afastar novamente.Laura sentiu um aperto na garganta, e seu olhar se voltou para o chão.— Eu saí do resort tão frustrada, com tanta vergonha de mim mesma. Eu não queria causar problemas, Miguel. Não queria ser a responsável por estragar a relação entre você e a Helena. Foi um caos… e eu fui a causa disso.Miguel deu um passo à frente, olhando-a com intensidade.— Laura, você não precisa carregar essa culpa. Não era sobre você. Apesar do carinho que sempre tivemos, eu e a Helena nunca seríamos felizes como casal. — Ele respirou fundo, tentando segurar a emoção.Laura o encarou, ainda sentindo o peso da culpa.— E a Helena, como ela está? Ela me odeia
Era véspera de ano novo, Laura empurrava a cadeira de rodas do pai pelo amplo jardim da clínica, apreciando o suave reflexo da luz do entardecer. Ele parecia calmo, mesmo que sempre carregasse um olhar distante, típico de quem luta para se ancorar no agora.Ao redor, pacientes e familiares estavam reunidos, sentados nos bancos ou sob a sombra das árvores. Havia uma alegria contida no ar, uma mistura de festa e saudade. As vozes dos enfermeiros e cuidadores se entrelaçavam com risadas, cumprimentos carinhosos e música suave ao fundo — um ensaio para a pequena celebração que aconteceria mais tarde no salão principal, para dar as boas-vindas ao novo ano.Laura se posicionou em um cantinho do jardim, onde as luzes de pisca-pisca, abraçadas às árvores, começavam a criar um encanto mágico ao cair da noite. O ambiente se tornava mais calmo, e ela se inclinou levemente para ajeitar o cobertor nas pernas do pai. Ele a olhou, por um instante breve, parecendo enxergar algo além da rotina. Depois
Depois que Helena, de forma surpreendentemente, anunciou que não haveria mais casamento, o salão mergulhou em um silêncio desconcertante. Ela deu um passo para trás e devolveu o microfone com uma serenidade quase cruel, enquanto o murmúrio crescia entre os convidados como uma onda prestes a quebrar. Apenas ela e Miguel sabiam o verdadeiro significado daquelas palavras e quem era a pessoa por trás delas.Os rostos à frente se tornaram uma mistura de espanto e confusão. Era como se ninguém ali conseguisse processar o que havia acabado de acontecer. O som de cadeiras arrastando, vozes sussurradas e suspiros abafados preenchia o ar, mas para Miguel, tudo se dissolvia num zumbido distante. Ele permanecia imóvel com os olho fixos em Helena. A mente girava em torno das palavras que acabavam de desmontar, com um golpe seco, meses de preparativos, e falsas promessas. No entanto, em meio ao caos, algo dentro dele se tornou cristalino.Ele precisava encontrar Laura.Sem pensar, começou a se move
Os olhos de Helena se encontraram com os de Miguel, reluzindo de emoção enquanto ela atravessava o salão. Sua postura firme e os passos decididos mostravam que, finalmente, ela havia encontrado seu lugar. A sala, antes repleta de expectativa, mergulhou em um silêncio profundo. E antes que alguém tivesse a chance de protestar, ela abriu a boca e começou a cantar. Sua voz rapidamente ganhou força, preenchendo o ambiente com uma melodia que parecia ter sido feita sob medida para aquele instante. Todos estavam hipnotizados, como se, por um instante, o mundo inteiro tivesse parado para ouvir o que ela tinha a compartilhar.Depois de um tempo, Laura finalmente entrou no salão, e seu coração deu um tropeço ao presenciar a cena: Miguel e Helena estavam no altar. Helena o olhava com um brilho intenso nos olhos enquanto cantava. Laura ficou paralisada, com o olhar perdido no turbilhão silencioso que se formava dentro dela. Não sabia o que pensar ou o que esperar. Tudo que conseguiu sentir foi o
Helena estava ali. De pé, no corredor, a poucos passos da porta, imóvel, os olhos arregalados, o rosto pálido, como se o chão tivesse acabado de desabar sob seus pés. Laura sentiu o ar escapar dos pulmões. Por um segundo, nenhuma das duas conseguiu dizer uma palavra.Miguel, percebendo a súbita mudança no semblante de Laura, inclinou-se para o lado para ver o que havia acontecido. Quando avistou Helena, seu corpo enrijeceu. O silêncio que se instalou entre os três era tão denso que até o som distante das ondas parecia desaparecer.Pela expressão de Helena, não restava dúvida: ela tinha ouvido tudo. Cada palavra.— Helena… — Miguel começou, a voz falhando. — Deixa eu te explicar… por favor.Mas ela deu um passo para trás, como se o toque da voz dele fosse uma agressão. Nenhuma palavra escapou de seus lábios — apenas um olhar ferido, confuso e incrédulo, antes de se virar bruscamente e disparar pelo corredor.— Helena! — Miguel chamou, já correndo atrás dela.Laura ficou parada por um i





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