Capítulo 4

A brisa da noite trazia o cheiro salgado do mar misturado ao perfume das flores que circundavam a área verde do resort. Laura apoiou as mãos no parapeito de madeira da varanda, respirando fundo. Os nós de seus dedos ficaram brancos pela pressão do aperto, mas ela se recusava a ceder à onda de emoções que ameaçava transbordar.

As luzes do salão principal reluziam através das grandes janelas, enquanto o som abafado das risadas e da música chegava até ela, contrastando com o silêncio da noite. Do lado de fora, o mundo parecia mais calmo, quase indiferente ao caos que fervilhava dentro dela. Laura fechou os olhos, tentando convencer a si mesma de que alguns minutos seriam o suficiente para apagar a confusão em sua mente. Mas o peso no peito permanecia, implacável.

Os passos atrás dela eram suaves, mas ela os sentia a presença antes mesmo de ouvi-los. Um arrepio percorreu sua espinha quando soube, antes de se virar, quem estava ali.

— Você não deveria estar aqui. — Sua voz saiu mais áspera do que pretendia enquanto se virava para encará-lo. — Sua noiva e sua família vão notar sua ausência.

Miguel estava parado a poucos passos dela, as mãos nos bolsos, o olhar fixo no dela.

— Não dá pra eu ficar no salão enquanto você se esquiva desse jeito.

— Quem está se esquivando? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Só vim tomar um ar. E, honestamente, acho que você deveria voltar.

Ele deu um passo à frente, ignorando o tom cortante dela.

— Podemos conversar um minuto?

— Eu entro então, fique aqui pelo tempo que quiser. 

Ela se virou para sair, mas Miguel segurou seu braço obrigando-a a olhar para ele.

— Por que você fingiu que não me conhecia? Quando Helena nos apresentou…

Laura arregalou ou olhos, e depois desviou o olhar para o jardim iluminado.

— Porque era o certo a fazer. — Sua voz era firme, mas baixa. — Imagine o clima que ficaria se todos soubessem que o noivo e a organizadora do casamento já… — Ela parou, buscando a palavra certa. — Já tiveram um caso.

Miguel franziu o cenho, um sorriso amargo surgindo em seus lábios.

— Caso? Então foi isso para você?

Laura levantou o nariz meio centímetro, estreitou os olhos, mas não respondeu. Sentiu a pressão daquele olhar sobre ela, como se estivesse tentando ler seus pensamentos.

— Você está bem? — perguntou ele, mudando de tom. — Quero dizer, com a sua vida. O que tem feito todos esses anos?

Ela deu de ombros, forçando um sorriso que não chegou aos olhos.

— Estou bem, Miguel. Tenho trabalhado bastante organizando eventos como esse. Eu gosto e sou uma boa profissional. — Fez uma pausa, o olhar voltando a ele. — Parece que você também está ótimo. Estou feliz por você. — completou Laura, o tom ligeiramente mais frio do que ela pretendia.

Miguel ficou quieto, olhando para ela, tentando decifrar alguma coisa na expressão dela que ela não estava revelando em palavras. O desconforto entre eles era palpável, preenchendo o silêncio que se seguiu. Laura desviou o olhar, focando no brilho das luzes do salão enquanto ouvia o murmúrio da música ao fundo.

— Miguel! Cadê você? — A voz de Helena ecoou à distância, levemente ansiosa.

Miguel fechou os olhos por um instante, reunindo forças para se afastar. Seus dedos se moveram nos bolsos, inquietos, enquanto o silêncio entre eles parecia crescer. Quando ele finalmente falou, sua voz estava baixa e hesitante.

— Melhor eu voltar. Mas… não terminamos essa conversa ainda.

Ele deu um passo para se afastar, mas parou ao ouvir a voz de Laura.

— Miguel, por favor… — Ela deu um passo à frente, a voz era quase um sussurro. — Não diga nada. A ninguém. Você tem sua vida, e eu tenho a minha. Deixe o passado no lugar que está.

Miguel não respondeu. Ficou ali, parado por mais alguns segundos, as palavras dela ecoando dentro dele. O silêncio entre os dois parecia se alongar, tornando o momento ainda mais sufocante para Laura. Ele finalmente se virou, mas não antes de lançar um último olhar indecifrável, que a deixou ainda mais aflita.

Quando a presença dele desapareceu, Laura soltou o ar que não sabia que estava prendendo. O momento parecia ter durado uma eternidade, mas, ao mesmo tempo, era como se ele tivesse acabado antes de qualquer coisa ser realmente dita. Ela voltou a apoiar as mãos no parapeito, sentindo-se ainda mais sufocada do que antes.

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